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Após tarifa adicional à Índia, Trump ameaça sobretaxar quem importar óleo russo, caso do Brasil

Ordem executiva assinada pelo presidente americano cria adicional de 25% à Índia por compra de petróleo russo, mas governo dos EUA promete punir outros países pelo mesmo motivo

Agência o Globo
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Publicado em 6 de agosto de 2025 às 17h37.

Última atualização em 6 de agosto de 2025 às 18h09.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou hoje um decreto cumprindo a ameaça de impor uma tarifa adicional de 25% sobre os produtos exportados pela Índia para o mercado americano, elevando o total de tarifas contra país para 50%, mesmo nível imposto ao Brasil.

O decreto foi anunciado poucas horas após negociações entre os EUA e a Rússia sobre a guerra na Ucrânia não resultarem em avanços. Trump havia estabelecido 25% de "tarifa recíproca" para a Índia, assim como 10% para o Brasil.

O Brasil foi sobretaxado em mais 40% sob a justificativa de Trump de que o ex-presidente Jair Bolsonaro e big techs americanas sofrem perseguição do Judiciário brasileiro, totalizando uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros. O governo americano ainda abriu uma investigação sobre supostas práticas desleais do Brasil.

Os dois países são fundadores dos Brics — ao lado de China e Rússia —, alvo constante da retórica geopolítica de Trump. No caso da Índia, os 25% adicionais foram atribuídos ao fato de o país comprar petróleo da Rússia e, na visão de Trump, financiar indiretamente o esforço de guerra de Vladimir Putin na Ucrânia.

O decreto contra a Índia, no entanto, abre espaço para que Trump puna outros países que tenham relações comerciais na área de energia com a Rússia, caso do Brasil. Importadores brasileiros têm na Rússia 60% do diesel que chega ao país. Atualmente, 30% do consumo nacional é abastecido com diesel vindo de outros países, já que a Petrobras não consegue atender sozinha a demanda do país.

Um trecho do texto ameaça punir "qualquer outro país" importador de petróleo da Rússia: "O secretário de Comércio, em coordenação com o secretário de Estado e o secretário do Tesouro determinará SE QUALQUER OUTRO PAÍS está direta ou indiretamente importando petróleo da Federação Russa. Se o secretário de Comércio descobrir que um país está direta ou indiretamente importando petróleo da Federação Russa ele recomendará se e em que medida eu devo tomar medidas em relação a esse país, incluindo se devo impor uma taxa de imposto ad valorem adicional de 25% sobre as importações de artigos desse país", diz um trecho.

EUA tem déficit comercial com a Índia

Diferentemente do Brasil, que é deficitário na relação comercial com os EUA, a balança comercial está atualmente a favor da Índia, que teve um superávit de US$ 45,7 bilhões com os EUA em 2024.

''Constato que o governo da Índia está atualmente importando petróleo da Federação Russa, direta ou indiretamente. Assim sendo, e em conformidade com a legislação aplicável, os artigos provenientes da Índia importados para o território aduaneiro dos Estados Unidos estarão sujeitos a uma alíquota adicional ad valorem de 25%", diz a ordem executiva assinada pelo presidente americano e divulgada pela Casa Branca.

A nova tarifa — que será somada a uma sobretaxa específica de 25% por país, prevista para entrar em vigor nesta quinta-feira, dia 7 — começara a valer dentro de 21 dias, de acordo com o decreto assinado por Trump.

Uso político das tarifas

Esta é a segunda vez que o presidente americano lança mão de um motivo político para justificar o aumento de tarifas. A primeira foi no caso brasileiro. Na terça-feira, ao anunciar que aumentaria substancialmente a taxa paga pela Índia aos EUA, Trump afirmou que a Índia ''está alimentando a máquina de guerra ao comprar petróleo russo'' e não se importa com quantas pessoas na Ucrânia estão sendo mortas.

No caso das exportações brasileiras, a justificativa para a imposição de uma taxa de 50%, que passou a valer nesta quarta-feira, é o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), aliado do republicano, e ações judiciais brasileiras contra big techs, vistas pelo governo Trump como contrárias à liberdade de expressão.

Na semana passada, Trump anunciou taxa de 25% sobre as importações indianas, surpreendendo Nova Délhi após meses de negociações. Ele acusou o governo do primeiro-ministro Narendra Modi de se recusar a facilitar o acesso a produtos americanos e criticou sua participação no Brics.

O presidente dos EUA também expressou frustração com o líder russo Vladimir Putin, já que os esforços para negociar uma trégua com a Ucrânia avançaram pouco. Trump deu a Moscou um prazo até 8 de agosto para chegar a um cessar-fogo, sob pena de possíveis sanções, e ameaçou parceiros comerciais com as chamadas tarifas secundárias para desencorajar a compra de energia russa.

O Kremlin informou que uma reunião entre Putin e o enviado dos EUA, Steve Witkoff, realizada mais cedo nesta quarta-feira, resultou apenas em uma troca de “sinais”.

— Da nossa parte, em particular, alguns sinais foram transmitidos sobre a questão ucraniana — disse o assessor de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov, a jornalistas, sem entrar em detalhes. — Sinais correspondentes também foram recebidos do presidente Trump.

Ushakov acrescentou que as negociações, que duraram quase três horas, foram “úteis e construtivas” e também abordaram as perspectivas para o desenvolvimento das relações entre EUA e Rússia. Moscou aguardará o retorno de Witkoff aos EUA para relatar a Trump antes de comentar mais, acrescentou Ushakov.

Antes das conversas, Trump sugeriu que imporia tarifas adicionais a outros países, incluindo a China, que,  como a Índia, compra energia da Rússia.

— Nós vamos fazer bastante disso. Vamos ver o que acontece nos próximos dias ou semanas — disse o republicano a jornalistas.

Aliados da Ucrânia afirmaram que as compras de energia feitas por Índia, China e outros países sustentam a economia de Putin e enfraquecem a pressão sobre Moscou para encerrar uma guerra que já entra em seu quarto ano.

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