Agência de notícias
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 21h10.
A Venezuela iniciou, nesta quarta-feira, uma série de manobras militares em uma ilha na costa do país, em uma aparente demonstração de força ao governo dos Estados Unidos, que nas últimas semanas incrementou seu poderio militar na região do Caribe, sob alegação de combate aos cartéis da droga, e que afundou ao menos três embarcações.
Em entrevista coletiva em Caracas, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, afirmou que os exercícios “Caribe Soberano 200”, realizados na Ilha de La Orchila, incluem ações “de grupos de tarefas conjuntas aeroespaciais, forças especiais, de inteligência e de guerra eletrônica e terrestre”. A ilha, que abriga uma base naval venezuelana, está a cerca de 180 km da costa do país, e fica perto do local onde uma embarcação pesqueira foi interceptada por um navio americano, no sábado, um incidente duramente criticado por Caracas.
— Temos que lembrar o que significa o Mar do Caribe para nós — afirmou Padrino. — Ao ameaçar a Venezuela, eles também ameaçam o Caribe e a América Latina.
Ainda serão testados, de acordo com o ministro, sistemas de defesa e artilharia antiaérea, e estão previstos exercícios de infiltração aérea, marítima e terrestre, envolvendo embarcações e veículos de todos os tipos. Imagens divulgadas pela TV estatal mostraram veículos anfíbios, armamentos de fabricação russa e navios de guerra nos arredores da ilha — segundo o vice-almirante da Armada venezuelana, Irwin Raúl Pucci, serão empregados 12 navios militares, 22 aeronaves e outros 20 barcos da milícia especial naval.
— Haverá deslocamentos da defesa aérea com drones armados, drones de vigilância, drones submarinos — disse Padrino, justificando as manobras como uma resposta à voz “ameaçadora e vulgar” dos Estados Unidos. — Estamos aumentando nossa prontidão operacional para o Caribe.
As manobras foram anunciadas em um momento crítico das relações entre Estados Unidos e Venezuela, que pode ter impactos de segurança para toda a região.
Em agosto, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou o deslocamento de forças navais para o Caribe, sob pretexto de atuarem no combate a cartéis do tráfico de drogas na região. Imediatamente, sinais de alerta se acenderam na Venezuela, onde o presidente Nicolás Maduro é acusado de ser o líder de uma organização criminosa conhecida como Cartel dos Sóis, associada ao comando militar local, e há uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à sua captura — Caracas nega qualquer relação de Maduro ou seus comandantes com o grupo.
Desde então, ao menos três barcos acusados de serem ligados ao tráfico foram destruídos pelos americanos — em um dos ataques, no começo do mês, 11 pessoas morreram, o que levantou questões sobre a legalidade das ações dos EUA, inclusive por parte dos parlamentares de oposição a Trump. Além de seus navios de guerra, aeronaves de combate, como os caças F-35, foram deslocados para uma base em Porto Rico, um território americano no Caribe. Até o momento, a Casa Branca nega ter planos para derrubar Maduro.
Pelo lado venezuelano, o governo ordenou que suas Forças Armadas fossem colocadas em estado de alerta, e lançou uma campanha para que os cidadãos se juntem a milícias voluntárias, uma iniciativa que, segundo o Palácio de Miraflores, atraiu milhões de pessoas. Nos últimos dias, também foram convocados exercícios de treinamento básico para o emprego de armas de fogo e de táticas de combate. No sábado, esses treinamentos foram realizados em mais de 300 quartéis no país.
Para o ministro do Interior, Diosdado Cabello, em declarações feitas na semana passada, as movimentações americanas “não têm nada a ver com drogas”, mas sim “com uma mudança de regime, afirmando que seu país está pronto para uma “guerra prolongada”.