Príncipe saudita Mohammed bin Salman cumprimenta líder sírio Ahmed al-Sharaa observados pelo presidente dos EUA, Donald Trump, na Arábia Saudita (Bandar AL-JALOUD / Saudi Royal Palace/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 14 de maio de 2025 às 12h05.
Última atualização em 14 de maio de 2025 às 13h05.
Antes de pousar no Catar, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou a repórteres no Air Force One que seu breve encontro nesta quarta-feira com o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, na Arábia Saudita foi "ótimo", descrevendo-o como um "cara jovem, atraente. Um cara durão. Passado difícil. Um passado bem difícil. Guerreiro".
O encontro, um dia após Trump anunciar que suspenderia as sanções impostas contra o país do Oriente Médio, foi o primeiro em 25 anos entre um líder americano e um chefe de Estado sírio, por décadas submetida à ditadura liderada por Bashar al-Assad.
O encontro entre Trump e al-Sharaa aconteceu antes da participação do presidente americano em uma cúpula com altos funcionários de seis países árabes na capital saudita. Um funcionário da Casa Branca detalhou ao New York Times que a conversa entre eles durou cerca de meia hora. Além de troca de cumprimentos, os dois posaram para uma foto ao lado do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, anfitrião do evento diplomático.
Segundo um resumo sobre a reunião divulgado pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, Trump disse a al-Sharaa que ele "tem uma tremenda oportunidade de fazer algo histórico em seu país". O presidente americano também teria instado o líder sírio a tomar medidas para normalizar relações com Israel e a pedir a "todos os terroristas estrangeiros que deixem a Síria".
Durante o voo, Trump afirmou que a Síria poderia, em algum momento, aderir aos Acordos de Abraão, pactos de normalização das relações de Israel com alguns países árabes, como Emirados Árabes Unidos e Bahrein, assinados em 2020. Antes, porém, reconheceu que há muito a ser feito para a estabilização da Síria após a queda de Assad, em dezembro do ano passado.
Trump relatou ter dito ao líder sírio: "Espero que você possa aderir [aos acordos] quando [a situação na Síria] esteja endireitada", ao que ouviu: "Sim."
— Mas eles têm muito trabalho a fazer.
Na terça-feira, Trump anunciou que se encontraria com a liderança síria durante sua participação em um fórum de investimentos realizado pelo governo saudita. Ele disse que atenderia ao pedido de Salman e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que apoiou a luta contra Assad. O líder turco participou do encontro desta quarta por telefone.
— Há um novo governo que, com sorte, conseguirá estabilizar o país e manter a paz. É isso que queremos ver na Síria — disse Trump na terça-feira, acrescentando que tomou a decisão após conversas com Erdogan e Salman. — Ordenarei o fim das sanções à Síria. Ah, o que eu faço pelo príncipe herdeiro!
A janela de diálogo é uma reviravolta impressionante para al-Sharaa, que liderou um braço da al-Qaeda e chegou a ficar detido em uma prisão americana no Iraque, antes de romper laços com o grupo. Como líder rebelde, ele reuniu apoio de diversas facções, incluindo de inspiração jihadista sob a bandeira unificada do Hayet Tahrir al-Sham (HTS), que foi quem derrubou de fato o regime Assad após mais de uma década de guerra civil. Desde então, ele tenta moderar sua imagem.
O novo governo sírio tem tentado sobretudo remover as sanções internacionais persistentes à Síria para romper o domínio econômico sobre um país fundamental para a estabilidade do Oriente Médio. A notícia foi celebrada em Damasco, onde uma multidão se reuniu na emblemática Praça dos Omíadas.
— [O fim das sanções significa que] Washington aceitou as garantias da Arábia Saudita para legitimar a nova administração síria — afirmou Rabha Seif Allam, do Centro de Estudos Políticos e Estratégicos de Al Ahram, no Cairo. — Permitirá à Síria receber o financiamento necessário para reativar a economia, impor a autoridade do estado central e lançar projetos de construção.
O encontro foi recebido com dúvidas por Israel, aliado crucial dos Estados Unidos na região. O Estado judeu, que ocupa uma parte do território sírio nas Colinas de Golã, bombardeia com frequência o território sírio, como já fazia durante o regime de Assad, e desconfia das novas autoridades islamistas de Damasco que buscam reconstruir o país.