Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, durante reunião na Coreia do Sul (Andrew Caballero-Reynolds/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 30 de outubro de 2025 às 15h20.
Última atualização em 30 de outubro de 2025 às 15h25.
A pausa na guerra comercial, anunciada pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping, poderá ter efeitos nas negociações em curso entre o Brasil e os Estados Unidos, avaliam especialistas ouvidos pela EXAME. O acordo deve reduzir a pressão feita pelos agricultores americanos e a urgência dos americanos em obter terras raras, entre outros pontos.
"A trégua entre EUA e China cria um ambiente mais favorável para as negociações tarifárias entre EUA e Brasil, ainda que com nuances", diz Bruna Santos, diretora do programa de Brasil do think tank Inter-American Dialogue, sediado em Washington.
Para ela, o acordo com a China mostra que Washington sinaliza disposição para flexibilizar sua política comercial e reduzir tensões, o que pode abrir espaço para avanços com outros parceiros, inclusive com o Brasil.
“A trégua entre EUA e China reduz o ruído global e abre uma janela de 12 a 24 meses, durante a qual Washington tende a buscar estabilidade e novos acordos que reforcem sua rede de parceiros econômicos”, diz Santos.
“O momento é propício para o Brasil apresentar uma proposta mais sofisticada, focada em valor agregado e cooperação tecnológica, e não apenas na exportação de commodities”, afirma.
“Se a China vai dar acesso aos metais críticos por ano, isso também reduz a pressão para que o Brasil seja muito leniente nesta questão”, afirma Vinicius Vieira, professor de relações internacionais da FGV.
Vieira aponta ainda que o acordo com a China, que prevê aumento da compra de soja pelos chineses, deve conter a pressão feita pelo agro americano ao governo Trump.
Algumas entidades de produtores americanos, especialmente de etanol, têm feito campanha por mais tarifas contra o Brasil, para que o país abra seu mercado aos itens americanos e reduza barreiras de importação.
Ao mesmo tempo, o acerto com a China, maior parceiro comercial dos americanos, pode trazer um esfriamento dos debates sobre as tarifas, já que o país asiático era o principal alvo de Trump.
"O acordo pode reduzir a urgência dos EUA em negociar com o Brasil, já que a relação com a China absorve grande parte da atenção política e diplomática dos EUA”, afirma Santos
"Tudo dependerá, portanto, da capacidade brasileira de se mover rapidamente, demonstrar ambição industrial e posicionar-se como parte da solução para a diversificação das cadeias produtivas americanas, não como mero fornecedor de matérias-primas”, prossegue a diretora.
Vieira, da FGV, pondera que a China fez promessas vagas em alguns pontos, e que as medidas são de duração limitada, mas que permitiram a Trump dizer que havia obtido uma vitória.
“Talvez seja essa a lógica de Trump: muito foco no curto prazo, como um homem de negócios faz, em vez da visão estratégica de um estadista”, afirma.
A crise entre os dois países ganhou força após Trump, em julho, aumentar as taxas de importação sobre o Brasil, que chegaram a 50%, e impor sanções a autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao impor a taxa, Trump exigiu que o Brasil retirasse os processos na Justiça contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado em setembro por tentativa de golpe de Estado.
Por semanas, o governo americano se recusou a negociar com as autoridades brasileiras. O clima mudou após um encontro entre Lula e Trump na ONU, em setembro. Desde então, os dois presidentes falaram diversas vezes que houve "química" entre eles, o que teria aberto as conversas entre os dois governos.
No último domingo, 26, Lula e Trump se reuniram na Malásia e afirmaram que há espaço para acordos para reduzir a tarifa de 50%.
"Tive uma ótima reunião com o presidente Trump. Discutimos, de forma franca e construtiva, a agenda comercial e econômica bilateral. Acertamos que nossas equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra as autoridades brasileiras", disse Lula, após o encontro, que durou cerca de 45 minutos.
"Acho que seremos capazes de fazer alguns acordos muito bons que temos conversado, e acho que ao final teremos um relacionamento muito bom", disse Trump. "Eles podem oferecer muito e nós podemos oferecer muito."