Donald Trump, presidente dos EUA, em evento de assinatura de documentos nesta quarta-feira, 30 (Anna Moneymaker/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 30 de julho de 2025 às 19h36.
O aguardado aumento de tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil para 50%, esperado para 1º de agosto, veio antes do previsto, em proporção menor e com implantação adiada até a próxima semana. Uma lista de quase 700 itens isentos ajudou a criar a sensação de que o efeito será menor do que o esperado, mas as incertezas seguem em várias frentes. Muita coisa ainda pode mudar.
A lista de isenções ao aumento, e que seguirão com tarifa de 10%, representaram 42,3% do total das exportações do Brasil para os EUA em 2024, nas contas da Amcham, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Combustíveis de petróleo, aviões, minérios e suco de laranja escaparam da nova cobrança.
Para Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria Eurasia, a lista de exceções foi maior que esperado. "Estávamos apostando em algumas isenções agora e mais isenções negociadas nos próximos meses. Foi uma 'sinalização' mais suave do que a esperada", diz à EXAME.
Nos outros 57,7% que serão taxados em mais 50%, há itens importantes, como café e carne. A nova taxa é cumulativa às anteriores, assim, a carne passará de 26% para 76%, um percentual que deve inviabilizar as vendas para os americanos, como disse Roberto Perosa, diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), em entrevista à EXAME, na véspera do anúncio.
A esperança dos setores de fora da lista é que o atraso na entrada em vigor da nova tarifa, agora em 6 de agosto, abra espaço para mais conversas, que poderão ampliar a lista de isenções, e diluir ainda mais o efeito da nova cobrança.
A própria ordem executiva deixa espaço para isso. Trump diz no documento que pode modificar as tarifas, para cima ou para baixo, "inclusive à luz de informações adicionais, recomendações de autoridades de alto escalão ou mudanças nas circunstâncias".
"Se o Governo do Brasil retaliar aumentando as tarifas sobre as exportações dos Estados Unidos, aumentarei a alíquota ad valorem estabelecida nesta ordem em um valor correspondente", afirmou o líder americano.
Por outro lado, ressaltou Trump, "caso o Governo do Brasil tome medidas significativas para lidar com a emergência nacional declarada nesta ordem e se alinhe suficientemente com os Estados Unidos em questões de segurança nacional, economia e política externa descritas nesta ordem, poderei modificar ainda mais esta ordem".
O governo brasileiro já sinalizava que planejava seguir negociando mesmo após o anúncio das tarifas.
Trump, afinal, já reduziu taxas para outros países mesmo após emitir ordens executivas, como fez com a China, ou decidiu adiar por mais tempo a implantação das medidas. Vale lembrar que mesmo as tarifas extras contra o Brasil foram anunciadas pela primeira vez em 2 de abril e sofreram diversos adiamentos e reviravoltas desde então.
A negociação é difícil para o Brasil porque as demandas dos EUA são muito amplas e parte delas, como a retirada de processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, são consideradas inegociáveis por envolverem o direito à soberania nacional. Mas há espaço para concessões comerciais e eventuais realinhamentos geopolíticos, como a proximidade com a China e a Rússia.
Ao mesmo tempo, os EUA ampliaram as punições contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, sancionado pela Lei Magnitsky nesta quarta-feira.
Uma eventual reação firme do ministro e novos passos do processo contra Bolsonaro e seus aliados, como a condenação do ex-presidente, poderão ampliar a revolta de Trump e mexer novamente com as tarifas, que seguem dependendo muito mais de fatores políticos do que matemáticos e comerciais.
Estamos no começo — mais suave, talvez — de um processo de negociação. De modo mais amplo, as incertezas do Brasil são as incertezas do mundo, que passa pelo redesenho do comércio global e da diplomacia como conhecíamos.