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Investir em imóveis é ideia controversa, mas jamais ultrapassada — mesmo com Selic a 15%

A pedido da EXAME, a RE/MAX simulou cenários que envolvem não só o financiamento de um imóvel em 30 anos, como também uma aplicação dos valores correspondentes às entradas em títulos públicos

RE/MAX: 'O preço do imóvel e o custo do aluguel sempre se mantém crescente. A Selic, por outro lado, varia de acordo com fatores macroeconômicos. Com ou sem guerras acontecendo no mundo, o tijolo é um bem seu', Mozart Mattoso (Imagem gerada por IA)

RE/MAX: 'O preço do imóvel e o custo do aluguel sempre se mantém crescente. A Selic, por outro lado, varia de acordo com fatores macroeconômicos. Com ou sem guerras acontecendo no mundo, o tijolo é um bem seu', Mozart Mattoso (Imagem gerada por IA)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 25 de junho de 2025 às 15h26.

Última atualização em 25 de junho de 2025 às 16h56.

Historicamente, a casa própria é um objetivo comum para muitas famílias brasileiras. Para além de se livrar o aluguel, há quem acumule imóveis para obter uma renda através dos aluguéis recebidos de terceiros. Essa ideia, no entanto, pode causar certa controvérsia — mas tem bases sólidas.

A pedido da EXAME, a RE/MAX, rede internacional de franquias imobiliárias, projetou algumas situações envolvendo não só o financiamento de um imóvel em 30 anos, como também uma aplicação dos valores correspondentes às entradas em títulos públicos durante o mesmo tempo.

Foi considerado um imóvel vale R$ 600 mil e entradas de 30%, 40% ou 50% do valor, equivalendo a R$ 180 mil, R$ 240 mil e R$ 300 mil, respectivamente.

Em todas as situações, o valor final pago pelo imóvel chegaria a mais de R$ 1 milhão em 30 anos. Nesse mesmo período, no entanto, o imóvel valorizaria e custaria mais de R$ 3 milhões.

Cenário 1Cenário 2Cenário 3
Financiamento com Entrada de 30%Financiamento com Entrada de 40%Financiamento com Entrada de 50%
Valor de EntradaR$ 180.000,00R$ 240.000,00R$ 300.000,00
Tempo (anos)303030
Taxa de Juros (a.a.)11,51%11,51%11,51%
Taxa de Administração---
ParcelasR$ 3.981,43R$ 3.412,65R$ 2.843,88
Valor Final ParcelasR$ 1.433.313,41R$ 1.228.554,36R$ 1.023.795,30
Valor TotalR$ 1.613.313,41R$ 1.468.554,36R$ 1.323.795,30
Valor do Imóvel Estimado após PeríodoR$ 3.065.136,87R$ 3.065.136,87R$ 3.065.136,87

Para chegar aos números, foi utilizado um ajuste aproximado de 5,8% ao ano para o valor do imóvel, que é a valorização média em São Paulo nos últimos 4 anos segundo o Índice FipeZAP. Para estabelecer as taxas de juros do financiamento, analistas da RE/MAX fizeram uma média dos principais bancos (10,45% ao ano), acrescido da Taxa de Referenciamento (TR),estimada para esse período em 1,06% ao ano.

Para efeito de comparação, ao aplicar R$ 180 mil na compra de um título público (tesouro IPCA+), ao fim do prazo o valor saltaria para R$ 7,1 milhão. Para R$ 240 mil, o valor iria para R$ 9,5 milhões e, para R$ 300 mil, o valor passaria para R$ 11,8 milhões, ainda de acordo com cálculos realizados pela RE/MAX.

Caso o Valor de Entrada fosse aplicado em Tesouro IPCA+Compra de Título Público com 30% do valor do imóvelCompra de Título Público com 40% do valor do imóvelCompra de Título Público com 50% do valor do imóvel
Aplicação InicialR$ 180.000,00R$ 240.000,00R$ 300.000,00
Resgate em 20 anosR$ 2.090.923,22R$ 2.787.897,63R$ 3.484.872,04
Resgate em 30 anosR$ 7.126.411,19R$ 9.501.881,59R$ 11.877.351,98

Mesmo que os números mostrem que o rendimento num investimento é bem maior, além de não ter custos para manter uma casa, a maioria dos brasileiros ainda não larga a casa própria como investimento — mesmo a uma Selic a 15%.

O último Raio-X do Investidor Brasileiro, levantamento realizado pela Anbima, apontou que 74% população da população ainda considera a compra e venda de imóveis como um tipo de investimento.

Mas, afinal, por que o financiamento de imóveis ainda vale a pena?

Embora a Selic influencie as taxas de financiamento, ela não é o único determinante: o custo do funding e a concorrência entre bancos também impactam as condições oferecidas.

Em outras palavras, isso quer dizer que as taxas de juros dos financiamentos imobiliários não estarão a 15%, já que a proporcionalidade entre ambas as taxas não é de 100%.

No curto prazo, com uma Selic alta, Mozart Mattoso, diretor-executivo da RE/MAX, é enfático ao afirmar que o financiamento de um imóvel costuma valer mais a pena do que investir o montante da entrada em uma aplicação financeira.

“O rendimento do imóvel é sobre o valor total dele, mesmo que você ainda não tenha pago ele. Se soma a isso que você já vai poder morar na casa, alugá-la ou vendê-la”, explica.

Numa aplicação, o dinheiro se torna menos tangível, só sendo possível resgatá-lo após o prazo determinado.

Com a atual Selic, o financiamento vale especialmente mais a pena — inclusive do que comprar um imóvel à vista, se você não tiver pressa para quitar o bem. A explicação está justamente no bom momento da renda fixa nessa situação.

“Se você der uma entrada e deixar a diferença aplicada, você vai ter dinheiro para pagar as parcelas e ainda vai ter dinheiro de rentabilidade”, justifica o especialista.

Outros fatores podem também contribuir para a decisão de financiar ou não um imóvel. Entre eles, onde está localizada a casa que será financiada e quanto dinheiro a pessoa está disposta a despender em um aluguel.

Para quem deseja construir um patrimônio tendo rendimentos mensais, investir em imóveis para uma aposentadoria tranquila, o investimento em imóveis ainda é o indicado.

Agora, se a ideia é deixar o dinheiro parado, visando buscar um bom lucro daqui a 20 ou 30 anos, a aplicação a longo prazo pode ser a melhor escolha.

O trauma dos anos 1990

“Fato é que o preço do imóvel e o custo do aluguel sempre se mantém crescente. A Selic, por outro lado, varia de acordo com fatores macroeconômicos. Com ou sem guerras acontecendo no mundo, o tijolo é um bem seu”, afirma Mattoso.

A história macroeconômica do Brasil nos anos 1980 e 1990 foi especialmente marcada pela hiperinflação, fazendo com que a confiança no tijolo, hoje, ultrapasse limites técnicos, indo a um campo psicológico.

O pior momento da crise de inflação foi em março de 1990, com uma taxa de aproximadamente 80%.

Nesse mesmo ano, o Plano Collor, do governo do então presidente Fernando Collor de Mello, era implementado no país. Ele consistia no confisco de poupanças como resposta à hiperinflação. O plano congelou as contas bancárias e os depósitos acima de determinado valor por um certo período. O objetivo era reduzir a liquidez da economia e frear a alta dos preços.

A medida, no entanto, colocou em xeque principalmente pessoas de classes mais baixas, que dependiam dessas economias para a sobrevivência. Além do impacto financeiro imediato, o confisco gerou desconfiança no sistema financeiro e no governo, prejudicando a credibilidade das instituições públicas e frustrando planos de consumo e investimento da população.

Por outro lado, quem tinha seu patrimônio investido em imóveis se “safou”, de certa forma. Isso porque o valor investido no imóvel não estava depositado em contas bancárias ou poupança, e, portanto, não foi bloqueado pelo governo. O confisco atingiu apenas os recursos financeiros em bancos, como poupança, contas correntes, CDBs e fundos de renda fixa, mas não bens físicos como imóveis.

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