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FIIs de agências bancárias ainda fazem sentido? Com algumas mudanças, essas gestoras apostam que sim

Portfólios vêm se diversificando, mas apesar do fechamento de agências, elas não foram um mau negócio – e ainda encontram espaço na carteira dos fundos mais tradicionais do setor

Caixa: o banco estatal deixou de ser o principal locatário do RBVA11, dando lugar ao grupo de educação Cogna. (Germano Lüders/Exame)

Caixa: o banco estatal deixou de ser o principal locatário do RBVA11, dando lugar ao grupo de educação Cogna. (Germano Lüders/Exame)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 13 de junho de 2025 às 09h23.

Em meados de março, o RBVA11, fundo imobiliário da Rio Bravo, vendeu um imóvel que estava alugado para Caixa na zona central de São Paulo. A transação foi relativamente pequena, de R$ 9,4 milhões, mas coroa uma mudança mais profunda que vem acontecendo na classe que ajudou a popularizar os FIIs: os fundos voltados para agências bancárias.

O imóvel que era locado ao banco foi vendido para uma pessoa física – e com isso, a Caixa deixou de ser a maior locatária do RBVA11. Hoje, nenhum inquilino representa mais de 25% da receita contratada do fundo.

“O RBVA11 nasceu como um fundo 100% de agência, e agora deixa de ter um banco como principal inquilino, isso é muito significativo”, afirma Alexandre Rodrigues, gestor do fundo e sócio da Rio Bravo Investimentos

Lançado em 2012, o fundo da Rio Bravo nasceu junto com outro emblemático do Banco do Brasil, o BBPO11, que se tornou uma febre entre os investidores à época.

A operação consistia num sale and leaseback de mais de 60 agências do banco estatal, que vendeu os imóveis para passar a alugá-los por meio de contratos de longo prazo.

A categoria de fundos imobiliários, que tinha começado pouco menos de 20 anos antes principalmente voltada aos investidores institucionais, começava a ganhar tração com o investidor de varejo. A associação com a solidez do banco, o balcão de distribuição do BB e as características do contrato ajudaram a atrair o grande público.

“Foi a maior oferta de um fundo imobiliário de uma vez só. A Bolsa tinha cerca de 30 ou 40 mil investidores pessoa física e ultrapassou 100 mil com o TVRI11. Foi um marco muito relevante”, diz Adriano Mantesso, líder de mercado imobiliário na Tivio sobre o fundo da gestora.

A tese era de fato muito boa para o momento, explica Arthur Viera, professor especialista em FIIs na B3 Educação.

“No caso do fundo da Tivio, o inquilino era de primeira categoria, com um contrato atípico que oferecia um risco baixíssimo de o imóvel ficar vago”, diz.

Nesse tipo de contrato, não há revisão periódica e a multa em caso de término do contrato antes do prazo é igual aos aluguéis que ainda faltam

Hoje, o número de investidores em fundos imobiliários na B3 chega a quase 3 milhões de pessoas físicas – e o BBPO11 inclusive já mudou de nome, para TVRI11, em alusão à Tivio, gestora resultante de uma joint venture entre Bradesco e o Votorantim, que era gestor do fundo do BB

Ao mesmo tempo, as agências bancárias não são mais tão populares como eram antes. Em meio a digitalização, o número de agências das cinco maiores instituições bateu seu topo em 2015 e desde então vem caindo ano a ano

Nesse contexto, a diversificação de portfólio vem sendo cada vez mais valorizada em qualquer que seja o fundo.

“Nos últimos anos, grandes movimentações aconteceram nos fundos para garantir que todos os imóveis alugados possam receber qualquer que seja o varejo, de agência bancária a loja de departamento”, diz Vieira.

Na Rio Bravo, sai Caixa, entra Cogna

No RBVA11, da Rio Bravo, o processo de diversificação começou em 2018 quando o fundo saiu de 100% de exposição às agências para um portfólio de 17 inquilinos diferentes de 12 setores do varejo.

Mas engana-se quem pensa que as agências foram um mau negócio. Nos últimos sete anos, a gestora já realizou a venda de mais de 20 imóveis, totalizando cerca de R$ 220 milhões em volume negociado. Isso gerou R$ 70 milhões em ganhos de capital.

“Não temos preconceito com agência bancária. O que queremos é diversificação. Inclusive notamos que as agências são um ótimo produto de investimento, já que estamos vendendo com um bom retorno. São imóveis com uma ótima liquidez”, afirma Rodrigues.

Hoje, a Caixa representa pouco menos de 25% do portfólio do fundo e está atrás da Cogna, de educação, e é a maior inquilina. O Santander vem na terceira posição e representa algo próximo de 13%. Outras varejistas, como Renner, Centauro, GPA, Americanas, também constam atualmente na carteira.

“Não temos aversão a agências”, ressalta Rodrigues. Tanto que já ocorreu um movimento contrário – do varejo para banco.

Ele se refere a uma loja de rua da C&A, em frente ao shopping Leblon, no Rio de Janeiro, que foi recentemente transformada em uma agência do Itaú.

“Dentro deste imóvel, o banco não está fazendo uma agência tradicional somente para sacar dinheiro, mas o que chamam de investment center. O objetivo lá é fazer palestras sobre investimento e ser um ponto de encontro entre investidores”, explica.

Diversificação geográfica

No caso do TRVI11,  as iniciativas de diversificação começaram mais recentemente, em 2023, e hoje apenas 5% do portfólio já foi reciclado.

Recentemente, o fundo anunciou a venda de duas agências bancárias que estavam locadas para o Banco do Brasil, localizadas em Sorocaba, São Paulo, e Ponta Grossa, Paraná, por um total de R$ 20,5 milhões.

O atual esforço da gestora para o fundo é focar em outros imóveis de renda urbana — que inclui, entre outros exemplos, centros de conveniência, farmácias, centros de diagnóstico—, com uma maior diversificação do portfólio do TVRI11.

Mas, apesar do processo de renovação, o Banco do Brasil ainda ocupa muitos imóveis do fundo, que mantém contratos de locação típicos com vencimento em 2027.

[grifar]Adriano Mantesso afirma que o plano não é parar de apostar nas agências, e acrescenta que tem visto um sinal de que elas estejam “se reencontrando”, com um perfil diferente, menos transacional e mais de atendimento e consultoria para os clientes.

Ainda segundo o executivo da Tivio, as agências bancárias trazem uma diversificação geográfica importante.  “São, ao todo, 60 imóveis, que estão espalhados não só em São Paulo, mas também em outros estados e cidades do Brasil”, afirma.

Ao que tudo indica, hoje importa menos o setor do inquilino: o importante mesmo é a capacidade do imóvel de gerar uma renda sustentável.

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