Marketing

O que o Web Summit Lisboa revelou sobre o futuro da mídia?

Em ecossistemas que aprendem e se ajustam, marcas precisam menos de posts e mais de uma presença reconhecível para pessoas e algoritmos

O Web Summit 2025 deixa, assim, um recado inequívoco: o marketing abandona a lógica da atenção e busca merecer interação (Divulgação)

O Web Summit 2025 deixa, assim, um recado inequívoco: o marketing abandona a lógica da atenção e busca merecer interação (Divulgação)

Marc Tawil
Marc Tawil

Estrategista de Comunicação

Publicado em 13 de novembro de 2025 às 17h49.

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O marketing vive a sua maior virada desde o surgimento das redes sociais. O que se viu aqui no Web Summit Lisboa 2025, maior evento de tecnologia e negócios que terminou hoje, confirma que entramos numa era em que emoção e lógica algorítmica precisam coexistir.

Ou seja, a disputa não está mais em gerar o maior alcance, e sim em construir sistemas capazes de serem entendidos por humanos e interpretados corretamente por máquinas.

Interação passa a valer mais do que atenção, e significado pesa mais do que mensuração.

Essa mudança apareceu com clareza na fala de Toto Wolff, CEO e chefe de equipe da Mercedes-AMG Petronas Formula One Team.

Wolff lembrou que o valor da Mercedes nasce da união entre precisão absoluta e emoção genuína. “A velocidade é a essência”, afirmou. “Mas velocidade sem sensação não cria vínculo.”

A leitura dele expõe a base da transformação: tecnologia só importa quando produz significado. E significado, é bom lembrar, ainda é uma prerrogativa humana.

Don McGuire, CMO da Qualcomm, reforçou o ponto por outro caminho. Seu trabalho diário é traduzir engenharia sofisticada em narrativas que as pessoas compreendam e desejem.

McGuire quer que o consumidor olhe para um dispositivo e pergunte se ele é “movido por Snapdragon”. A frase, repetida no palco, virou símbolo dessa nova era: não basta funcionar, é preciso comover; não basta ser rápido, é preciso ser reconhecível.

Gurdeep Dhillon, da Contentstack, resumiu, em uma frase, a tese que atravessou a semana: “Contexto é a nova moeda digital”. Em outras palavras, o futuro não depende de prever o usuário, mas de entender por que ele se move.

A discussão ganhou corpo no painel da Pernod Ricard, ao revelar um problema que atravessa marcas globais: a IA ainda não “entende” identidade.

A companhia percebeu que nenhum gerador de imagem reproduzia o que torna Absolut reconhecível, a luz, a textura, a condensação da garrafa.

A resposta da companhia foi criar uma camada algorítmica própria, capaz de traduzir o DNA visual da marca em parâmetros que os motores de IA conseguissem ler. O objetivo não era inventar uma estética, mas proteger a que já existia.

A IA, ficou evidente no Web Summit Lisboa, não ameaça autenticidade. Expõe, porém, a mediocridade.

No palco dedicado à economia digital, Antonio Nakad, cofundador do NG.CASH, mostrou como essa lógica se desdobra nas marcas nativas digitais.

Para ele, num mundo em que a IA reduz barreiras técnicas e torna produtos parecidos, a diferença está na comunidade.

Marcas jovens crescem quando conversam com cultura e pertencimento, não com campanhas. A frase dele, “em 2026, vence quem distribui, não quem anuncia”, resumiu essa virada.

O futuro delas não é seguir: é pertencer.

É exatamente essa combinação entre emoção, intenção e identidade codificada que desemboca na transformação da mídia.

As plataformas deixam de ser vitrines estáticas e passam a operar como ecossistemas adaptativos, capazes de reorganizar conteúdo em tempo real, modular jornadas e aprender com cada microinteração.

O post isolado perde relevância. Ganha quem constrói sistemas narrativos contínuos, vivos, que respondem, ajustam e evoluem.

Marcas deixam de postar e passam a cultivar presença, como organismos que respiram e se adaptam.

A pergunta que sintetiza esse novo ciclo surge quase sozinha: como uma marca se torna compreensível para pessoas e, simultaneamente, inteligível para agentes digitais?

Manual de identidade já não basta. A próxima década exige uma arquitetura cognitiva princípios, ritmos, formas e comportamentos capazes de manter coerência em qualquer interface, seja um criativo humano, um modelo de linguagem, um agente ou um feed adaptativo.

O Web Summit 2025 deixa, assim, um recado inequívoco: o marketing abandona a lógica da atenção e busca merecer interação.

A mídia deixa a linearidade e entra num regime de adaptação contínua.

E as marcas deixam de ser mensagens e se tornam sistemas sensíveis, capazes de aprender e responder. No fim, permanece a constatação que guiou os melhores debates da semana: tecnologia escala, narrativa conecta.

Mas apenas o humano, agora ampliado pela IA, transforma isso em cultura.

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