Cena da campanha “Bichinhos NotMilk”, inspirada na icônica peça dos “mamíferos Parmalat” dos anos 1990, que gerou polêmica e foi suspensa pelo Conar após representação da Lactalis Brasil (Reprodução/YouTube)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 9 de julho de 2025 às 22h21.
Última atualização em 9 de julho de 2025 às 22h25.
A NotCo decidiu transformar a polêmica com a Parmalat em combustível para uma nova ação nas redes sociais. A foodtech chilena publicou uma carta aberta no Instagram afirmando que sua campanha sobre o NotMilk, suspensa pelo Conar após reclamação da Lactalis Brasil, “acabou gerando intolerância”, em referência às reações negativas — inclusive do setor de lácteos — e à intolerância à lactose, tema central da peça original.
Com visual limpo e linguagem direta, o texto reforça que a marca decidiu tirar o comercial do ar, mas provoca ao dizer que “milhões de views, compartilhamentos e comentários de todos os lados podem mesmo incomodar”. A NotCo ainda afirma que vê como missão “desafiar o status quo”, e encerra com a assinatura “NotMilk. 100% sabor. Zero lactose”.
A publicação, que já acumula mais de 5 mil curtidas e comentários, de certa forma, marca a continuidade da estratégia da empresa de levantar discussões sobre alternativas vegetais em meio à nostalgia de campanhas icônicas — neste caso, as dos “mamíferos Parmalat” dos anos 1990.
O comercial da foodtech, lançado no início de julho, foi alvo de representação por parte da Lactalis, licenciada da Parmalat no Brasil, que alegou "uso indevido de propriedade intelectual" e "desinformação sobre os malefícios do leite".
No último sábado, 12, o Conar concedeu liminar determinando a retirada imediata da campanha. Até o domingo, 13, o vídeo intitulado Bichinhos NotMilk ainda estava disponível no YouTube, mas foi removido posteriormente.
A NotCo confirmou na segunda, 14, ter sido notificada e informou que apresentará sua defesa por meio da assessoria jurídica. Em nota, destacou ainda que, "além da liberdade de escolha dos consumidores, existe uma demanda crescente por alternativas inovadoras e sustentáveis, o que reforça o propósito da marca de oferecer produtos que combinam sabor, nutrição, responsabilidade e tecnologia."
O processo segue em análise pelo Conselho de Ética do Conar.
NotCo publica carta aberta no Instagram (Reprodução/Instagram)
Nesta quarta-feira, 9, uma coalizão de produtores e laticínios brasileiros, incluindo a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) e a Viva Lácteos, publicou um comunicado veemente em repúdio à campanha da NotCo, que, segundo o setor, "difama o leite e desinforma a população".
As entidades exigem a "interrupção imediata da distribuição do conteúdo por parte das plataformas de serviços digitais, obedecendo à orientação de coibição de fake news," e também cobram "providências frente aos danos sofridos pelo setor produtivo."
A NotCo revisitou um dos maiores sucessos da publicidade brasileira para lançar uma nova fase da linha NotMilk. Inspirada na icônica campanha dos “mamíferos” da Parmalat, exibida pela primeira vez em 1996, a foodtech chilena apostou no humor e na memória afetiva para mostrar que o leite de origem animal não funciona para todos — e apresentar suas alternativas vegetais como opções funcionais e mais leves.
Criada pela agência David, com produção da O2 Filmes e trilha da Mr. Pink, a campanha trouxe adultos fantasiados como animais — em referência direta à peça original — que apareciam tristes e com a barriga inchada após consumirem leite de vaca. A transformação ocorria quando eles experimentavam o NotMilk: os personagens voltavam a sorrir, ganhavam leveza e se livravam do desconforto.
"Com o tempo, muita gente acaba descobrindo alergias, intolerâncias ou outras questões com o leite de vaca. É um assunto delicado, mas nada como o bom humor para ajudar a digerir tudo isso. Não estamos dizendo que beber leite é errado, mas definitivamente não é para todos os mamíferos", afirmou Renato Simon, diretor de criação da David.
Na ocasião, a diretora de marketing da NotCo no Brasil, Fernanda Schwarzstein, ainda destacou a nostalgia como uma poderosa estratégia. "Desperta emoções e fortalece a conexão entre marcas e consumidores. Não à toa, grandes marcas do mercado de alimentos e beleza, por exemplo, estão retornando com a venda de produtos icônicos da década de 1990."