Com a alta de preços, marcas de café precisam ajustar estratégias para reforçar vínculo emocional e funcional com os consumidores (Imagem gerada por inteligência artificial/Recraft/Arte/Exame)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 3 de junho de 2025 às 17h08.
Última atualização em 3 de junho de 2025 às 18h13.
Em um cenário de alta histórica nos preços do café, as marcas precisam reforçar estratégias que valorizem o vínculo emocional e funcional com os consumidores. Uma nova pesquisa nacional, realizada pela Ilumeo, consultoria com foco em dados, revela que 90% dos brasileiros notaram aumento nos preços, mas quase metade mantém a mesma frequência e a marca de consumo, indicando resiliência e fidelidade à categoria.
O levantamento, conduzido pela plataforma Delfos da Ilumeo com 400 consumidores de todas as regiões e faixas de renda, aponta que 48% não alteraram nem a quantidade nem a marca consumida, um indicativo da força da marca na construção de hábitos consolidados.
“A percepção de valor do café vai além do preço”, diz Diego Senise, diretor de pesquisa da Ilumeo. “Consumidores que tomam vários cafés por dia são os menos propensos a mudar seus hábitos”, complementa.
Para os profissionais de marketing, o desafio é claro: manter a fidelidade em um mercado pressionado por uma alta de preços acumulada de 80,2% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.
Entre os que mudaram de comportamento (52%), 12% optaram por marcas mais baratas, 17% reduziram a quantidade consumida e 23% fizeram as duas coisas: reduziram o consumo e trocaram de marca.
O impacto da alta nos hábitos de consumo varia conforme a classe social. Nas classes C, D e E, 62% mudaram de marca ou reduziram a quantidade, contra 44% nas classes A e B. Essa segmentação reforça a importância de ações de marketing diferenciadas para perfis de consumidores com sensibilidades distintas ao preço.
O estudo detalha que, entre as classes C, D e E, 13% migraram para marcas mais acessíveis, enquanto 28% reduziram quantidade e mudaram de marca. Nas classes A e B, o movimento foi menor, com 19% adotando essas duas estratégias.
"Um dado emblemático é que os consumidores mais intensos – aqueles que tomam vários cafés por dia, e que poderiam ‘tomar um cafezinho a menos’ para economizar – são também os menos propensos a mudar seus hábitos. Isso reforça o papel do café como um pilar afetivo e funcional no dia a dia”, afirma Senise.
A pesquisa também identificou as marcas mais citadas pelos consumidores: 3 Corações (34%), Pilão (21%), Melitta (16%) e Nescafé (13%).
No segmento de café em cápsulas, que já responde por 30% do consumo, a fidelização é expressiva: apenas 26% dizem testar novas marcas com frequência. Os demais se dividem entre quem consome exclusivamente uma marca (33%) e quem mantém uma principal, mas ocasionalmente experimenta outras (41%).
Do ponto de vista do mercado, a produção nacional sofreu com condições climáticas adversas, como estiagem e geadas, e ainda convive com a volatilidade cambial e global. Esses fatores pressionam os preços, tornando o cenário complexo para marcas e varejistas. A safra de café de 2025 deve crescer 2,7%, mas continua abaixo do recorde de 2020. Isso limita a oferta e mantém o preço elevado.
A pesquisa da Ilumeo, realizada entre 16 e 21 de maio de 2025, reafirma a necessidade do marketing se adaptar à sensibilidade do consumidor brasileiro em um momento de alta inflação, sem perder de vista a construção de relacionamentos duradouros.
“Metade dos brasileiros teve de abrir mão, de alguma forma, do ritual de tomar café. Do ponto de vista do marketing, este é o momento para as marcas mais acessíveis entrarem no radar de quem antes não as considerava, posicionando-se como uma escolha inteligente: manter a qualidade sem exigir sacrifícios”, afirma Senise.
Já as marcas premium, complementa o executivo, devem reforçar o valor simbólico do ritual do bom café, "apoiando-se no comportamento que os dados indicam: mesmo em tempos difíceis, esse é um hábito que as pessoas lutam para preservar."
Nesse contexto, profissionais de marketing podem apostar em estratégias que reforcem a identidade das marcas, segmentem públicos e ampliem o valor percebido, para reduzir o impacto das oscilações de preço e manter a categoria relevante.
“Além do posicionamento, vale explorar a dinâmica de canais: vendas com cashback por meio de parcerias com bancos, plataformas de benefícios ou grandes marketplaces colocam a marca diante de uma base nova e massiva de consumidores”, sugere Senise.
Outra possibilidade, segundo ele, é investir em modelos de assinatura. “O D2C por subscription pode garantir previsibilidade de receita e frequência de consumo. Se bem desenhado, beneficia os dois lados: a marca fideliza o cliente, e o consumidor sente que economiza sem abrir mão do seu café de sempre”, finaliza.