Líderes Extraordinários

Os quatro princípios do Papa Francisco sobre liderança

Reflexões que inspiram decisões conscientes em tempos de mudança e complexidade

Papa Francisco: ideias sobre realidade, tempo, unidade e totalidade influenciam lideranças globais. (Yasuyoshi Chiba/AFP)

Papa Francisco: ideias sobre realidade, tempo, unidade e totalidade influenciam lideranças globais. (Yasuyoshi Chiba/AFP)

Publicado em 19 de maio de 2025 às 11h00.

Em um mundo cada vez mais polarizado e incerto, a busca por modelos de liderança eficazes e humanizadores torna-se importante e necessária. Em meio a debates sobre autoritarismo versus democracia, isolacionismo versus globalização, uma voz se destacou por sua capacidade de oferecer perspectivas que transcendem fronteiras ideológicas e religiosas: a do Papa Francisco. Suas reflexões, frequentemente centradas em valores humanos fundamentais, são fontes de inspiração valiosas para líderes e cidadãos.

Em uma de suas diversas falas, o Papa Francisco compartilhou quatro princípios que podem nos ajudar a entender um país, uma cultura, uma empresa: a realidade é superior à ideia, o todo é superior à parte, a unidade é superior ao conflito e o tempo é superior ao espaço. Longe de serem dogmas religiosos, esses princípios ressoam como pilares da sabedoria humana, oferecendo uma bússola para a liderança contemporânea, que busca construir organizações mais coesas, éticas e com um impacto duradouro.

1. A realidade é superior à ideia:

A mente humana tem uma capacidade notável de criar modelos, de se apegar a convicções e de construir narrativas. No entanto, o princípio de que "a realidade é superior à ideia" serve como um lembrete crucial de que o sucesso de uma liderança eficaz reside na habilidade de confrontar essas ideias com a realidade concreta, com os fatos e com o feedback genuíno das equipes e do mercado.

Líderes que se agarram rigidamente a suas ideias preconcebidas, ignorando ou distorcendo a realidade para se adequar a seus modelos mentais, correm o risco de tomar decisões equivocadas e de se isolarem de perspectivas valiosas. Em contrapartida, líderes que cultivam a humildade intelectual e a tolerância para com opiniões divergentes demonstram uma abertura à realidade em sua totalidade. Eles priorizam a escuta ativa, a análise de dados concretos e a capacidade de adaptar suas estratégias com base no que observam, e não apenas no que idealizam.

A capacidade de reconhecer quando uma ideia não se sustenta diante dos fatos e de ter a coragem de mudar de curso é uma marca de liderança madura e eficaz. A realidade, em sua complexidade e nuances, é o terreno onde as decisões são testadas e onde o verdadeiro sucesso é construído.

2. O todo é superior à parte

Em face da crescente tensão entre isolacionismo e globalização, o princípio de que "o todo é superior à parte" nos convida a transcender as visões fragmentadas e a compreender a importância da integração, da colaboração e do bem-estar do sistema como um todo, em detrimento de interesses puramente individuais ou de pequenos grupos isolados.

Líderes que adotam uma postura isolacionista, seja no âmbito de suas empresas ou em suas visões de mundo, tendem a perder as oportunidades e os benefícios que a colaboração pode proporcionar. Da mesma forma, dentro de uma organização, quando silos departamentais se formam e os interesses de uma área se sobrepõem aos objetivos gerais, o potencial do "todo" é inevitavelmente diminuído.

Empresas com forte senso de propósito e responsabilidade social demonstram na prática a superioridade do todo sobre a parte. Elas compreendem que seu sucesso está intrinsecamente ligado ao equilíbrio entre o resultado financeiro, o bem-estar da comunidade, do meio ambiente e de seus diversos stakeholders. Desta forma, elas não apenas contribuem para um mundo melhor, mas também tendem a construir uma reputação mais sólida e sustentável.

3. A unidade é superior ao conflito

Em um mundo frequentemente marcado por divisões e polarizações, o princípio de que "a unidade é superior ao conflito" nos relembra que não se trata de ignorar as divergências ou de buscar uma homogeneidade forçada, mas sim de reconhecer que a capacidade de construir pontes e de promover o diálogo é essencial para o progresso e para a criação de ambientes saudáveis e produtivos.

Enquanto modelos autoritários tendem a suprimir o conflito através da imposição, eliminando a diversidade de opiniões, modelos democráticos, em sua essência, buscam construir a unidade através do debate, da negociação e do respeito pelas diferentes perspectivas. No contexto da liderança, um líder autoritário pode tentar eliminar o conflito silenciando vozes dissonantes, enquanto um líder eficaz compreende que a busca pela unidade não implica na ausência de desafios ou de debates. Pelo contrário, líderes eficazes são aqueles que possuem a habilidade de mediar conflitos, de facilitar o diálogo e de inspirar um senso de propósito comum que transcenda as diferenças individuais. Assim, eles constroem equipes mais coesas, resilientes e capazes de alcançar resultados extraordinários.

4. O tempo é superior ao espaço

Em um mundo obcecado pela instantaneidade e pela busca por resultados imediatos, o princípio de que "o tempo é superior ao espaço" nos convida a adotar uma perspectiva de longo prazo, a valorizar os processos, o crescimento gradual e a paciência na construção de resultados duradouros.

Modelos autoritários frequentemente buscam impor mudanças rapidamente e de cima para baixo, priorizando a velocidade sobre a adesão e a sustentabilidade a longo prazo. Em contraste, processos democráticos, embora possam parecer mais lentos e deliberativos, tendem a gerar resultados mais legítimos e duradouros, pois envolvem a participação e o engajamento de diversas partes ao longo do tempo.

Desta forma, líderes que compreendem a superioridade do tempo sobre o espaço estão dispostos a investir no desenvolvimento de suas equipes, a construir relacionamentos de confiança ao longo do tempo e a cultivar uma cultura de aprendizado contínuo, mesmo que os resultados não sejam visíveis da noite para o dia.

Existe uma tensão inerente entre os quatro princípios delineados pelo Papa Francisco – a realidade é superior à ideia, o todo é superior à parte, a unidade superior ao conflito e o tempo superior ao espaço. Líderes que priorizam a realidade sobre suas próprias convicções demonstram a humildade necessária para aprender e adaptar-se a um ambiente em constante mudança. Aqueles que compreendem a superioridade do todo sobre os interesses individuais cultivam a colaboração e constroem organizações mais resilientes, equilibrando resultados financeiros e impacto social positivo. Os que buscam a unidade em vez da exacerbação do conflito criam ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos, onde a diversidade de opiniões enriquece a tomada de decisões. E, finalmente, os que reconhecem a primazia do tempo sobre a pressa do espaço investem em um futuro sustentável, construindo legados duradouros.

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