Política externa: Brasil busca protagonismo com laços europeus e agenda pragmática. (Angelika Bentin/PhotoXpress)
Colunista
Publicado em 13 de maio de 2025 às 14h00.
Num mundo em veloz transformação, marcado pela revisão de alianças estratégicas e pela redefinição de esferas de influência, o Brasil encontra-se diante de um dilema: continuar como observador dos movimentos externos ou assumir uma postura mais ativa e assertiva no tabuleiro global.
As recentes alterações na postura dos Estados Unidos, com a adoção de políticas comerciais protecionistas e o fortalecimento da sua agenda industrial interna, estão reconfigurando as engrenagens da economia internacional. A imposição de tarifas generalizadas e os primeiros passos do chamado “Acordo de Mar-a-Lago” apontam para um reposicionamento profundo, em que a prioridade será o “Feito na América”, mesmo que isso custe o equilíbrio global. A China, por sua vez, responde com diplomacia econômica, avanço tecnológico e fortalecimento da sua presença em regiões estratégicas, inclusive na América Latina.
Esse novo cenário exige do Brasil mais do que boas intenções. Exige clareza de objetivos. Não basta mais celebrar acordos ou participar de fóruns multilaterais; é preciso desenhar e executar políticas de longo prazo que posicionem o país como agente relevante neste ciclo de transição.
A visita presidencial a Portugal e outros países da Europa Ocidental neste mês sinaliza um passo acertado. Reforçar laços com países europeus, particularmente com Portugal, porta de entrada natural para os mercados da União Europeia e tradicional parceiro brasileiro, pode ser uma via eficaz para diversificação comercial, aumento de investimentos bilaterais e fortalecimento institucional.
Além disso, o Brasil tem condições únicas de atuar como uma força estabilizadora entre as grandes potências, com sua matriz energética limpa, capacidade produtiva agroindustrial, mercado interno robusto e vocação para o diálogo internacional. Mas, para isso, precisa deixar de ser somente um “exportador de commodities” e começar a exercer influência nos temas que vão moldar o futuro: tecnologia, transição energética, segurança alimentar e regulação digital.
A política externa precisa ser pragmática, mas também ambiciosa. É hora de priorizar acordos como o Mercosul-União Europeia, atrair centros de pesquisa e desenvolvimento, promover o Brasil como hub de inovação para o Hemisfério sul e fortalecer a presença empresarial brasileira em mercados estratégicos.
Em tempos de tensão, o mundo valoriza países que oferecem estabilidade, escala e visão de longo prazo. O Brasil pode ser isso. Mas só será, se decidir jogar como protagonista, e não como espectador.