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Mesmo sem isenção de IR, LCI e LCA podem superar rentabilidade do CDB: veja comparações

Letras de Crédito, atualmente isentas, podem ser tributadas em 7,5% a partir do ano que vem; a depender da remuneração, ainda podem valer a pena

Briga na renda fixa (Imagem gerada por inteligência artificial)

Briga na renda fixa (Imagem gerada por inteligência artificial)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Editor de Invest

Publicado em 25 de setembro de 2025 às 15h59.

Se o investidor já ficava na dúvida entre investir em um título isento ou naquele CDB de alta rentabilidade, a tendência é ficar ainda mais dividido com mudanças que podem ocorrer a partir do ano que vem. A Medida Provisória 1.303, alternativa à elevação do imposto sobre operações financeiras (IOF), chega ao Congresso com uma proposta que promete reduzir a oferta de ativos que vinham conseguindo escapar da mordida do Leão.

O texto do deputado Carlos Zarattini (PT-SP), relator do tema, poupou as debêntures incentivadas da alíquota de IR, mas pesou a mão sobre as Letras de Crédito Agrícola (LCA) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), prevendo uma tributação de 7,5% sobre os rendimentos desses títulos, que hoje são isentos.

Em audiência ontem (19), na Comissão de Agricultura da Câmara, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o objetivo de tributar os ativos não tem viés arrecadatório, mas busca, sim, reduzir a uma diferença em relação à dívida pública.

"Como uma pessoa compra o título público do Tesouro, paga 17,5% e um outro título é isento?", indagou o ministro.

A Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) alerta para o impacto da tributação do LCI sobre o custo do financiamento habitacional. Segundo a entidade, a redução de ofertas desse tipo de título, deve restringir a oferta de crédito imobiliário e eleva taxas para o comprador final.

"No setor imobiliário, servem de lastro para financiamentos, fundamentais em um país onde poucas famílias conseguem comprar imóveis à vista", afirma Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research.

"Também se discute uma possível migração de recursos de LCIs e LCAs para CRIs e CRAs, que permanecem isentos. Esse movimento pode ocorrer, mas de forma limitada: LCIs e LCAs contam com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito [FGC], enquanto CRIs e CRAs não — além de apresentarem menor liquidez, tem maior risco percebido pelo investidor de varejo", complementa.

Como vai ficar a rentabilidade do LCI e LCA após a tributação?

Para a planejadora financeira CFP, Luciana Ikedo, se a escolha do ativo mais rentável já não era tão óbvia, a dúvida vai ficar ainda mais acirrada. Isso porque o próprio CDB, o ativo que mais disputa a atenção do investidor com as letras de crédito, também podem passar mudanças de tributação.

Hoje a alíquota varia de acordo com o tempo do investimento, de 22,5% (aplicação por seis meses) a 15% (por mais de dois anos). Mas o governo propõe uma taxa única de 17,5% independentemente do momento do resgate de aplicação.

Na simulação feita por Luciana, a planejadora compara a rentabilidade de uma letra de crédito que paga 95% do CDI a um CDB que remunera 100% do CDI. Se a isenção for mantida e as coisas continuarem como estão, o retorno líquido do LCI ou da LCA supera o do CDB, em um investimento de R$ 1 mil com a taxa Selic a 15% ao longo de todo o período da simulação (situação hipotética).

Caso a tributação de 7,5% seja mesmo aplicada às Letras de Crédito, a diferença de rentabilidade não é tão evidente. Principalmente se a cobrança de IR sobre os ganhos do CDB for mantida como está hoje. O retorno do LCI ou do LCA continuaria sendo maior, os os mesmos R$ 1 mil vão render R$ 47  a menos no horizonte de dois anos do que rendem hoje com a isenção de imposto.

Agora, se além da tributação das Letras de Crédito, a alíquota do CDB for fixada em 17,5% ao longo de todo o período de investimento, os dois ativos passam a ter uma cobrança fixa de imposto sobre rendimento. Observe que mesmo não sendo mais isento de IR e com rentabilidade menor, o LCI ou LCA ainda ganha do CDB, por conta da diferença de alíquota.

"Na renda fixa, ao contratar o investimento, é importante olhar para qual é a situação mais vantajosa hoje. Porque isso varia de acordo com interesse das instituições, necessidade de funding, não é algo estático. Por isso é importante comparar as taxas de retorno que estão sendo ofertadas naquele momento em que o investidor está fazendo sua aplicação", conclui Luciana Ikedo.

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