Minhas Finanças

Por que os cartões ainda serão mais usados que o dinheiro

Vice-presidente da MasterCard explica as estratégias para disseminar o uso de cartões de crédito e pré-pagos e também o celular como meio de pagamento no Brasil

João Pedro Paro, da MasterCard: o Brasil deve seguir o caminho dos EUA em termos de expansão dos meios de pagamento eletrônicos (Divulgação/Divulgação)

João Pedro Paro, da MasterCard: o Brasil deve seguir o caminho dos EUA em termos de expansão dos meios de pagamento eletrônicos (Divulgação/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2011 às 17h11.

São Paulo – O mercado de cartões é um dos que mais crescem no Brasil. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o volume de pagamentos eletrônicos no Brasil aumentou 576% nos últimos dez anos e alcançou 542 bilhões de reais. A cada três ou quatro anos, dobra o total de recursos movimentados via cartões. Estão em circulação no Brasil cerca de 648 milhões de plásticos – o que dá uma média superior a três cartões por habitante. O que mais impressiona é que esses números ainda são tímidos quando comparados com o de países como os Estados Unidos. Tanto os cartões quanto o dinheiro são responsáveis por pouco mais de 40% dos pagamentos feitos pelos americanos. Já no Brasil, cerca 60% do consumo das famílias é feito com dinheiro e 25% com cartão. Para João Pedro Paro, vice-presidente comercial da MasterCard do Brasil, não há motivos para que nos próximos anos o Brasil não caminhe para uma realidade mais parecida com a que se vê hoje nos EUA. "Os cartões são mais seguros, cômodos e limpos do que o dinheiro" diz. Em entrevista a EXAME.com, ele explicou quais estratégias vêm sendo adotadas pela indústria para incentivar pagamentos com celulares e cartões de crédito e pré-pagos. Leia abaixo os principais trechos da conversa:


Inovações tecnológicas

O celular está perto de virar uma realidade como meio de pagamento. Já fizemos uma parceria com a Vivo, a Redecard e o Itaú Unibanco e estamos testando essa forma de pagamento em São José dos Campos (SP). O serviço tem como objetivo atender estabelecimentos de delivery, táxis, consultórios médicos, sites de comércio eletrônico, entre outros. Funciona da seguinte maneira. O cliente pode pedir uma pizza, por exemplo, e fazer o pagamento pelo celular. Ele entra num programinha que está instalado no cartão do aparelho, digita uma senha, informa o número correspondente à empresa que vai entregar a pizza, preenche o valor e realiza o pagamento. A transação completa consome 30 segundos. Qualquer aparelho celular pode ser utilizado. Também é uma solução bem interessante para quem vai fazer compras pela internet. Ao invés de digitar o número de cartão de crédito num site, que é algo que muita gente não gosta, o cliente pode colocar todas as informações necessárias para o pagamento no próprio celular. Se alguém roubar o aparelho, não há problema nenhum. O software de pagamento está inserido no cartão do celular. Quando o cliente avisa a operadora que foi furtado, o aparelho automaticamente deixa de funcionar assim como o telefone deixa de servir como meio de pagamento. E o bandido precisa de duas senhas para fazer uma compra, o que é outra dificuldade. Na fase de testes, o número de problemas que tivermos com fraudes foi zero. Em breve, vamos lançar essa mesma solução em cidades próximas e, em mais um ou dois anos, a solução começa a ser massificada. O celular será outro instrumento de pagamento para o cliente. É ele quem vai escolher se usa o cartão ou o telefone. O preço será igual ao do cartão, algo como uma mensalidade ou uma anuidade. Já o lojista vai pagar um percentual de transação. Não mudará quase nada.

Cartões de crédito

Achamos que o segmento de cartão de crédito ainda tem um excelente potencial. No Brasil, há mais cartões de débito do que de crédito. O volume de transações realizadas é parecido, mas o dinheiro movimento via cartão de crédito equivale ao dobro do débito. A explicação para isso é que o cartão de crédito agrega mais valor. Vou lhe dar um exemplo. Lançamos o MasterCard ShowPass, que permite o uso do cartão como ingresso. É uma parceria com a Time For Fun (T4F) que incluiu shows como do U2. O cliente não precisa mais de um ingresso impresso para entrar no estádio, o que o desobriga de pagar taxa de entrega se fizer a compra pela internet ou pelo telefone O cliente também tem a comodidade de usar o cartão para entrar em catracas exclusivas da MasterCard. Esse tipo de vantagem favorece a substituição do dinheiro pelo cartão. Outro exemplo interessante é a parceria que fizemos com a TAM Viagens em que o cliente ganha vantagens na compra de pacotes turísticos. A cada 15 compras de qualquer valor pagas com um cartão Mastercard, o cliente que se cadastrar em nosso site pode imprimir um voucher que lhe dará direito a comprar dois pacotes da TAM Viagens pelo preço de um. A TAM Viagens passou de sexta para segunda maior agência de turismo do país durante os anos de vigência dessa promoção. A cada dia, o equivalente a três aviões cheios de pessoas viajam sem desembolsar nenhum centavo.


Regulamentação do mercado

É salutar quando o governo eleva de 10% para 15% o pagamento mínimo que precisa ser feito na fatura do cartão de crédito, por exemplo. A Mastercard inclusive possui um site de finanças pessoais que tem como objetivo ajudar os brasileiros a controlar suas despesas e a usar melhor o cartão. A gente participa das discussões na Abecs para o amadurecimento do mercado. Acho que o governo tem atuado no sentido de criar um ambiente saudável no longo prazo. O presidente do Banco Central foi ao Congresso na semana passada dizer que o brasileiro deveria poupar um pouco mais neste momento, aproveitando a alta dos juros. A gente acha que ele está certo. Não sei dizer se o governo deve anunciar novas medidas de regulamentação para setor em breve.

Juros do cartão

É impossível afirmar quando os juros do cartão vão cair. A carga tributária no Brasil é muito elevada. Não estou falando isso porque tenho interesse. Quem cobra o juro é o banco, e não a bandeira do cartão. Acho que a economia brasileira precisa evoluir para que tenhamos taxas mais parecidas com as cobradas no exterior. Vale lembrar que aqui o portador do cartão tem até 40 dias para realizar um pagamento e que não correm juros durante esse prazo. Lá fora, é diferente. Então não adianta apenas comparar o juro cobrado lá com o juro cobrado aqui. Não acho que o "balance transfer" [operação muito comum nos EUA em que um banco "compra" a dívida do cartão de uma pessoa com outro banco oferecendo juros menores] será a solução para baixar os juros. Aqui no Brasil, o Santander e o HSBC já tentaram ganhar mercado comprando a dívida de clientes de outros bancos no crédito rotativo, mas depois desistiram. Acho que o brasileiro é muito desconfiado e não acredita quando vem alguém e diz que ele pode tomar uma dívida mais barata. O "balance transfer" dá muito certo nos EUA, mas não dá na Europa nem sei se vai pegar no Brasil.

IOF

O aumento do IOF ainda não surtiu efeito. Quem volta ao país do exterior e olha para as malas que os brasileiros estão trazendo tem a certeza de que o IOF de 6,38% não inibiu as compras dos brasileiros lá fora. O problema é estrutural da economia. As coisas estão mais baratas no exterior. Quem sai do Brasil muitas vezes se sente até mais rico do que eles. E sabemos que isso não é verdade. Acho que o IOF pode começar a fazer efeito lá por volta de julho porque as pessoas já compraram as passagens sabendo que a conta do cartão virá mais salgada por causa do imposto. Mas por enquanto, o consumo continua a todo vapor lá fora.

Cartões pré-pagos: Um segmento em que há excelente potencial de crescimento são os cartões pré-pagos. Isso começou como um produto de nicho. A empresa dava um cartão pré-pago para o funcionário com o valor correspondente ao vale-refeição, por exemplo. Também há os cartões de viagem pré-pagos que podem ser carregados pelos brasileiros em diversas moedas para compras e saques no exterior. Nós entramos nesse segmento em março, com o lançamento do MasterCard Cash Passport. A vantagem é fixar uma taxa de câmbio antes de ir viajar, uma segurança que o cliente não tem quando usa o cartão de crédito. Somando todos os tipos de cartões pré-pagos, dá cerca de 4% das transações eletrônicas no Brasil. É muito pouco quando comparamos com os Estados Unidos, por exemplo. Apostamos no pré-pago principalmente como forma de atrair quem ainda não tem conta em banco – ou 40% dos brasileiros. Também estamos atrás daquela fatia de 55% da população que ainda recebe o salário em dinheiro – e não via crédito em conta ou cheque. Fizemos uma parceria com o banco PanAmericano e a empresa americana Rêv para lançar um cartão pré-pago que pode ser carregado nas lotéricas, nas lojas do PanAmericano ou por meio de boleto bancário. O cliente leva na lotérica o dinheiro que recebeu e carrega o cartão. Como cada carga custa só 2 reais, o cidadão tem um custo menor do que teria se abrisse uma conta corrente no banco. Por outro lado, o cartão oferece as funções básicas de uma conta corrente e pode ser usado para pagar compras em toda a rede de estabelecimentos credenciados pela MasterCard, para saques e também para transferências de dinheiro. É um primeiro passo na direção de bancarizar o brasileiro que não é cliente de instituições financeiras. Com o cartão é pré-pago, o cliente não precisa comprovar renda para contratá-lo – ao contrário do que acontece com o cartão de crédito. O cartão pré-pago também é uma excelente solução para o portador que teme perder o controle dos gastos. O pai, por exemplo, pode dar a mesada para o filho por meio desse plástico. Quando o crédito acaba, o filho tem que pedir mais dinheiro para o pai. É diferente do cartão de crédito, um produto em que o titular não consegue acompanhar e limitar tão facilmente os gastos dos dependentes.

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