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'Não é luxo, é luta': Sem poupança, mulheres recorrem a empréstimos para pagar as contas

Pesquisa do Instituto Locomotiva, encomendada pela 99Pay, mostrou que 76% das entrevistadas precisaram de crédito nos últimos 12 meses. Mais da metade delas usou os recursos para emergências financeiras

Pesquisa: mulheres têm menos reserva financeira e pegam mais crédito para pagar contar básicas (boonchai wedmakawand/Getty Images)

Pesquisa: mulheres têm menos reserva financeira e pegam mais crédito para pagar contar básicas (boonchai wedmakawand/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 6 de junho de 2025 às 09h54.

Última atualização em 6 de junho de 2025 às 10h18.

Imagine uma mãe solo que ganha dois salários mínimos, precisa cuidar dos filhos, trabalhar e aguentar firme com as contas da casa: o resultado é que não sobra dinheiro para guardar. Sem poupança, qualquer tropeço leva a busca por empréstimos.

Essa está longe de ser a exceção na economia brasileira. Segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva, encomendada pela 99Pay, 3 em cada 4 mulheres (76%) não tinham reserva financeira – contra 70% dos homens.

A pesquisa aponta que também 3 em cada 4 mulheres entrevistadas (76%) contrataram empréstimo pessoal nos últimos 12 meses – 19% delas recorreram ao crédito três vezes ou mais no último ano, e 68% já contrataram empréstimo pessoal mais de uma vez na vida.

“Elas ganham menos, e cada real precisa virar dois”, afirma Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

O crédito vira um airbag para coisas básicas. Segundo o estudo, 54% das entrevistadas, ante 52% dos homens, pedem crédito para emergências financeiras. Na sequência, aparece o pagamento de dívidas em atraso (32%), reformas em casa (9%) e compra de bens duráveis (4%).

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“Esses empréstimos são fundamentais quando o carrinho de supermercado vira uma montanha-russa de preços. Ou seja, o carnê paga arroz, feijão e, às vezes, o gás que cozinha os dois. Como diria aquela tia que faz milagre com o salário mínimo: Não é luxo, é luta”, diz Meirelles. E as próprias mulheres concordam: 87% afirmaram que o crédito “salvou o mês”.

Outro ponto é que o, com a disparada da inflação, o custo de vida ficou muito mais caro do que o aumento de salário e nem os juros altos, nos atuais 14,75%, são suficientes para impedir o pedido de empréstimo: 62% escolhem o empréstimo pela parcela que cabe no bolso, enquanto só 38% fazem conta de taxa.

“O juro dói, mas a prestação atrasada dói mais – e liga a luz vermelha de corte na distribuidora”, afirma o CEO da Locomotiva.

Educação financeira

Isadora Simons, gerente sênior de Operações da 99Pay, conta que, ao olhar para os dados relacionados ao produto de microcrédito que a casa oferece, nota-se que o serviço tem forte adesão entre públicos das classes C e D, com destaque para o público feminino (53%).

Entre os principais objetivos informados na jornada de solicitação estão: pagamento de contas, investimento em pequenos negócios, reformas e pagamento de dívidas, o que reforça as descobertas da pesquisa.

A disparidade salarial entre homens e mulheres é um dos fatores por trás do maior endividamento feminino. Em números, as mulheres ganham 20,9% a menos que os homens empregados no setor privado do país, de acordo com o Relatório de Transparência e Igualdade Salarial de 2024 do Ministério do Trabalho.

E outro fator também contribui para o dado da inexistência de reserva financeira entre as mulheres: a educação financeira (ou a falta dela). Não se trata de uma exclusividade feminina, mas o acúmulo de funções acaba reduzindo o tempo disponível para pensar num planejamento.

“A mulher muitas vezes tem jornada dupla, até mesmo tripla. Tem que cuidar dos filhos, da casa e acaba que estudar e buscar informação sobre educação financeira ficam em quarto plano. Mas a educação financeira ajudaria a mudar esse jogo”, diz Thaís Maiochi, planejadora financeira CFP pela Planejar.

A pesquisa do Instituto Locomotiva foi feita digitalmente por autopreenchimento, tem abrangência nacional, e foi realizada com 2.800 bancarizados, de 18 a 65 anos, que já fizeram empréstimo pessoal na vida. A margem de erro para o total da amostra é de 1,8 ponto percentual (p.p.), entre mulheres (2,4 p.p.) e entre homens (2,9 p.p.).

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