Donald Trump: presidente americano aplica tarifas recordes e desafia parceiros comerciais em nova ofensiva protecionista (Brendan Smialowski/AFP)
Redatora
Publicado em 7 de agosto de 2025 às 08h43.
As novas tarifas comerciais dos Estados Unidos entraram oficialmente em vigor nesta quinta-feira, 7, marcando mais um passo do presidente Donald Trump para remodelar as regras do comércio global. A partir da meia-noite em Nova York, tarifas mais altas passaram a valer para praticamente todos os parceiros comerciais dos EUA, após meses de ameaças e negociações conturbadas.
Segundo estimativas da Bloomberg Economics, as medidas elevam a tarifa média cobrada pelos Estados Unidos para 15,2% (bem acima dos 2,3% registrados no ano passado), no maior patamar desde a Segunda Guerra Mundial.
A decisão afeta diretamente parceiros comerciais como União Europeia, Japão e Coreia do Sul, que aceitaram tarifas de 15% sobre produtos como automóveis, evitando, por ora, a alíquota de 25% que seria imposta antes do acordo.
Outras nações, como Suíça e Índia, não conseguiram negociar termos mais favoráveis. A presidente suíça deixou Washington na quarta-feira, 6, sem sucesso em reduzir a tarifa de 39% aplicada ao país. Já a Índia teve suas tarifas dobradas para 50%, punição pela continuidade das importações de petróleo russo.
As negociações com México, Canadá e China seguem em uma trilha paralela. Trump também promete anunciar tarifas adicionais sobre setores considerados críticos, como indústria farmacêutica e semicondutores, o que pode ampliar ainda mais o alcance da nova rodada protecionista.
O Brasil também foi atingido pelas novas tarifas. A sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros entrou em vigor na quarta-feira, 6, e atinge cerca de 36% das exportações nacionais para os EUA, incluindo petróleo, veículos, carne, fertilizantes e café, segundo o Ministério do Desenvolvimento.
Em meio à crise diplomática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que só pretende dialogar com Trump quando houver disposição real do americano para conversar, e que não se submeterá a situações "humilhantes".
A justificativa da Casa Branca é que tarifas mais altas ajudarão a reduzir o déficit comercial e estimularão a volta da produção industrial para o território americano. Críticos, no entanto, alertam para o risco de inflação e escassez de produtos.
Os dados mostram que, até o momento, os preços ao consumidor seguem sob controle, mas há sinais de desaceleração no crescimento e no mercado de trabalho.
Os números de julho indicaram a maior revisão negativa no crescimento do emprego desde a pandemia, e o Produto Interno Bruto (PIB) americano perdeu força no primeiro semestre do ano.
Segundo Wendy Cutler, vice-presidente do Asia Society Policy Institute e ex-negociadora comercial dos EUA, os aumentos de preços são praticamente inevitáveis. “Muitas empresas formaram estoques antes das tarifas. Mas é quase certo que os preços subirão, porque manter margens mais baixas não será sustentável no longo prazo”, afirmou em entrevista à agência Bloomberg.
A própria arrecadação com tarifas bateu recorde. Dados do Tesouro dos EUA mostram que a receita com impostos sobre importações atingiu US$ 113 bilhões nos nove meses até junho, e quase 30% desse valor veio de produtos chineses, segundo análise da Bloomberg com base em dados do Censo americano.
O efeito das tarifas sobre a reindustrialização dos EUA ainda é incerto. Para Brad Jensen, professor da McDonough School of Business da Universidade de Georgetown, é improvável que o aumento da arrecadação venha acompanhado da expansão de empregos industriais.
“Se a produção doméstica aumentar, então não teremos arrecadação com tarifas, porque menos bens serão importados. Os dois não podem ser verdade ao mesmo tempo”, explicou.
Internamente, a política tarifária também enfrenta desafios legais. Parte das tarifas foi imposta com base em poderes emergenciais do presidente, mas a legalidade desse mecanismo vem sendo questionada nos tribunais. Para o professor Tim Meyer, da Duke University Law School, ainda que o governo tente apresentar uma narrativa de estabilidade, “a capacidade de implementação está seriamente em dúvida”.
Mesmo com as incertezas, Trump segue apostando nas tarifas como base de sua política econômica. Trump chegou a demitir Erika McEntarfer, chefe do Bureau of Labor Statistics (BLS), após a divulgação do relatório de empregos de julho, que mostrou a criação de apenas 73 mil vagas no mês e revisões negativas de 258 mil postos nos dois meses anteriores. Os números contrariavam a narrativa do governo sobre a força do mercado de trabalho e acirraram o debate sobre a condução da política econômica.
Trump também sugeriu que a alta na arrecadação com tarifas poderia financiar cheques de reembolso tributário para parte da população americana, embora não tenha detalhado como isso funcionaria na prática.
Os efeitos reais de sua estratégia devem começar a aparecer nos próximos meses e podem ser decisivos para os rumos da economia global.