Repórter
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 06h38.
Nesta quarta-feira, 17, os investidores voltam seus olhos para Washington e Brasília, onde a Super Quarta do Federal Reserve (Fed) e do Banco Central (BC) promete ser um divisor de águas para a economia global. Após meses de expectativa e pressões políticas intensas, os investidores aguardam com fervor a decisão crucial dos bancos centrais, em especial a do Fed: é o momento de cortar ou não as taxas de juros?
Depois de meses de especulações e pressões políticas, a expectativa é de que o Fed reduza a taxa de juros em 0,25 pontos percentuais (25 pontos-base), e que a autarquia sinalize um possível ciclo de alívio monetário. Porém, alguns analistas ainda apostam em um corte mais agressivo de 50 pontos-base, o que indicaria uma resposta mais forte a um risco iminente de recessão. As recentes quedas no mercado de trabalho e os dados de crescimento fraco nos EUA tornaram a decisão ainda mais urgente.
Por outro lado, o BC enfrenta em um cenário um pouco diferente. A política monetária no Brasil ainda mantém os juros altos, com expectativas sobre manutenção da Selic a 15%, e não há expectativas de mudança até, ao menos, 2026. A inflação brasileira, embora mais controlada, ainda exige cautela, com o Banco Central sinalizando que não fará cortes no curto prazo.
A expectativa para o Fed é de corte de juros pela primeira vez em nove meses.
Segundo economistas e analistas de mercado, a decisão de reduzir a taxa de juros em 0,25 pontos percentuais (25 pontos-base) deve ser anunciada após uma série de dados econômicos preocupantes.
O desemprego nos Estados Unidos subiu para os níveis mais altos desde 2021, e a criação de empregos em agosto foi muito abaixo das expectativas, com apenas 22 mil postos de trabalho adicionados à economia, o que ficou bem abaixo das previsões.
Além disso, uma revisão dos dados de mercado de trabalho revelou que, entre março de 2023 e março de 2024, a economia dos EUA perdeu 911 mil empregos, o que reforça as preocupações com uma desaceleração econômica.
Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics, sugeriu que os EUA podem já estar em recessão, o que torna a ação do Fed ainda mais urgente. Caso o banco central não tome uma atitude rápida, ele poderia ser responsabilizado pela deterioração da economia.
O presidente Donald Trump, que pressiona o Fed para reduzir as taxas de juros, também contribui para o contexto político difícil que os membros do Fed enfrentam. Trump tem sido um crítico constante do Fed, acusando a instituição de não cortar os juros de forma agressiva o suficiente, o que, segundo ele, poderia ajudar a impulsionar o crescimento econômico. Mas analistas alertam que o Fed precisa equilibrar essa pressão política com suas responsabilidades de controlar a inflação e estimular o emprego.
No Brasil, a Selic deve ser mantida em 15%, em um cenário amplamente antecipado por economistas e analistas de mercado. A decisão, que deve ser unânime pela terceira reunião consecutiva, é vista por analistas e economistas como essencial para garantir a convergência da inflação para a meta estabelecida pelo Banco Central.
A manutenção da taxa foi sinalizada pelo próprio presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em um evento realizado no final de agosto. Galípolo afirmou que a taxa de juros deverá permanecer elevada por um "período prolongado", pois a convergência da inflação para a meta segue de forma gradual. Nesse contexto, o mercado financeiro aguarda com atenção as comunicações do Banco Central, que poderão esclarecer o futuro da política monetária.
De acordo com economistas consultados pela EXAME, a manutenção da Selic em 15% é considerada uma medida cautelosa, adotada devido a um ambiente externo ainda incerto e aos efeitos defasados da política monetária. Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, destaca que a decisão reflete a prudência do Banco Central, pois os dados econômicos recentes têm mostrado evolução ambígua. Por um lado, a apreciação do real, impulsionada por um dólar mais fraco globalmente, ajuda a fortalecer a posição do Brasil. Por outro, as contas externas do país continuam a se deteriorar, com um aumento expressivo do déficit em conta-corrente, o que ainda exerce algum impacto no câmbio.
Mesquita também sublinha que, em razão da desaceleração econômica observada, especialmente no PIB do segundo trimestre, a expectativa é de que o Banco Central comece a flexibilizar os juros apenas em 2026. Ele alerta que, embora o início do ciclo de cortes esteja projetado para o primeiro trimestre de 2026, existe a possibilidade de uma redução antecipada, dependendo de uma valorização mais expressiva da moeda ou uma desaceleração econômica mais acentuada.