Empréstimos: mercado vê aumento de participação do crédito privado (Getty Images/Reprodução)
Repórter de finanças
Publicado em 14 de agosto de 2025 às 15h50.
Última atualização em 14 de agosto de 2025 às 17h39.
Pela primeira vez, as empresas brasileiras estão se financiando diretamente mais com os investidores do que com os bancos. Em junho deste ano, o estoque de títulos privados – como debêntures, CRI, CRA e FIDC – ultrapassou o volume de empréstimos bancários, segundo dados do Banco Central compilados pela Rio Bravo Investimentos.
A diferença é pequena, mas simbólica. Naquele mês, os títulos privados somavam R$ 2,205 trilhões, ou 16,7% do PIB, enquanto os empréstimos bancários chegaram a R$ 2,197 trilhões, o equivalente a 16,6% do PIB.
Trata-se de uma mudança estrutural, reflexo de um movimento mais amplo de desintermediação bancária, quando empresas e investidores conseguem se conectar diretamente, sem passar pelo crédito tradicional das instituições financeiras.
“Essa ultrapassagem só foi possível porque a desintermediação já vinha acontecendo no mundo dos investimentos. Agora, ela chegou também ao crédito”, afirma Evandro Buccini, sócio e diretor da Rio Bravo.
A velocidade do avanço chama a atenção. Em junho de 2015, os empréstimos bancários correspondiam a 23,6% do PIB, ante apenas 5,3% dos títulos privados – R$ 1,255 trilhão versus R$ 282 bilhões, respectivamente.
A mudança de perfil do investidor também ajudou a pavimentar o caminho. “Vinte anos atrás, o brasileiro tinha basicamente poupança e um pouco de título público. Hoje, com mais tecnologia e opções, o leque de alternativas cresceu muito”, diz Buccini.
E a virada é recente. Em junho de 2020, o estoque de empréstimos ainda era quase o dobro do volume de títulos privados. De lá para cá, a taxa Selic elevada – hoje em 15% – favoreceu a busca por títulos de renda fixa, pavimentando o caminho para o boom do crédito privado.
Essa demanda se refletiu também na oferta. Em seis anos, o número de gestoras especializadas em fundos de crédito privado quase triplicou, superando até as casas voltadas para ações, imóveis, multiestratégia e renda fixa tradicional.
“Com a Selic a 15%, muito dinheiro migra para fundos em busca de títulos de renda fixa”, ressalta Buccini. Ele faz a ressalva, contudo, que uma parte dos títulos privados ainda é encarteirada pelas tesourarias dos bancos.