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R$ 5 milhões por hora: como CEO da Pop Mart viu sua fortuna disparar com sucesso da Labubu

Popularidade global da boneca impulsionou a empresa atingir US$ 42 bilhões em valor de mercado e colocou Ning entre os maiores bilionários da China

Labubu: boneca que viralizou no TikTok é o epicentro da fortuna de CEO da Pop Mart (Reprodução)

Labubu: boneca que viralizou no TikTok é o epicentro da fortuna de CEO da Pop Mart (Reprodução)

Publicado em 18 de junho de 2025 às 05h21.

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Na era em que o TikTok dita o que é tendência e o que vai impactar resultados financeiros das empresas, um nome se destaca: Wang Ning, o CEO da Pop Mart.

A fortuna de Ning saltou dos US$ 14 bilhões em 2023 para US$ 22,7 bilhões no ano passado, segundo estimativas do mercado. Isso equivale a US$ 913 mil por hora, US$ 23,8 milhões por dia e US$ 167,3 milhões por semana.

No epicentro dessa ascensão está a Labubu, boneca que se tornou um dos maiores fenômenos de cultura pop nos últimos tempos e fez Ning a se tornar a 10ª pessoa mais rica da China, segundo a Forbes. Em 2024, a linha foi responsável por 23% da receita total da Pop Mart, um impacto direto que ajudou a empresa a alcançar um valor de mercado de US$ 42 bilhões, superando até a Vale (VALE3).

O fenômeno Labubu não é apenas um sucesso de vendas; é uma máquina cultural e financeira que, em um curto espaço de tempo, fez o CEO ascender ao topo do mundo empresarial.

O homem por trás da Labubu

Ning se formou em publicidade pela Universidade de Zhengzhou, na China, e começou a carreira profissional na Sina Corporation, uma das maiores empresas de internet do país.

Durante uma viagem para Hong Kong, inspirou-se nos modelos inovadores das lojas ao perceber como elas criavam um ambiente imersivo, onde os consumidores se sentiam engajados com produtos exclusivos. Em 2010, então com 23 anos, teve uma ideia que mudaria para sempre o mercado de brinquedos colecionáveis.

Para começar o negócio, ele pediu US$ 30 mil emprestado para a família. Nos primeiros anos, a Pop Mart enfrentou sérios desafios financeiros e operacionais. A empresa, que ainda operava como uma loja de variedades, tinha um posicionamento pouco claro e um foco de produtos muito amplo, o que dificultava a construção de uma identidade forte. Além disso, Ning lidava com alta rotatividade de funcionários e problemas de gestão de estoque, o que resultou em perdas financeiras significativas.

Em 2014, a empresa estava à beira da falência. Foi então que Ning tomou uma decisão crucial: se matriculou na Escola de Gestão Guanghua da Universidade de Pequim, uma tentativa de aprimorar seus conhecimentos empresariais enquanto tentava salvar o próprio negócio. Esse período de dificuldades ajudou o CEO a entender que era necessário adaptar-se ao mercado e focar nas necessidades emocionais dos consumidores.

A ideia que revolucionou a Pop Mart veio também de uma viagem: no Japão, ele se deparou com as máquinas de gashapon e os misteriosos sacos de surpresa (Fukubukuro), que os consumidores compravam sem saber exatamente o que estavam adquirindo. Foi ali que Ning percebeu o enorme poder psicológico da surpresa, da escassez e da coleção.

A aventura no Japão o inspirou a transformar a Pop Mart em algo mais do que apenas uma loja de brinquedos. A partir daquele momento, ele queria criar experiências de consumo.

Nasce um império

Em 2015, a Pop Mart passou a focar exclusivamente em brinquedos colecionáveis e lançou o modelo de "blind box". A ideia de vender caixas lacradas, em que o consumidor não sabia qual figura estava comprando até abrir o pacote, foi a virada de chave para a empresa.

No mesmo ano, a companhia faturou entre 10 a 20 milhões de RMB (aproximadamente US$ 1,5 a US$ 3 milhões) — alta de 900% se comparada com o ano anterior, quando faturou cerca de 1 milhão de RMB (aproximadamente US$ 150 mil na época).

Com o lançamento da linha de Molly, que consolidou a Pop Mart como uma marca de experiências emocionais, a empresa alcançou sucesso imediato. Em 2016, Ning começou a expansão doméstica em grandes cidades da China e, até 2019, já tinha aberto dezenas de lojas no país, além de ter começado a experimentar o conceito de "Robo Shops", máquinas automáticas de venda de "blind boxes".

Foi em 2020 que a Pop Mart iniciou sua expansão internacional ao abrir a primeira loja fora da China, na Coreia do Sul. Também naquele ano, no auge da pandemia de Covid-19, a companhia fez uma oferta pública inicial (IPO) na Bolsa de Valores de Hong Kong, que arrecadou aproximadamente US$ 676 milhões.

A movimentação deu à Pop Mart uma capitalização de mercado de cerca de US$ 7 bilhões no momento da abertura das ações, que passaram a ser negociadas sob o código 9992.

"As pessoas geralmente ficam muito felizes ao receber presentes de outras pessoas, e as compras podem ser vistas como um processo de comprar presentes para si mesmo," disse Ning em uma entrevista à Alphabet List em 2021. "O nível de felicidade ao receber um presente é, de certa forma, proporcional ao suspense. Adicionar um pouco de desconhecimento torna o momento ainda mais satisfatório."

Agora, os desafios de mais de uma década atrás parecem estar, de fato, no passado. Neste ano, a empresa se consolidou como líder global no mercado de brinquedos colecionáveis, segundo dados do TrendWatching, que monitora o setor, e deixou marcas icônicas como as fabricantes da Barbie, Hello Kitty e Transformers no rastro da Labubu.

'Bonequinha de luxo'

Quando a Labubu foi lançada, com suas orelhas pontudas e sorriso travesso, a Pop Mart deu início a um verdadeiro fenômeno cultural.

O impacto financeiro da boneca foi direto e avassalador. Em 2024, a linha gerou US$ 3,04 bilhões em receita, 23% do total da Pop Mart.

Com uma demanda global imensa, principalmente na China, Europa e Estados Unidos, a empresa viu seu valor de mercado disparar, superando a gigante brasileira Vale, que estava avaliada em US$ 41 bilhões. A Pop Mart então atingiu US$ 42 bilhões, colocando Ning no seleto grupo dos maiores bilionários da China.

As ações da empresa dispararam mais de 200% no ano até o momento, alimentadas pela popularidade de Labubu e pela crescente demanda global por produtos colecionáveis.

Grandes bancos de investimento, como Citigroup, Morgan Stanley e Deutsche Bank, elevaram as previsões para o preço-alvo das ações da companhia. O Citigroup elevou o valor para HK$ 308 (cerca de US$ 39,24), enquanto o Morgan Stanley definiu o valor das ações em HK$ 224 (cerca de US$ 28,54).

Para o JP Morgan, a Labubu já é considerada uma "super IP", o que significa que a personagem ultrapassou o status de simples produto colecionável e se tornou um fenômeno global com grande poder de geração de receita e engajamento de fãs. O banco projeta que as vendas internacionais crescerão 152% até 2025, com taxa de crescimento anual composta de 42% entre 2025 e 2027.

O Morgan Stanley, por sua vez, apontou que o crescimento da Pop Mart está intimamente ligado ao crescimento global de sua base de fãs e ao sucesso das colaborações com artistas e marcas globais. A previsão de lucro dobrado em 2025 é respaldada pela sólida resiliência da cadeia de suprimentos da empresa, que permite escala internacional sem comprometer a exclusividade do produto.

Ainda segundo os analistas do banco, parcerias com artistas e licenciamentos globais são essenciais para o crescimento da Pop Mart, ajudando a empresa a expandir seu portfólio e alcançar novos públicos.

Um exemplo recente dessa estratégia foi a parceria com Lisa, do grupo de k-pop Blackpink, que impulsionou ainda mais a popularidade mundial da Labubu nas redes sociais. O modelo de colaboração tem sido adotado por grandes empresas ao longo dos anos.

A Disney, por exemplo, teve um aumento de 34% em sua receita de licenciamento no primeiro trimestre de 2025, alcançando US$ 2,18 bilhões, impulsionada pelo sucesso de filmes e merchandise de títulos como "Moana 2", com previsões de um resultado ainda maior após o lançamento da live-action de "Lilo & Stitch".

Já a Universal Studios também viu um crescimento no licenciamento de produtos relacionados a filmes e parques temáticos, estimando US$ 118 milhões em receita de merchandising no mesmo período.

O crescimento da Pop Mart no mercado internacional é notável, mas não sem riscos. A pergunta que fica é: a empresa está criando um fenômeno de longa duração ou uma moda momentânea? Por enquanto, o mercado e os consumidores estão dispostos a pagar o preço de apostar em um modelo que, apesar de popular, pode ser passageiro.

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