OnlyFans: plataforma pode ser adquirida por consórcio (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 13h21.
O OnlyFans, conhecido por revolucionar o mercado de conteúdo adulto, pode estar prestes a mudar de mãos. A plataforma — que combina lucros bilionários, polêmicas e uma base de usuários gigante — está na mira de um consórcio de investidores que inclui nomes de peso do Reino Unido: os bilionários David e Simon Reuben, do setor imobiliário, segundo apuração do Financial Times.
A ideia seria participar de uma holding que investiria em uma Special Purpose Acquisition Company (Spac), criada pela americana Forest Road Company, com o objetivo de assumir o controle do OnlyFans. A Forest Road é conhecida por reunir investidores de alto calibre, como o ex-Disney Kevin Mayer e o ex-astro da NBA Shaquille O’Neal — e já havia mantido conversas com o atual dono da plataforma, Leonid Radvinsky, em 2022, numa tentativa frustrada de levá-la à bolsa.
Agora, os Reuben voltam ao radar das negociações. O valor total do investimento não foi divulgado, mas fontes disseram ao FT que a dupla poderia injetar “centenas de milhões de dólares” no consórcio.
Criado em 2016 pelos britânicos Tim e Guy Stokely, o OnlyFans tornou-se um fenômeno financeiro: mais de 4 milhões de criadores publicam conteúdo para uma base de 300 milhões de fãs pagantes. A empresa embolsa uma comissão de 20% sobre os pagamentos — quase o mesmo que Uber e Airbnb — e lucrou US$ 657 milhões antes de impostos no ano fiscal encerrado em novembro de 2023. A receita total no período foi de US$ 1,3 bilhão.
Com uma margem de lucro acima de 50%, a plataforma supera gigantes como Meta, Alphabet e Microsoft nesse quesito. Outro dado impressionante: o OnlyFans tem a maior receita por funcionário do mundo — US$ 37,6 milhões, à frente de Apple e Nvidia.
Mesmo com esses números, a avaliação de mercado estimada gira em torno de US$ 8 bilhões — considerada modesta quando comparada a empresas de tecnologia de receita semelhante.
A questão é que, apesar do sucesso financeiro, o OnlyFans convive com estigmas e desafios regulatórios. O modelo baseado em conteúdo adulto dificulta o acesso a instituições financeiras tradicionais e pressiona a reputação da marca. Em 2021, a empresa chegou a anunciar uma proibição a material sexual explícito, decisão revertida dias depois, após forte reação da base de criadores.
A própria empresa tenta se reposicionar. "O OnlyFans não é um site pornográfico”, alega. A companhia se define como uma plataforma paga de streaming voltada a atletas, artistas, celebridades e criadores em geral — ainda que o conteúdo adulto continue sendo seu principal motor.
Além das questões reputacionais, há riscos crescentes: a proliferação de plataformas concorrentes, o avanço da pornografia gerada por inteligência artificial e o endurecimento das leis sobre conteúdo adulto em diversos países.
Com patrimônio estimado em mais de US$ 15 bilhões, os irmãos David e Simon Reuben estão entre os mais ricos do Reino Unido e ocupam uma posição central no establishment britânico. A família tem investimentos que vão desde o clube de futebol Newcastle United até imóveis icônicos em Mayfair, como o Burlington Arcade. Também são grandes doadores do Partido Conservador e mantêm aportes em hotéis de luxo nos EUA.
Ainda segundo o FT, os Reuben não assumiriam o controle do OnlyFans, apenas participariam da estrutura de investimento organizada pela Forest Road. E mesmo essa decisão ainda não está sacramentada — as fontes ouvidas pelo jornal afirmam que os bilionários britânicos podem desistir da operação.
Embora nenhuma negociação esteja concluída, a venda de uma participação majoritária do OnlyFans está em andamento. A atual dona da plataforma, a Fenix International, controlada por Radvinsky, já iniciou o processo para vender parte relevante da empresa, embora pretenda manter alguma participação.
Se o negócio se concretizar, será a maior movimentação no setor desde a venda do grupo MindGeek, dono do Pornhub, para a canadense Ethical Capital Partners, em 2023.
Por enquanto, representantes do OnlyFans, dos irmãos Reuben e da Forest Road não comentaram o assunto. Mas o interesse crescente em uma plataforma altamente lucrativa, mesmo com seus dilemas, mostra que o mercado segue disposto a apostar no modelo que virou o jogo da indústria de conteúdo adulto. E que pode, mais uma vez, estar prestes a mudar.