Ecoparque da Orizon, em Paulínia: Pioneiro na geração de biometano, substituto do gás natural (Leandro Fonseca/Exame)
Redação Exame
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 18h08.
Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 18h51.
A Petrobras (PETR4) e a Pluspetrol realizaram a primeira importação de volumes de gás natural não convencional de Vaca Muerta, produzidos na Bacia de Neuquén, no coração da Patagônia argentina. A operação foi realizada na última sexta-feira, 3, em cumprimento ao acordo firmado entres as empresas e suas subsidiárias, Petrobras Operaciones (POSA) e Gas Bridge Comercializadora.
Segundo a Petrobras, foram importados 100 mil metros cúbicos de gás natural, produzidos pela POSA e pela Pluspetrol, com o objetivo de testar o arcabouço comercial e operacional da operação. O gás foi transportado via gasodutos, da Argentina à Bolívia e, de lá, até o Brasil.
Pelo contrato, a Petrobras pode importar até 2 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, na modalidade interruptível. Novas operações ocorrerão à medida que as empresas identifiquem oportunidades comerciais.
"Essa primeira operação é um marco relevante para a Petrobras, possibilitada pela integração das infraestruturas e que permite a conexão da produção própria da Petrobras na Argentina, por meio de sua subsidiária POSA, com o mercado nacional”, afirmou a diretora de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Angélica Laureano.
Vaca Muerta é uma das maiores formações de hidrocarbonetos não convencionais do mundo. Estima-se que a área abrigue a segunda maior jazida global de gás de xisto e a quarta de petróleo não convencional.
A produção em Vaca Muerta utiliza o fraturamento hidráulico — técnica chamada de “fracking” — que permite extrair petróleo e gás aprisionados em rochas profundas. Essa operação envolve a perfuração vertical e horizontal do solo, seguida da injeção de água, areia e aditivos químicos sob alta pressão para liberar os combustíveis.
A formação rochosa, a cerca de 3 mil metros de profundidade, é considerada pelos especialistas tão promissora quanto a Bacia do Permiano, nos Estados Unidos — referência mundial no setor.
Para viabilizar o escoamento da produção de Vaca Muerta, a Argentina investe em projetos estratégicos, como o gasoduto Néstor Kirchner, de 600 km. A primeira fase já está em operação, ligando Vaca Muerta à província de Buenos Aires, enquanto a segunda etapa prevê a expansão até Uruguaiana (RS), na fronteira com o Brasil, abrindo caminho para a exportação de gás argentino ao mercado brasileiro.
A parceria com o Brasil pode ser estratégica para os dois lados. O gás argentino ajudaria a diversificar a matriz energética brasileira e reduzir a dependência do gás boliviano, cuja oferta está em declínio. Para a Argentina, o Brasil representa um mercado robusto e uma fonte de divisas.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda financiar parte da obra com contrapartida de fabricação de tubos por empresas brasileiras, em um projeto orçado em cerca de US$ 820 milhões.
O Vaca Muerta Oleoduto Sul (VMOS) é um megaprojeto de mais de US$ 3 bilhões, incluindo um oleoduto de 440 km e um terminal capaz de receber navios VLCC, aumentando as exportações de petróleo da Argentina em cerca de US$ 14 bilhões anuais a partir de 2027. O financiamento envolve cinco grandes bancos internacionais e 14 instituições, totalizando US$ 2 bilhões. Empresas como Techint, Sacde e Técnicas Reunidas participam da construção, e o projeto recebeu incentivos fiscais e cambiais pelo RIGI.
Apesar do potencial econômico, a técnica de fracking usada em Vaca Muerta gera críticas ambientais, como contaminação de solo, água e ar, emissões de metano e tremores de terra na região de Neuquén.