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'O sussurrador de Trump': como Tim Cook fez a Apple escapar das tarifas

Apple aposta em US$ 100 bilhões de investimento nos EUA para evitar tarifas e impulsionar crescimento, enquanto Wall Street reage positivamente à estratégia de Tim Cook

Tim Cook, CEO da Apple: liderança em meio a escrutínio crescente do governo chinês  (Leandro Fonseca/Exame)

Tim Cook, CEO da Apple: liderança em meio a escrutínio crescente do governo chinês (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 7 de agosto de 2025 às 11h14.

O CEO da Apple (AAPL), Tim Cook, conseguiu uma vitória sobre as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que entraram em vigor na quarta-feira, 6. Enquanto diversos países e empresas no mundo todo sentiam na pele os impactos iniciais do "tarifaço",  Trump anunciou que a fabricante do iPhone se comprometeu a fazer um investimento de US$ 100 bilhões nos EUA, em um movimento para adquirir mais componentes americanos e, assim, evitar futuras taxações para seus dispositivos.

O anúncio animou Wall Street e as ações da Apple subiram 5% na quarta, registrando a maior alta em quase três meses. Uma boa notícia para Cook, que esteve sob escrutínio nos últimos meses, em especial pela demora da companhia em colocar em prática as promessas que fez sobre inteligência artificial (IA) no ano passado. Pesavam também os temores de que as tarifas poderiam encarecer o produto mais popular da empresa: o iPhone.

Com a relação mais próxima de Trump, Cook consegue aliviar meses de tensão. No começo do ano, o presidente americano criticou a estratégia de Cook de aumentar a produção de smartphones na Índia, afirmando ter "um pequeno problema" com o CEO. Na quarta, o executivo achou uma forma de agradar Trump ao presenteá-lo com um troféu simbólico personalizado com ouro 24 quilates e vidro. Tudo "made in the US".

'O sussurrador de Trump'

Fabricar iPhones nos Estados Unidos, como foi sugerido inicialmente por Trump, poderia aumentar significativamente o custo dos dispositivos, com análises apontando que o preço do iPhone poderia triplicar para US$ 3.500, tornando esse modelo de fabricação economicamente inviável. E a estratégia de Cook de expandir a fabricação de componentes e de realizar investimentos na cadeia de suprimentos dos EUA oferece uma folga para a companhia, sem a necessidade de mudanças drásticas no modelo de negócios da Apple.

A abordagem de Cook, segundo analistas do mercado, também demonstra sua habilidade em navegar por um ambiente político complexo. O CEO tem sido frequentemente chamado de "sussurrador de Trump" por sua capacidade de engajar diretamente com o presidente por meio de telefonemas, reuniões e anúncios estratégicos. O relacionamento já gerou benefícios anteriormente, como isenções de tarifas bilionárias sobre produtos da Apple fabricados na China durante o primeiro mandato de Trump.

Na quarta, Trump afirmou que companhias como a Apple "estão construindo os Estados Unidos" e ficarão isentas das tarifas — o que pode ajudar a gigante de tecnologia a economizar milhões de dólares em importações. No último trimestre, a companhia reportou US$ 800 milhões em despesas tarifárias, com projeções de US$ 1,1 bilhão para o trimestre que se encerrará em setembro.

O compromisso total de investimento da Apple nos EUA agora é de US$ 600 bilhões (acima dos US$ 500 bilhões anunciados em fevereiro). Entre as principais iniciativas estão a fabricação de todo o vidro de cobertura do iPhone e do Apple Watch em território americano e colaborações expandidas com empresas como a Samsung, que fabricam chips nos EUA.

O que esperar da Apple?

O compromisso de investimento da Apple nos EUA ainda ajuda a empresa a mitigar outros desafios comerciais, como o aumento das tarifas de 50% sobre a Índia, onde a Apple monta a maioria dos iPhones vendidos nos EUA.

O Goldman Sachs, por exemplo, manteve sua recomendação de "compra" para as ações da Apple, com um preço-alvo de US$ 266. A análise da instituição focou principalmente no desempenho da App Store, que viu um aumento de 13% nos gastos dos usuários em julho, o maior crescimento desde novembro de 2024. O Goldman prevê um crescimento de 13% nas receitas de serviços da Apple no quarto trimestre fiscal.

Já o Morgan Stanley ajustou seu preço-alvo para US$ 240, subindo de US$ 235, mantendo a classificação "overweight". A instituição destacou o bom desempenho da Apple no segundo trimestre, superando as expectativas em termos de produtos, serviços e margens brutas. Contudo, o banco identificou alguns "eventos de risco significativos", especialmente com a possível introdução de tarifas sob a Seção 232, o que poderia afetar as ações. Para os analistas do banco, o anúncio de isenção de tarifas, feito por Trump, é um alívio importante para a empresa.

O JPMorgan também manteve sua classificação "overweight", mas reduziu o preço-alvo de US$ 240 para US$ 230. A instituição expressou preocupação com a demanda pelo iPhone 17 no segundo semestre de 2025, projetando um crescimento modesto de um dígito para o ano fiscal de 2026. Mas o banco observou que a mudança rápida da Apple na montagem de iPhones da China para a Índia ajudaria a reduzir as pressões sobre as margens brutas. O compromisso de US$ 100 bilhões e as isenções de tarifas também foram vistos como um fator positivo.

O Bank of America ajustou seu preço-alvo para US$ 240, subindo de US$ 235, mantendo a recomendação de "compra". O banco se concentrou no crescimento da base instalada de dispositivos da Apple, acreditando que isso poderá gerar uma demanda mais forte por iPhones no futuro. A instituição também considerou que o anúncio de investimento nos EUA ajudaria a mitigar os riscos associados às tarifas e fortaleceria a posição política da Apple no país.

Às 10h09, no horário de Brasília, os papéis da Apple subiam 2,6% no pré-mercado. Resta saber se os sussurros de Cook continuarão altos o suficiente para Trump ouvir.

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