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Muita calma nessa hora: BTG não vê fôlego para rali da Vale — mesmo com megaprojeto na China

Investimento de US$ 170 bi em hidrelétrica no Tibete anima o mercado, mas impacto real sobre demanda por aço seria limitado, aponta banco

Vale: Ações subiram 2,7% no pregão de ontem e puxaram consigo o Ibovespa (Germano Lüders/Exame)

Vale: Ações subiram 2,7% no pregão de ontem e puxaram consigo o Ibovespa (Germano Lüders/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 22 de julho de 2025 às 06h40.

A notícia de que o governo chinês deu início à construção da maior hidrelétrica do mundo, com investimentos estimados em ao menos US$ 170 bilhões, provocou uma arrancada nos preços do minério de ferro e do aço e puxou consigo as ações da Vale (VALE3), que chegaram a subir quase 4% no pregão de ontem, para fechar em alta de 2,7%.

Mas, para o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame), o rali recente está mais ancorado em fluxo especulativo do que em fundamentos — e não deve ter vida longa.“Apesar do número chamativo, vemos essa movimentação como especulativa, com efeitos limitados sobre a dinâmica de oferta e demanda”, afirma o banco em relatório. “Temas como a construção de hidrelétricas ou reformas do lado da oferta na China são ambições de longo prazo e difíceis de executar.”

A valorização do setor, com destaque para as ações de mineradoras e siderúrgicas, seria resultado de uma combinação entre cobertura de posições vendidas e esperanças de que os preços tenham encontrado um piso.

Ainda assim, o BTG recomenda cautela, diante da persistente sobrecapacidade global de aço e do ambiente de demanda gradualmente mais frouxo para o minério.

O impacto real da barragem

Para estimar o possível efeito do projeto sobre a demanda por aço, os analistas compararam a nova obra à Usina de Três Gargantas, o maior empreendimento hidrelétrico anterior da China. Na ocasião, o consumo adicional de aço ficou entre 460 mil e 510 mil toneladas ao longo de 15 a 20 anos de construção.

Como a nova usina do Tibete deve ter capacidade instalada três vezes maior, o BTG estima que ela demandaria entre 1,4 milhão e 1,9 milhão de toneladas de aço ao longo de uma década — algo entre 140 mil e 190 mil toneladas por ano. Isso representaria menos de 0,5% da produção anual de aço bruto da China.

“Mesmo com possíveis efeitos positivos para a economia, o projeto não muda a realidade estrutural de excesso de capacidade no setor siderúrgico chinês”, diz o relatório.

Fundamentos pressionados

Embora o minério de ferro tenha se mantido acima de US$ 104 por tonelada nas últimas semanas, o BTG reforça que os fundamentos continuam fracos.

A promessa do governo chinês de cortar até 50 milhões de toneladas em capacidade instalada de aço é vista com ceticismo, já que historicamente essas metas têm falhado. E, mesmo se cumprida, a medida afetaria apenas uma fração do excedente estimado entre 200 milhões e 300 milhões de toneladas.

O banco também chama atenção para a queda de 9% na produção de aço chinesa em junho, mesmo diante de uma base de comparação já fraca, e para a expectativa de início das exportações da mina de Simandou (Guiné) em novembro — o que deve adicionar oferta relevante ao mercado global de minério.

Diante desse cenário, o BTG mantém sua visão cautelosa sobre o setor. Apesar de considerar a Vale uma empresa bem gerida e competitiva, o banco projeta preços do minério abaixo de US$ 90 por tonelada no médio prazo, o que deve pressionar o desempenho das ações. Na siderurgia, o excesso de capacidade global permanece como fator negativo relevante.

Entre as empresas brasileiras, a única exceção é a Gerdau, que segue como destaque positivo graças à sua exposição ao mercado americano. A recomendação segue a estratégia de Long Gerdau/Short Usiminas e CSN, que continua válida, segundo o banco.

“Reconhecemos impactos pontuais das manchetes recentes, mas seguimos sem convicção de que haja uma recuperação sustentada no setor”, conclui o relatório.

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