Libro Bege: atividade industrial foi afetada por tarifas (Smith Collection/Gado/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 15 de outubro de 2025 às 15h58.
Última atualização em 15 de outubro de 2025 às 16h56.
A duas semanas da próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o Federal Reserve (Fed, banco central americano) publicou o Livro Bege nesta quarta-feira, 15, citando perspectivas mistas para o crescimento econômico, pressões tarifárias na atividade industrial, maior quadro de demissões e preços elevados.
O documento era ampliamento esperado pelo mercado, que busca pistas sobre o termômetro da economia para projetar como será a próxima decisão de política monetária, marcada para 29 de outubro.
Nesta quarta-feira, 97,8% precificam um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.) para a faixa de 3,75% a 4%, segundo a plataforma FedWatch, do CME Group.
“A leitura geral é de que o Livro Bege reforça a visão de uma economia em desaceleração gradual, mas sem sinais de enfraquecimento brusco — cenário que sustenta a expectativa de uma postura ainda paciente do Fed quanto a futuros cortes de juros”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
Em relação à atividade econômica, o Livro Bege enfatizou que houve poucas mudanças desde o relatório anterior, com três distritos relatando crescimento leve a modesto na atividade. “Houve ainda cinco reportes de nenhuma mudança e quatro notando uma ligeira desaceleração”, afirmou o Fed em documento.
Já as perspectivas para o crescimento econômico futuro variaram conforme o Distrito e o setor. Segundo a publicação, o sentimento de mercado melhorou em alguns locais, com alguns contatos esperando um aumento na demanda nos próximos 6 a 12 meses.
“No entanto, muitos outros continuaram a prever que a elevada incerteza deve pesar sobre a atividade. Um dos Distritos destacou o risco de queda no crescimento em caso de uma paralisação prolongada do governo.”
A atividade industrial também variou entre os Distritos, mas a maioria dos relatórios observou condições desafiadoras devido ao aumento das tarifas e ao enfraquecimento da demanda geral.
Conforme o relatório, o consumo registrou uma leve desaceleração. “É um pouco da dinâmica que estamos enxergando em alguns resultados corporativos, que a demanda das classes mais altas continua robusta, enquanto as famílias de classe média e baixa estão procurando ambientes promocionais maiores”, diz Bruno Yamashita, analista de alocação e inteligência da Avenue.
O Livro Bege apontou que os níveis de emprego se mantiveram praticamente estáveis nas últimas semanas, enquanto a demanda por mão de obra permaneceu, em geral, moderada entre os diferentes Distritos e setores.
“Na maioria das regiões, mais empregadores relataram redução de quadros por meio de demissões e rotatividade, citando menor demanda, elevada incerteza econômica e, em alguns casos, aumento dos investimentos em tecnologias de inteligência artificial”, pontuou.
Do lado das contratações, os empregadores relataram melhor disponibilidade de mão de obra, apesar da oferta limitada nos setores de hospitalidade, agricultura, construção e manufatura, devido às mudanças recentes na política de imigração. Já os salários cresceram em todos os Distritos pesquisados, geralmente em ritmo modesto a moderado.
O documento também disse: “Os preços aumentaram ainda mais durante o período analisado. Vários relatórios dos Distritos indicaram que os custos de insumos subiram em ritmo mais acelerado devido ao aumento nos custos de importação e nos preços de serviços como seguros, saúde e soluções tecnológicas”.
O aumento das tarifas, que elevou os custos de insumos, foi observado em diversos Distritos, mas o grau de repasse desses custos aos preços finais variou.
Algumas companhias, diante das pressões tarifárias, optaram por manter os preços praticamente inalterados para preservar participação de mercado e evitar resistência de clientes sensíveis a aumentos. Por outro lado, houve relatos de empresas dos setores industrial e varejista que transferiram integralmente o encarecimento das importações aos consumidores.