Redação Exame
Publicado em 6 de junho de 2025 às 20h04.
Nesta sexta-feira, 6 de junho, a B3 se despediu oficialmente de um de seus ativos mais líquidos: as ações da JBS (JBSS3). A partir da próxima segunda-feira, 9, os papéis da gigante do setor de proteína animal passam a ser negociados exclusivamente por meio de BDRs (Brazilian Depositary Receipts), sob o código JBSS32.
A mudança ocorre às vésperas da estreia da companhia na Bolsa de Nova York, marcada para 12 de junho, como parte do processo de dupla listagem aprovado em assembleia no último dia 23 de maio.
A movimentação levanta uma questão central para o mercado: qual o impacto real da saída da JBS da bolsa brasileira?
Os números mostram o peso da JBS no mercado local. Segundo levantamento da consultoria Elos Ayta, até 6 de maio, os papéis da companhia movimentaram, em média, R$ 421,3 milhões por dia no mercado à vista da B3 — o maior volume desde 2019 e um novo recorde histórico. O montante representa 2,19% de todo o volume financeiro médio diário da bolsa em 2025.
Em um ambiente de recuperação lenta — o volume médio diário da B3 em 2025 está em R$ 19,2 bilhões, ainda distante do pico de R$ 28,5 bilhões registrado em 2021 —, a saída de um player com esse nível de liquidez aprofunda um desequilíbrio estrutural já em curso.
Desde 2019, a JBS nunca representou menos de 1% do volume financeiro da B3. Após uma queda gradual até 2023, a participação da companhia voltou a crescer, impulsionada pela expectativa da listagem nos EUA e por fundamentos mais sólidos. Em 2025, a fatia da JBS saltou para 2,19%, refletindo o aumento do giro dos papéis e o interesse renovado dos investidores.
Além da liquidez, a JBS também ocupa posição de destaque em valor de mercado. Em 2025, a empresa responde por 1,96% da capitalização total da B3 — patamar semelhante ao de 2024 (2,04%) e bem acima do mínimo de 1,19% registrado em 2023, de acordo com a Elos Ayta.
A transição para BDRs levanta dúvidas sobre a manutenção da liquidez. Historicamente, esses instrumentos apresentam menor volume de negociação em comparação às ações listadas diretamente. Isso pode representar um desafio para investidores institucionais, que dependem de ativos com maior profundidade para executar grandes ordens.
A mudança sinaliza uma tendência: grandes empresas brasileiras estão buscando o mercado internacional em busca de múltiplos mais atrativos, maior visibilidade e acesso a uma base global de investidores. Para a B3, o desafio é claro — manter a atratividade e evitar que outros gigantes sigam o mesmo caminho.