Argentina: gestora lança ETF que replica índice com 15 empresas argentinas listadas nos Estados Unidos (Marcelo Endelli / Correspondente autônomo/Getty Images)
Publicado em 2 de setembro de 2025 às 06h00.
Chegou ao mercado, na semana passada, um ETF que replica um índice de ativos de empresas argentinas negociados nos Estados Unidos. A Investo, especializada nesse tipo de investimento, disponibilizou a novidade na B3 com o ticker ARGE11.
A gestora avalia que o ETF tende a capturar "os efeitos de um novo ciclo de reformas no país vizinho, caracterizadas pela disciplina fiscal, desregulamentação e a abertura comercial."
O índice de referência para o ARGE11, o MarketVector US Listed Argentina Index, tem histórico de valorização de 180,5% de janeiro de 2023 para cá. E o valor de mercado dos ADRs (os títulos das empresas negociados nos EUA) das 15 companhias dentro do ETF soma US$ 49,2 bilhões.
Antes desse lançamento, o investidor pessoa física no Brasil já conseguia acessar empresas argentinas na B3 pelo BDR ARGT39, que, por sua vez, replica um ETF negociado no exterior - o ARGT, ativo que acumula ganhos de 149% do início de janeiro de 2023 até o fechamento da última sexta-feira.
O investimento em Argentina chega ao varejo em um momento no qual investidores institucionais (bancos de investimentos e gestoras) têm visões divididas entre otimismo e cautela sobre investir no país vizinho.
Em seu mais recente relatório sobre Argentina, intitulado "O Império Contra Ataca", o Morgan Stanley afirma que os investidores internacionais seguem interessados no país, pelo potencial de reformas estruturais profundas, mas também estão preocupados com riscos cambiais, política monetária e fragilidade externa.
As reformas conduzidas pelo governo de Javier Milei incluem a autonomia do Banco Central argentino, a adoção do câmbio flutuante, flexibilização de leis trabalhistas, fortalecimento de agências regulatórias independentes e uma reforma previdenciária.
“Milei dizia que a raiz do problema era fiscal e veio com a bandeira muito clara: acabar com a gastança e trazer a inflação para baixo”, diz Daniel Marcatto, co-gestor da Exploritas.
Desde que Milei assumiu o poder em 10 de dezembro de 2023, o S&P Merval, principal índice de referência para a bolsa argentina, valorizou 114,66% em pesos até a última sexta-feira, 29 (mas, quando observado em dólares, caiu 41,78%).
Em 2025, porém, o índice cai 21,17% em pesos e 39,42% em dólares. Em julho, o dólar atingiu a maior cotação já registrada no país.
A pressão mais recente sobre os mercados veio do vazamento de áudios que incriminam altos funcionários do governo em um suposto esquema de subornos, levando a uma série de manifestações de protesto no país.
“As implicações políticas das denúncias de corrupção ainda não são claras. O timing do vazamento não parece casual, dado que os partidos políticos estão se preparando para as eleições de 7 de setembro na Província de Buenos Aires (PBA)”, escrevem Sofia Ordonez e Andres Borenstein do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME) em relatório.
Se Milei for capaz de avançar com suas reformas em 2026, diz o Morgan Stanley, a Argentina poderia voltar a ser reconhecida como emergente pela MSCI, a gigante global de índices de mercado.
Controles de capital e acesso limitado deixam o país de fora do MSCI Emerging Market Index, que os gestores globais costumam ter como referência para tomar suas decisões.
“O que está acontecendo é que esse governo central precisa ter um apoio popular para conseguir passar medidas que são super restritivas, mas que são muito necessárias”, afirma Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management.
Uma pesquisa do Bank of America (BofA) feita em julho passado, junto a 30 gestores de fundos da América Latina, com US$ 63 bilhões sob gestão, mostra os entrevistados divididos entre otimismo sobre evolução dos ativos argentinos até o final do ano e um posicionamento neutra.
Mas o levantamento, último disponibilizado pelo banco americano até então, foi realizado antes das últimas controvérsias no governo argentino.
Para investidores ouvidos pelo Itaú BBA, o apetite por Argentina está mais contido. “Os investidores buscam confirmação de que o país manterá o curso de disciplina fiscal e monetária”, escreveram Ricardo Cavanagh e Daniel Gewehr.
Para o banco, o principal foco é o calendário eleitoral. Investidores monitoram pesquisas, índices de confiança e desenvolvimentos políticos na tentativa de avaliar a probabilidade de manutenção do apoio à políticas ortodoxas (de mercados livres, com o mínimo de intervenção do Estado).
De acordo com o relatório, a perspectiva de curto prazo para os mercados argentinos permanece pressionada para gestores brasileiros. A maioria dos investidores provavelmente não dará o primeiro passo, preferindo esperar até que suas principais preocupações — particularmente continuidade de políticas e câmbio — comecem a diminuir.
Danilo Moreno, especialista de ETFs da Investo, emissora do ARGE11, afirma que, justamente por conta da volatilidade macroeconômica e política do país vizinho, investir em um portfólio pronto pode ser uma forma de lucrar com alguma proteção.
“O ETF cumpre papel importante ao permitir que investidor tenha exposição diversificada a empresas argentinas de maneira simples, líquida e regulada no Brasil, sem a necessidade de escolher ativos individuais ou lidar diretamente com riscos operacionais locais”, afirma.