Invest

Guerra comercial entre China e EUA reacende disputa por terras raras e mineradoras disparam nos EUA

Setor salta com ameaça de novas tarifas; mercado avalia impacto da disputa sobre cadeia global de minerais estratégicos

Publicado em 14 de outubro de 2025 às 06h35.

O setor de terras raras voltou ao centro das atenções nesta terça-feira, 14, após uma nova escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China.

Ameaças de tarifas adicionais e controles de exportação levaram as ações de mineradoras americanas a registrar altas expressivas no pré-mercado, em mais um reflexo da crescente preocupação dos investidores com o futuro da cadeia global de suprimentos desses minerais.

Empresas como Critical Metals, USA Rare Earth, MP Materials e Energy Fuels registraram ganhos que superaram os dois dígitos antes da abertura dos mercados em Nova York.

Minerais estratégicos viram campo de batalha

O clima de tensão aumentou após declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, que anunciou a intenção de impor tarifas de até 100% sobre produtos chineses e ampliar os controles sobre exportações de tecnologia sensível.

O endurecimento das regras ocorre em resposta a medidas adotadas por Pequim para restringir o fornecimento global de minerais considerados críticos — como disprósio, neodímio e praseodímio — usados na fabricação de turbinas eólicas, baterias, motores elétricos e armamentos.

A China é a maior fornecedora mundial de terras raras, responsável por quase 70% da produção e cerca de 90% da capacidade de refino. A posição dominante preocupa autoridades ocidentais, que enxergam o tema como uma questão de segurança nacional e de soberania industrial.

Com a escalada, cresce o temor de interrupções no abastecimento global. Washington já havia dado sinais de que buscaria diversificar suas fontes de suprimento e investir na reindustrialização do setor, que por décadas foi negligenciado nos EUA.

Ataques e recuos em meio a negociações

Apesar do tom agressivo adotado por Trump, o presidente suavizou o discurso nos dias seguintes, indicando que ainda há espaço para negociações. O mercado, porém, permanece sensível a qualquer novo sinal de conflito, especialmente às vésperas de encontros bilaterais e fóruns multilaterais, como a cúpula da Apec, prevista para o fim do mês na Coreia do Sul.

Na semana anterior, o governo chinês revelou um novo arcabouço regulatório para exportações de minerais estratégicos. A medida foi interpretada por analistas como um recado direto aos Estados Unidos e seus aliados, num momento de desconfiança crescente entre as duas potências.

Impactos nos mercados e no cenário global

As incertezas refletiram nos índices acionários globais.

Os futuros de Nova York operavam em queda, puxando o S&P 500 e o Nasdaq para o campo negativo. Na Ásia, os mercados encerraram o dia com perdas, com destaque para a bolsa japonesa, afetada por turbulências políticas internas. Na Europa, o índice Stoxx 600 cedia diante do aumento do risco geopolítico.

O setor de tecnologia, que já vinha sendo impulsionado pelo otimismo com a inteligência artificial, agora enfrenta uma pressão adicional com os riscos de sanções sobre componentes críticos. Empresas que dependem de chips avançados e materiais estratégicos avaliam os possíveis efeitos de um conflito prolongado.

Mineradoras em destaque

Entre os destaques do mercado americano, a Critical Metals chegou a subir mais de 36% no pré-mercado, acumulando uma valorização superior a 55% em dois dias.

A MP Materials, uma das principais produtoras de terras raras fora da China, avançava cerca de 9%. A USA Rare Earth e a Energy Fuels, ambas com projetos voltados à independência mineral dos EUA, também registraram ganhos robustos.

O movimento reflete a leitura do mercado de que os EUA buscarão acelerar investimentos no setor, com estímulos, subsídios e parcerias estratégicas. O temor é que o impasse comercial afete o fornecimento global em um momento de alta demanda por materiais usados em tecnologias limpas e defesa.

Criptomoedas e commodities também reagem

A tensão entre as potências também afetou outros ativos.

O mercado de criptomoedas sofreu uma liquidação generalizada, com perdas expressivas em bitcoin e ether, somando mais de US$ 150 bilhões em valor de mercado apagados em apenas 24 horas.

No mercado de commodities, o petróleo Brent recuava para perto dos US$ 62 por barril, diante das projeções da Agência Internacional de Energia para um superávit ainda maior nos estoques globais. Já o ouro apresentava leve alta, buscando se firmar como porto seguro em meio à volatilidade crescente.

Acompanhe tudo sobre:TerrasMineradorasGuerras comerciaisEstados Unidos (EUA)China

Mais de Invest

Bancos dos EUA abrem a temporada de balanços com otimismo no mercado

Com pouca exposição ao ouro, Vale não acompanha rali de mineradoras na bolsa

IPOs perdidos: a cada 10 empresas que lançaram ações na pandemia, menos de três ganharam valor

Como a queda do petróleo pode impactar o plano de investimentos da Petrobras