Invest

Com saúde financeira em dia, C&A planeja nova vitrine de expansão

A varejista prepara um programa de reformas e expansão baseado em sua loja conceito no Shopping Center Norte, em São Paulo, que deve ganhar ritmo no próximo ano

Inaugurada em agosto deste ano, a loja da C&A no Shopping Center Norte inspira o novo conceito que será expandido a partir de 2026  (Divulgação)

Inaugurada em agosto deste ano, a loja da C&A no Shopping Center Norte inspira o novo conceito que será expandido a partir de 2026 (Divulgação)

Publicado em 5 de novembro de 2025 às 18h13.

Após entregar um terceiro trimestre marcado por aumento de lucro e geração de caixa, a varejista de moda C&A entra em uma nova fase de investimentos. A companhia se prepara para expandir no próximo ano sua presença física e aprimorar a experiência dos clientes, tendo como vitrine o novo conceito de loja inaugurado em agosto, no Shopping Center Norte, em São Paulo.

"A partir dessa saúde financeira e assertividade que a gente vem tendo em termos de coleções e de resultados, temos um plano crescente de investimentos, seja em reformas, em novas lojas ou em tecnologia", afirmou Paulo Correa, CEO da C&A, em entrevista à EXAME.

"Estamos fazendo muita coisa com IA [inteligência artificial], já temos impactos concretos dentro do negócio e a nossa ambição é expandir isso ainda mais ao longo do ano que vem. Temos uma agenda bem interessante no que diz respeito à tecnologia. Mas, eu diria que um dos maiores destaques é trazer o novo conceito de loja para uma base maior de clientes", complementou o executivo.

O novo conceito de loja da C&A, localizado na zona norte paulistana, foi o grande teste do plano "Energia C&A", lançado há cerca de três anos pela companhia e que "passou com louvor", segundo Correa.

Desenvolvido em parceria com o escritório britânico Gensler, de design de varejo, o espaço de 3.500 metros quadrados foi pensado para transformar a experiência da cliente, unindo moda, tecnologia, design contemporâneo e sustentabilidade. E, ao que parece, ter dado efeito.

"A loja do Center Norte era um teste, e ela passou no teste. Estamos muito felizes com o resultado e com o feedback das clientes", disse o CEO.

A partir dessa experiência, a companhia prepara um programa de reformas e expansão baseado no novo modelo, que deve ganhar ritmo a partir de 2026. Para o executivo, o projeto representa uma das maiores inovações recentes da C&A no Brasil e deve servir de base para um ciclo de crescimento da varejista, que vem ganhando cada vez mais participação no mercado e nas vendas.

Entre julho e setembro, a companhia fashion registrou um lucro líquido de R$ 69,5 milhões, alta de 62,2% sobre o mesmo período do ano passado. O Ebitda ajustado avançou 5,5%, para R$ 333,3 milhões, com margem de 18,1%, 0,5 ponto percentual acima do ano anterior.

A receita líquida consolidada também cresceu 2,3%, para R$ 1,84 bilhão, com destaque para o segmento de vestuário, que subiu 8,9%. As vendas em mesmas lojas avançaram 8,1%.

Correa avalia que o bom resultado do terceiro trimestre reflete uma evolução consistente na operação da C&A, sustentada por crescimento com aumento de margem e gestão mais eficiente de custos e estoques.

O resultado foi um ganho expressivo de liquidez: a C&A encerrou setembro com R$ 1,18 bilhão em caixa e dívida bruta 37,2% menor que no ano anterior.

Ele explica que, embora o segundo trimestre tenha sido beneficiado por um efeito pontual da venda da carteira legada referente à parceria com Bradescard, o desempenho do último período mostra a mesma tendência de melhora, agora impulsionada por uma forte geração de caixa, resultado de estoques mais enxutos e com maior giro.

"A gente teve um ótimo giro dos produtos de inverno, o que nos permitiu chegar ao final do trimestre com estoques muito ajustados e preparados para o final do ano", afirmou o executivo.

Desafio climático no varejo de moda

O período, no entanto, trouxe desafios climáticos. O inverno de 2025 foi mais longo e rigoroso do que o habitual, o que beneficiou as vendas do segundo trimestre, mas postergou o início da temporada de calor.

No mercado financeiro, a expectativa de algumas casas, como a XP Investimentos, era de que as vendas líquidas consolidadas da companhia apresentam um crescimento de apenas 2% ano a ano, impulsionadas pela desaceleração no vestuário, atribuída principalmente ao clima mais frio.

O CEO diz que esse fator deslocou um pouco as vendas entre os meses, mas não prejudicou o negócio de forma significativa, observa o CEO. Segundo ele, produtos mais atemporais, como jeans e camisetas, ganharam relevância nesse período.

"Estou nesse negócio há mais de 20 anos e eu não me lembro de um inverno tão longo, tão rigoroso para padrões do Brasil, como ele foi esse ano", comenta Correa.

"Esse período de prolongamento do inverno trouxe um desafio, porque temos que trazer novidades no que chamamos de 'coleção de ano todo', produtos que têm o ano inteiro, como calça jeans, camiseta. São produtos que você vende qualquer época do ano e essa, para mim, é a beleza de você ter estoques menores, mais curtos, que é de você conseguir repor esses produtos que estão em desejo nesse momento, produtos mais neutros, atemporais, menos dependente da temperatura", disse.

"Por outro lado, ele traz um pouco de desafio naqueles produtos que têm uma sazonalidade maior. Então as blusinhas de alcinha, shorts e bermudas, produtos mais típicos do alto verão, tiveram um desempenho menos interessante nesse período de pós-inverno porque as pessoas estão com menos vontade de comprar esse tipo de produto".

Foco na 'assertividade das coleções'

O CEO defende "que o verão vai chegar", e a assertividade das coleções será decisiva. No caso da C&A, ela está ligada à aplicação da metodologia Test & Learn, que permite testar produtos em pequena escala antes de expandir a produção.

"Neste ano, completamos mais de mil testes. Isso nos torna mais assertivos e reduz sobras e descontos. Apostamos menos, testamos mais e ouvimos mais o cliente".

No campo logístico, a C&A também avança em uma reestruturação que deve se estender pelos próximos dois anos. O novo modelo com hubs regionais, já implementado em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, no centro e no sul do país, permite repor produtos com maior agilidade.

"Em vez de uma decisão centralizada em São Paulo, conseguimos atender uma loja do Norte em até 40 horas. Antes, levava até 15 dias”, disse.

Com a integração entre gestão de estoques, inteligência artificial para prever demanda e o modelo de distribuição descentralizado, a companhia reduziu em nove dias o ciclo de caixa no trimestre.

Acompanhe tudo sobre:C&AVarejoModaEmpresasBalanços

Mais de Invest

Pinterest 'derretendo': o que está acontecendo com as ações do app?

A montanha-russa da Raia Drogasil: bons números não empolgam mercado

Ibovespa bate sexto recorde seguido de fechamento, acima dos 153 mil pontos

Apetite por risco leva dólar a encerrar o dia em queda, a R$ 5,36