Anbima: tendência é que debêntures incentivadas sigam crescendo no próximo ano (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 20 de outubro de 2025 às 17h07.
Última atualização em 20 de outubro de 2025 às 17h51.
Com a taxa Selic a 15%, a renda fixa continua reinando no mercado de capitais – enquanto a renda variável é apagada. Um investimento se destaca: as captações via debêntures incentivadas cresceram 18,2% nos nove primeiros meses deste ano, frente ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Mercado de Capitais (Anbima).
De janeiro a setembro de 2024, o volume desses títulos era de R$ 96,1 bilhões. Este ano, nesse mesmo intervalo, a cifra foi a R$ 113,6 bilhões – um recorde. O volume de ofertas na renda fixa total também chegou à marca histórica de R$ 487,3 bilhões no período.
A renda variável ficou apenas com R$ 4,2 bilhões, de R$ 21,8 bilhões nos nove primeiros meses de 2024, uma queda de 81%.
A representatividade das incentivadas dentro do mercado de debêntures subiu de 30% para 36%, enquanto as corporativas recuou de 70% para 64%. No total, as debêntures tradicionais captaram R$ 317,6 bilhões no ano até setembro, mas diminuíram o número de operações de 449 para 437.
Distribuidoras ou transmissoras de energia têm a maior captação de 2025 entre os segmentos, com R$ 41,4 bilhões.
“Esse setor tem uma regulação madura e previsível, mas outros setores ganham relevância também, como transporte e logística”, afirma Guilherme Maranhão, presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da Anbima. O segmento ficou em segundo lugar, com R$ 39,6 bilhões.
Para ele, é difícil cravar que a Medida Provisória n° 1.303/2025, que visava acabar com a isenção das debêntures incentivadas ocasionou em um movimento de antecipação de compra, mas “parece ter tido algum impacto” do ponto de vista sazonal.
“Acredito que a tendência é, nos próximos anos, continuar tendo um crescimento nesse setor, crescimento nas emissões e também nos fundos dedicados a comprar”, aponta. Os fundos de investimento foram responsáveis por 45,8% do volume subscrito em 2025. Pessoas físicas representaram apenas 3,3%, enquanto investidores estrangeiros 1,3%.
César Mindof, diretor da Anbima, complementa: “Em algum nível, a antecipação pode ter vindo, sim, em função dessa incerteza em relação à tributação, mas de uma forma estrutural, dado todo o pipeline de investimento em infraestrutura que temos pela frente, dá para continuar crescendo com um volume relevante”.
O volume negociado das debêntures incentivadas cresceu 23,9%, de R$ 205,1 bilhões em 2024 para R$ 254 bilhões em 2025, no mercado secundário. Ao considerar as debêntures corporativas, o volume total de debêntures cresceu 22,7% no mercado secundário, de R$ 531,1 bilhões entre janeiro e setembro de 2024 para R$ 651,4 bilhões no mesmo período deste ano.
O resultado é que o valor negociado no mercado secundário é mais que o dobro do volume de ofertas em 2025 (205%). “Sai no primário, fica nos balanços dos bancos, mas acaba trocando de mão no secundário”, comenta Maranhão.
Ao contrário do boom das debêntures incentivadas, a renda variável está nas mínimas históricas: seis operações de follow-on totalizaram R$ 4,2 bilhões em 2025. Nos nove primeiros meses dos últimos cinco anos, o segmento registrou de follow-ons: R$ 52,9 bilhões (2019), R$ 55,4 bilhões (2020), R$ 60,2 bilhões (2021), R$ 54,3 bilhões (2022), R$ 29,3 bilhões (2023) e R$ 21,8 bilhões (2024) – além dos IPOs de 2019 a 2022.
“A frustração que a gente tem ao longo dos últimos tempos não é só a não retomada dos IPOs, por conta das condições macroeconômicas, mas também a questão dos follow-ons. Tanto em 2023 como em 2024 tivemos em cada ano um grande follow-on que ajudou bastante no número. Vamos ver se acontece alguma coisa ainda em 2025, mas não parece ser o caso”, conclui Maranhão.