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A estratégia da Cogna para fazer frente à nova regulação de ensino a distância

Companhia diz já cumprir boa parte das exigências, vê espaço para repasse de novos preços e vê admite possibilidade de fechamento de 200 a 300 polos de EAD em cidades com até 40 mil habitantes

Roberto Valério, CEO da Kroton, aliviou em parte os temores de investidores  (Eduardo Frazão/Exame)

Roberto Valério, CEO da Kroton, aliviou em parte os temores de investidores (Eduardo Frazão/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 22 de maio de 2025 às 16h01.

A Cogna (COGN3), dona de redes de ensino superior como Anhanguera e Unopar, acredita que a nova regulação do ensino superior a distância (EAD), que impõe mais exigências de atividades presenciais e aulas síncronas, trará impacto limitado sobre seu modelo de negócios.

Em reunião com analistas do mercado nesta quarta-feira (22), a companhia detalhou que já atende boa parte dos critérios exigidos e que os custos adicionais serão pequenos e, em boa parte, repassáveis aos preços.

Segundo a empresa, os cursos a distância já cumprem o mínimo de 10% de atividades presenciais com o programa de estágio obrigatório.

O principal ajuste necessário será incluir 10% de aulas síncronas (ao vivo) mediadas por tutor, cujo custo é cerca de 60% inferior ao de um professor presencial. O impacto estimado é de apenas R$ 5 por aluno por mês.

Para cursos semipresenciais, esse custo adicional sobe para R$ 10, enquanto, nos cursos presenciais, o acréscimo de 10 pontos percentuais de carga presencial (de 60% para 70%) implicaria em mais R$ 30 por aluno — o equivalente a 3,7% da mensalidade média de R$ 800.

“As impressões da Cogna trazem mais clareza e reduzem a percepção de risco da nova regulação”, disseram os analistas do Safra em relatório.

A estratégia de fato parece ter aliviado os temores dos investidores. Após uma queda de quase 12% nesta semana até o fechamento do último pregão, os papéis da companhia reagem na sessão de hoje, com avanço de mais de 4%.

Outro ponto destacado pela direção foi o possível fechamento de 200 a 300 polos de EAD em cidades pequenas, com até 40 mil habitantes, devido à inviabilidade econômica diante das novas exigências. No entanto, esses polos representam menos de 2% das matrículas totais da companhia.

Apesar da expectativa de aumento de custos, a Cogna vê espaço para repasse aos preços, dada a proporção relativamente baixa dos valores adicionais frente às mensalidades cobradas.

Além disso, a empresa estuda rever a oferta de cursos, direcionando parte dos presenciais para modelos híbridos, e aposta em estratégias de marketing para preservar a percepção de valor entre os alunos.

Cursos da área de saúde, especialmente Enfermagem, tendem a ser os mais afetados, já que passam a ser permitidos apenas na modalidade 100% presencial. A companhia reconhece que, nesses casos, a combinação entre menor volume de alunos e necessidade de estrutura física pode tornar a operação inviável em algumas regiões — embora os preços mais altos desses cursos possam atenuar parcialmente esse efeito.

Para o Bradesco BBI, a regulação deve ser positiva para grandes players como Cogna e Vitru, que já operam com padrões de qualidade mais elevados no EAD. “O impacto em receita e custo será bem menor do que o inicialmente estimado”, escreveram os analistas.

Mesmo em um cenário sem repasse de preços, o impacto sobre o EBITDA da Cogna seria de cerca de 6%, afirmam os analistas — número que já estava parcialmente embutido nos modelos do banco.

A nova regulação, embora mais rígida, pode, na visão dos analistas, induzir um ambiente competitivo mais racional no setor de educação. “Se os concorrentes mais agressivos não se ajustarem, o risco é de uma deterioração estrutural na economia do setor. Mas os grandes grupos estão melhor posicionados para essa transição”, diz a XP em relatório.

 

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