Repórter
Publicado em 12 de junho de 2025 às 12h55.
Última atualização em 12 de junho de 2025 às 15h02.
O modelo Boeing 787 Dreamliner, uma das aeronaves mais avançadas da aviação comercial, passou por seu primeiro acidente fatal em quase 14 anos de operação.
Um Boeing 787-8 da Air India, operando o voo AI171, caiu logo após decolar do aeroporto de Ahmedabad, na Índia, nesta quinta-feira, 12. A tragédia, que resultou na morte de ao menos 241 das 242 pessoas que estavam a bordo, marca um ponto sombrio na história do modelo que, desde seu lançamento em 2011, não havia registrado qualquer fatalidade.
As ações da empresa, no pré-mercado, operavam em queda de 7%. Às15h, no horário de Brasília, os papéis caíam 4,5%.
A queda ocorreu poucos segundos após a decolagem, e a tripulação chegou a emitir um alerta de emergência ("mayday") antes de perder contato com a torre de controle.
O impacto gerou cenas dramáticas, com destroços em chamas e uma densa fumaça preta. Pelo menos cinco pessoas que estavam no solo também morreram, já que o avião atingiu um prédio residencial próximo ao aeroporto. Equipes de resgate continuam trabalhando no local, e as operações do aeroporto de Ahmedabad foram suspensas.
A aeronave, um Boeing 787-8 Dreamliner, é uma das unidades da frota de 27 aeronaves 787 da Air India. O modelo em questão tem capacidade para 242 pessoas, incluindo passageiros e tripulação.
A tragédia também impactou gravemente a reputação da Air India, que vinha fazendo esforços para modernizar sua frota e melhorar a experiência do cliente em rotas internacionais. O voo AI171 tinha como destino o aeroporto de Gatwick, em Londres, e era uma rota popular entre passageiros internacionais.
Imediatamente após a notícia, as ações da Boeing sofreram uma queda significativa, caindo entre 7% e 8% no pré-mercado. A perda reacende as preocupações do mercado em relação à companhia. A Boeing, que estava em processo de recuperação financeira após os desafios enfrentados com o 737 MAX, agora vê sua reputação colocada à prova novamente.
A queda nas ações da Boeing representou uma perda de valor de mercado significativa, com as ações negociadas entre US$ 195,85 e US$ 198,06, recuo de US$ 16 a US$ 18 em relação ao fechamento anterior de US$ 214,00 — uma das maiores quedas que a Boeing enfrentou em meses.
O Boeing 787 Dreamliner é conhecido por sua tecnologia e eficiência, sendo utilizado por diversas companhias aéreas para rotas de longa distância. Desde sua estreia em 2011, o modelo se tornou um pilar da aviação comercial, com mais de 1.175 unidades em operação em mais de 85 países. Até agora, o 787 era amplamente considerado um dos aviões mais seguros e modernos da aviação comercial.
O modelo 787 Dreamliner, que utiliza tecnologia de ponta e materiais compostos à base de fibra de carbono, foi projetado para oferecer uma economia de combustível significativamente superior, o que o torna ideal para longas distâncias. A aeronave também é reconhecida pelo conforto oferecido aos passageiros, com características como janelas maiores, melhor qualidade do ar e sistema de pressurização mais eficiente.
A Boeing, como uma das líderes da indústria aeroespacial global, até junho de 2025 não havia registrado nenhum acidente fatal envolvendo o 787. Este incidente, portanto, marca um ponto triste na história da empresa, já que o modelo era visto como uma grande vitória tecnológica para a aviação comercial.
Além do impacto no valor de mercado da empresa, o acidente ocorre em um momento delicado para a Boeing. A empresa vinha tentando se recuperar de um período financeiro difícil, exacerbado pela crise do 737 MAX e desafios na cadeia de suprimentos. Apesar disso, a Boeing apresentou sinais de recuperação nos últimos trimestres, com crescimento de receita e um aumento no volume de entregas de aeronaves.
No primeiro trimestre de 2025, a Boeing registrou receita de US$ 19,5 bilhões, um aumento de 18% em relação ao mesmo período de 2024. Esse crescimento foi impulsionado pelo aumento das entregas de aeronaves, totalizando 130 unidades no primeiro trimestre, e pela elevação do backlog de pedidos, que alcançou US$ 545 bilhões.
Apesar desse crescimento, a empresa ainda enfrentou um prejuízo líquido de US$ 31 milhões no primeiro trimestre de 2025, uma melhoria em relação ao prejuízo de US$ 355 milhões no mesmo período de 2024. O fluxo de caixa operacional foi negativo, com a Boeing registrando um consumo de caixa de US$ 1,6 bilhão no trimestre, embora tenha havido uma redução no consumo de caixa em relação a trimestres anteriores.
A dívida total da Boeing continua elevada, em cerca de US$ 53,6 bilhões, mas a empresa mantém um caixa robusto de US$ 23,7 bilhões, o que lhe dá uma certa flexibilidade financeira. No entanto, o acidente pode afetar as perspectivas da Boeing para o restante do ano e a confiança dos investidores em sua capacidade de entregar resultados sustentáveis a longo prazo.
Outros analistas, como os do Morgan Stanley, mantiveram uma recomendação "equalweight", ou neutra, para as ações da Boeing, destacando que o acidente pode ser um evento isolado, mas que, caso se revele uma falha sistêmica, isso poderia afetar gravemente a produção do modelo 787 e a confiança do mercado.
O Boeing 787 Dreamliner é amplamente utilizado por diversas companhias aéreas ao redor do mundo, destacando-se especialmente em rotas intercontinentais devido à sua eficiência de combustível, conforto para os passageiros e alcance estendido. Entre as principais operadoras, podemos destacar:
LATAM Airlines: a maior operadora do 787 na América Latina, com uma frota de 36 aeronaves Dreamliner, sendo 10 do modelo 787-8 e 26 do 787-9. A LATAM utiliza essas aeronaves principalmente para rotas internacionais de longa distância, conectando o Brasil e outros países da América Latina a destinos na América do Norte, Europa e Ásia.
American Airlines: opera 37 unidades do Boeing 787-8, sendo uma das maiores frotas globais do modelo. A companhia usa essas aeronaves para suas principais rotas internacionais, incluindo voos para a Europa e Ásia.
All Nippon Airways (ANA): primeira companhia a lançar o 787 em 2011, com 34 aeronaves do modelo 787-8. A ANA é uma das maiores operadoras do Boeing 787, utilizando essas aeronaves em rotas internacionais, principalmente entre o Japão e destinos na América do Norte e Europa.
Qatar Airways: opera 30 unidades do 787-8, uma das maiores frotas do Oriente Médio. A companhia utiliza o 787 para suas principais rotas longas, conectando Doha a várias cidades internacionais, incluindo Londres, Nova York e Sydney.
Air India: com 27 aeronaves Boeing 787-8, incluindo o modelo envolvido no acidente recente, a Air India usa essas aeronaves para rotas internacionais, como a conexão entre a Índia e destinos na Europa, Ásia e América do Norte.
Japan Airlines: possui 23 unidades do 787-8, com grande utilização em rotas intercontinentais, conectando o Japão a importantes hubs internacionais, como Los Angeles, Londres e Paris.
TAAG Linhas Aéreas de Angola: incorporou recentemente o Boeing 787-9, com quatro unidades encomendadas. A TAAG utiliza o modelo para expandir suas operações internacionais, incluindo rotas entre Angola e o Brasil, além de outras nações da África e Europa.
Air Europa: opera 25 unidades do 787 Dreamliner, sendo 15 do 787-9 e 10 do 787-8. A companhia espanhola reforçou suas operações transatlânticas entre a Europa e as Américas, com destaque para voos entre Madrid e destinos como Buenos Aires, Miami e Santo Domingo.