Quanto maior for o risco do investimento, maior precisa ser a recompensa potencial para que alguém aceite colocar dinheiro naquele ativo. (Juj Winn/Getty Images)
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Publicado em 5 de outubro de 2025 às 08h00.
Com a Selic a 15% ao ano, investidores brasileiros enfrentam um dilema: permanecer na segurança da renda fixa ou buscar retornos maiores em ativos mais arriscados. A decisão passa por entender o prêmio de risco, a métrica que determina quanto um investimento precisa render acima das aplicações seguras para compensar a possibilidade de perdas.
No mercado brasileiro, onde o Ibovespa acumula volatilidade três vezes superior às bolsas desenvolvidas, essa compensação pode variar de 2% em títulos corporativos até mais de 50% em criptomoedas. Abaixo, entenda o que você deve considerar ao fazer essa análise e por onde começar.
O prêmio de risco é o retorno adicional que um investimento precisa oferecer acima de uma aplicação segura para compensar a possibilidade de perdas. É a diferença entre o que você pode ganhar em um investimento arriscado e o que ganharia no investimento mais seguro.
No Brasil, é o Tesouro Selic que serve como referência de investimento sem risco. Com a taxa a 15% ao ano, uma ação que promete 20% oferece prêmio de 5%. Esses 5% extras são a compensação exigida pelo mercado para aceitar o risco de perda.
Isso acontece porque sem prêmio de risco investidores não sairiam da renda fixa, empresas não conseguiriam capital para expandir operações, e a economia travaria.
O mecanismo do prêmio de risco opera como um sistema natural de incentivos no mercado financeiro. Quanto maior for o risco do investimento, maior precisa ser a recompensa potencial para que alguém aceite colocar dinheiro naquele ativo.
Essa relação cria um equilíbrio delicado entre quem busca segurança e quem procura rentabilidade. Durante períodos de incerteza econômica, quando a maioria dos investidores migra para a segurança, os prêmios de risco aumentam naturalmente para atrair capital aos ativos mais arriscados. Por outro lado, em momentos de otimismo generalizado, esses prêmios podem diminuir a níveis perigosos.
Vale destacar que diversos fatores influenciam esses prêmios no dia a dia, incluindo mudanças na taxa Selic, expectativas de inflação e o cenário político. O mercado brasileiro, particularmente sensível a mudanças regulatórias, tende a exigir prêmios substancialmente maiores que economias desenvolvidas.
A fórmula é simples: Prêmio de Risco = Retorno Esperado - Taxa Livre de Risco.
Um fundo imobiliário que projeta 18% ao ano, com Tesouro Selic a 15%, oferece prêmio de 3%. Uma ação com expectativa de 25% de retorno tem prêmio de 10%.
O retorno esperado vem de análises de mercado e projeções de resultado, portanto, não há garantias. O cálculo serve para comparar se o risco adicional compensa o retorno prometido.
Existe uma distinção importante entre o prêmio de um ativo específico e o prêmio geral do mercado. O primeiro considera apenas um investimento individual, enquanto o segundo analisa o retorno de investimentos de um índice amplo como o Ibovespa.
Para determinar o prêmio de mercado, analistas calculam a diferença entre o retorno médio histórico do índice e a taxa livre de risco do período. No Brasil, estudos mostram que o Ibovespa historicamente entrega prêmios entre 3% e 7% acima do CDI, variando conforme o período analisado e as condições econômicas.
Essa distinção tem importância prática porque o prêmio de mercado serve como referência para avaliar oportunidades específicas. Se uma ação individual oferece prêmio menor que a média do mercado, talvez não compense assumir o risco adicional de liquidez daquele papel específico.
Os investimentos com maiores prêmios de risco são aqueles que apresentam maior incerteza e volatilidade. As criptomoedas ocupam o topo dessa lista, com possibilidade de ganhos ou perdas que frequentemente superam 100% em um único ano.
Logo abaixo vêm as small caps, ações de empresas menores listadas na bolsa. Esses papéis oferecem prêmios elevados devido à combinação de menor liquidez, informações limitadas e maior sensibilidade a mudanças no ambiente econômico. Fundos de crédito privado sem garantia do FGC também precisam oferecer taxas superiores ao CDI para atrair investidores.
No extremo do espectro estão investimentos em startups e venture capital, onde o prêmio pode significar multiplicar o capital por dezenas de vezes, mas com probabilidade significativa de perda total do investimento.
A identificação do prêmio de risco adequado depende do perfil e dos objetivos de cada investidor. Um perfil conservador geralmente considera satisfatório um prêmio de 2% a 3% acima da renda fixa básica, enquanto investidores agressivos buscam prêmios que superem 10% ou mais.
Uma ferramenta útil nessa análise é o Índice de Sharpe, que relaciona o prêmio de risco com a volatilidade do investimento. Valores acima de 1 nesse indicador sugerem uma relação favorável entre risco e retorno.
O horizonte temporal também desempenha papel crucial nessa decisão. Prêmios elevados fazem mais sentido para aplicações de longo prazo, onde existe tempo suficiente para superar volatilidades temporárias e realizar o potencial de retorno.
Antes de buscar prêmios de risco maiores, é fundamental fazer uma avaliação completa da sua situação financeira pessoal. A existência de uma reserva de emergência sólida é um pré-requisito essencial para assumir riscos maiores, pois sem essa proteção, situações imprevistas podem forçar a venda de ativos em momentos desfavoráveis.
Igualmente importante é considerar a tolerância psicológica às oscilações. Não adianta buscar retornos elevados se a volatilidade vai causar ansiedade excessiva ou levar a decisões precipitadas. O impacto emocional de ver o patrimônio oscilar pode comprometer toda a estratégia de investimento.
A diversificação surge como outro elemento fundamental nessa equação. Mesmo investimentos com prêmios muito atrativos não devem concentrar parcela excessiva da carteira, pois a distribuição adequada dos riscos protege contra perdas catastróficas em qualquer ativo individual.
Compreender o prêmio de risco permite que investidores tomem decisões mais fundamentadas sobre alocação de capital. Sem essa análise, existe o risco constante de assumir exposições desnecessárias ou, no extremo oposto, deixar passar oportunidades únicas de crescimento patrimonial.
O conceito também facilita comparações entre investimentos aparentemente distintos. Por exemplo, um CDB de banco médio pagando 120% do CDI pode apresentar prêmio de risco similar a determinadas ações defensivas, tornando a escolha entre eles mais objetiva.
Investidores que não consideram o prêmio de risco em suas decisões tendem a oscilar entre conservadorismo excessivo e tomada imprudente de riscos, ambos os extremos prejudiciais à construção de patrimônio no longo prazo.
A busca por ativos com prêmios elevados pode resultar em ganhos expressivos, mas também expõe o investidor a perdas potencialmente severas. A volatilidade característica desses investimentos significa que quedas de 30%, 50% ou até mais podem ocorrer em períodos relativamente curtos.
Outra consequência relevante é a redução da liquidez. Ativos que oferecem prêmios altos geralmente apresentam maior dificuldade de venda rápida sem perdas significativas de valor, o que pode comprometer o acesso ao capital em momentos de necessidade.
Há ainda o componente psicológico a considerar. A experiência de acompanhar oscilações dramáticas no patrimônio pode levar a decisões emocionais prejudiciais, como realizar perdas em momentos de pânico ou recorrer a alavancagem excessiva na tentativa de recuperar perdas rapidamente.
O primeiro cuidado fundamental é reservar para ativos de alto risco apenas recursos que não serão necessários no curto ou médio prazo. Investimentos voláteis precisam de tempo adequado para atravessar ciclos de baixa e realizar seu potencial de valorização.
A realização de pesquisa própria e detalhada é outro cuidado indispensável. Confiar exclusivamente em recomendações ou promessas de retornos extraordinários sem verificação pode levar a perdas substanciais. São a análise de balanços, a compreensão do modelo de negócio e a verificação da volatilidade histórica que formam a base de uma decisão bem informada.
Por fim, estabelecer previamente limites claros de realização de lucros e corte de perdas ajuda a manter a disciplina necessária. Definir esses parâmetros antes de investir, quando a emoção não está envolvida, protege contra decisões impulsivas que podem comprometer toda a estratégia de investimento de longo prazo.