Em períodos de valorização das bolsas, esses ativos tendem a apresentar desempenho abaixo da média ou mesmo perdas. (Ridofranz/Getty Images)
Publicado em 20 de maio de 2025 às 14h34.
Em um cenário de bolsas em queda e instabilidade generalizada, alguns ativos parecem se mover contra a maré. Eles sobem enquanto o mercado afunda e afundam quando tudo vai bem. Esse comportamento, que pode parecer paradoxal, é descrito por uma métrica chamada beta negativo. Trata-se de um dos conceitos menos intuitivos, mas mais valiosos na hora de montar carteiras resistentes a crises.
O beta é uma medida estatística que expressa a sensibilidade de um ativo em relação ao comportamento do mercado como um todo. O mercado, representado geralmente por um índice como o Ibovespa ou o S&P 500, tem beta 1. Um ativo com beta maior que 1 é mais volátil que o mercado; se tem beta menor que 1, é menos volátil. Já o beta negativo indica que o ativo se movimenta na direção contrária ao mercado.
Ou seja, se a bolsa cai, o ativo tende a subir; se a bolsa sobe, o ativo tende a cair. É o caso, por exemplo, de algumas opções de venda (put options) ou de certos fundos que apostam na queda do mercado.
Na prática, poucos ativos têm beta negativo de forma consistente. Isso ocorre porque a maioria dos investimentos, como ações, tende a acompanhar o movimento da economia. Mas existem exceções: ativos defensivos, derivativos e fundos estruturados com posições específicas podem apresentar esse comportamento. Entre os exemplos mais comuns estão:
A principal vantagem do beta negativo é seu efeito de proteção. Esses ativos funcionam como um hedge natural, reduzindo perdas em momentos de queda generalizada no mercado. Para investidores mais conservadores ou institucionais, essa característica é valiosa.
Outro diferencial está na diversificação. Ter ativos com comportamentos distintos — ou até opostos — ajuda a suavizar o desempenho da carteira ao longo do tempo, diminuindo a volatilidade total.
Apesar de atrativo, o beta negativo não garante lucros em todos os cenários. Em períodos de valorização das bolsas, esses ativos tendem a apresentar desempenho abaixo da média — ou mesmo perdas. Isso pode comprometer o retorno da carteira se o investidor estiver excessivamente exposto a eles.
Além disso, é importante lembrar que o beta é uma medida baseada em correlação histórica. Ele não é fixo e pode variar com o tempo, conforme as condições de mercado e o comportamento do ativo. Um ativo que hoje tem beta negativo pode, em outro contexto, perder essa característica.
O uso de ativos com beta negativo é especialmente recomendado em momentos de incerteza econômica, alta volatilidade ou expectativa de quedas nos mercados acionários. Também pode ser uma estratégia útil para compor carteiras de longo prazo com menor exposição ao risco sistemático.
Para investidores mais sofisticados, como family offices e fundos multimercado, esses ativos são ferramentas importantes de controle de risco. Já para o investidor pessoa física, é preciso avaliar se o perfil e os objetivos justificam a adoção de ativos com esse comportamento.