Quando usado com critério e complementado por outras análises, ele pode ajudar a identificar oportunidades interessantes no mercado de ações (AdobeStock/Reprodução)
Publicado em 16 de junho de 2025 às 17h31.
Imagine que você quer comprar uma padaria. Não basta olhar apenas o preço pedido pelo dono - é preciso saber quanto ela gera de dinheiro todo mês para entender se o negócio vale a pena. No mundo das ações, existe uma ferramenta que faz exatamente isso: o EV/EBITDA. Este indicador mostra quantas vezes o EBITDA anual cabe no valor total da empresa — ou seja, quantos anos seriam necessários, em teoria, para recuperar o investimento com base na geração atual de caixa operacional.
O múltiplo se tornou um dos preferidos entre analistas e investidores por uma razão simples: ele consegue comparar empresas completamente diferentes, desde uma mineradora brasileira até uma gigante de tecnologia americana.
Para entender o indicador, é preciso destrinchar suas duas partes. O EV (Enterprise Value) representa o valor total da empresa: é calculado somando a capitalização de mercado com as dívidas e subtraindo o caixa disponível.
Já o EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) mostra o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. É uma medida "limpa" de quanto dinheiro a operação da empresa consegue gerar.
Quando se divide um pelo outro, obtém-se um número que funciona como um múltiplo. Um EV/EBITDA de 10, por exemplo, significa que o valor da empresa equivale a 10 anos de sua geração operacional atual.
1. Primeiro passo: calcule o Enterprise Value somando a capitalização de mercado da empresa com suas dívidas totais e subtraindo o caixa disponível.
2. Segundo passo: divida esse valor pelo EBITDA dos últimos 12 meses. Se uma empresa tem EV de R$ 5 bilhões e EBITDA de R$ 500 milhões, seu múltiplo será 10.
A fórmula parece simples, mas cada componente tem suas nuances. A capitalização de mercado muda constantemente com o preço das ações, enquanto as dívidas e o caixa aparecem nos balanços trimestrais.
Para encontrar esses dados, você pode consultar sites especializados em investimentos ou os relatórios trimestrais das próprias empresas. Muitas corretoras já disponibilizam o múltiplo calculado.
O EV/EBITDA brilha quando você precisa comparar empresas. Diferentemente de outros indicadores, ele não se confunde com diferentes estruturas de capital ou regimes tributários.
Uma empresa muito endividada e outra com muito caixa podem ser comparadas de forma justa através deste múltiplo. Isso acontece porque o EV já considera essas diferenças na sua composição.
Na prática, múltiplos menores podem indicar empresas mais baratas em relação à sua geração de caixa. Mas atenção: um EV/EBITDA baixo nem sempre significa uma boa oportunidade.
Setores diferentes têm múltiplos típicos distintos. Empresas de tecnologia costumam negociar com múltiplos mais altos que siderúrgicas, por exemplo, devido às suas perspectivas de crescimento.
Apesar de sua utilidade, o EV/EBITDA tem limitações importantes. Ele não considera os investimentos necessários para manter o negócio funcionando, como renovação de equipamentos ou expansão de capacidade.
O múltiplo também ignora completamente os custos financeiros, o que pode mascarar problemas em empresas muito endividadas. Uma companhia pode ter um EBITDA robusto, mas comprometer grande parte dele pagando juros.
Por isso, sempre use o indicador em conjunto com outras métricas. Analise também o fluxo de caixa livre, a qualidade dos lucros e as perspectivas do setor antes de tomar decisões.
Compare empresas do mesmo segmento sempre que possível. Um EV/EBITDA de 8 pode ser caro para uma empresa de energia elétrica, mas barato para uma de software.
O EV/EBITDA se consolidou como uma ferramenta valiosa para investidores por sua capacidade de simplificar comparações complexas. Quando usado com critério e complementado por outras análises, ele pode ajudar a identificar oportunidades interessantes no mercado de ações.