OpenAI e Microsoft: tensões ficam em alta enquanto disputam controle da IA (JASON REDMOND / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 17 de junho de 2025 às 09h24.
Nos últimos meses, a parceria entre a OpenAI e a Microsoft, que há anos era considerada uma das mais bem-sucedidas no setor de tecnologia, tem se deteriorado rapidamente.
O que começou como uma colaboração mútua para revolucionar a inteligência artificial (IA) agora está no epicentro de uma disputa complexa sobre controle, lucros e a futura direção de ambas as empresas.
O motivo dessa tensão crescente não é apenas a concorrência no mercado de IA, mas também questões fundamentais sobre propriedade intelectual, participação acionária e a busca da OpenAI por maior independência.
Segundo o Wall Street Journal (WSJ), os desacordos estão se tornando cada vez mais visíveis, com negociações difíceis e uma possível reestruturação à vista.
A raiz das tensões aconteceu em 2023, quando as duas empresas começaram a se ver não mais como parceiras, mas como concorrentes. Até então, a Microsoft havia sido a principal investidora da OpenAI, oferecendo não apenas financiamento, mas também sua infraestrutura de nuvem, Azure, para suportar a pesquisa em IA da startup.
Ao longo dos anos, o relacionamento cresceu, com a Microsoft aumentando sua participação, investindo cerca de US$ 14 bilhões até 2024. A Microsoft obteve acesso exclusivo aos modelos de IA da OpenAI, integrando-os em produtos como o GitHub Copilot, o Bing e o Microsoft 365 Copilot, além de ser o único provedor de computação para os sistemas da OpenAI.
À medida que a OpenAI começou a expandir suas operações, surgiram divergências. Um marco importante foi a aquisição da startup de codificação Windsurf, que desenvolve uma ferramenta concorrente ao GitHub Copilot da Microsoft. Esse movimento não só irritou a Microsoft, mas também gerou preocupações sobre o futuro do acordo entre as duas empresas.
A OpenAI, em sua busca por maior autonomia, não quer compartilhar a propriedade intelectual adquirida da Windsurf com a Microsoft, apesar de o contrato entre as empresas prever que a gigante de Redmond tenha acesso a toda a tecnologia da OpenAI.
Além disso, a OpenAI está se preparando para se tornar uma empresa com fins lucrativos de pleno direito, após sua transição em 2019 para um modelo híbrido de “lucro limitado”. A necessidade de buscar uma oferta pública inicial (IPO) está forçando a OpenAI a reavaliar os termos da parceria com a Microsoft, o que inclui questões sobre participação acionária e controle financeiro. Embora a Microsoft tenha investido pesadamente na OpenAI, o desejo da startup de IA por independência está colocando em risco a divisão de lucros que existia entre as duas.
Em 2025, o cenário se torna ainda mais tenso. A OpenAI não apenas deseja reduzir sua dependência da Microsoft, mas também diversificar suas parcerias com outros provedores de nuvem, como Google Cloud e Oracle, segundo o WSJ. Esse movimento, exemplificado pelo projeto “Stargate”, uma infraestrutura ambiciosa para IA, visa reduzir a exclusividade de seu acordo com a Microsoft e expandir as opções de computação para a empresa. A OpenAI está investindo bilhões em novos contratos de infraestrutura, que, segundo analistas, podem ultrapassar os US$ 13 bilhões em 2025, uma quantia substancial que coloca pressão sobre a Microsoft.
As tensões financeiras entre as duas empresas aumentaram à medida que as negociações sobre a divisão de lucros e a participação acionária chegaram a um impasse. De acordo com fontes do WSJ, a Microsoft está buscando aumentar sua participação na OpenAI, agora que ela está se tornando uma entidade lucrativa, enquanto a OpenAI deseja manter o controle maior sobre seus lucros futuros.
A Microsoft quer garantir uma fatia significativa dos lucros da OpenAI, dado seu papel essencial no financiamento e na infraestrutura da startup. No entanto, a OpenAI está tentando negociar uma redução dessa participação em troca de mais independência e maior controle sobre seus recursos financeiros.
Atualmente, a Microsoft possui direitos exclusivos sobre a venda dos modelos da OpenAI, como o ChatGPT, através de sua plataforma Azure. Mas, agora, a OpenAI busca parcerias com outros fornecedores de nuvem para diminuir sua dependência de um único provedor. O movimento para diversificar os parceiros de infraestrutura de nuvem pode resultar em uma competição direta com a Microsoft, que vê sua relação com a OpenAI como um componente estratégico essencial para o crescimento de seu Azure e outros produtos baseados em IA.
Além das disputas financeiras, a questão regulatória também está em voga.
A OpenAI considera acusar a Microsoft de práticas anticompetitivas e buscar uma revisão federal do contrato entre as empresas. Esse movimento, descrito por fontes do WSJ como uma “opção nuclear”, poderia acirrar ainda mais a tensão entre as duas e resultar em uma reestruturação completa da parceria.
A ameaça de ação antitruste, embora não confirmada oficialmente, está sendo analisada por executivos da OpenAI como uma forma de garantir maior autonomia e proteger seus interesses à medida que a empresa se prepara para se tornar uma entidade com fins lucrativos de pleno direito.
As autoridades regulatórias também têm observado de perto essa parceria. A Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC) iniciou uma investigação sobre as práticas da Microsoft, especialmente em relação ao seu investimento na OpenAI, que pode ser vista como uma forma de fortalecer o controle da Microsoft sobre o setor de IA. No Reino Unido, a Autoridade de Concorrência e Mercados concluiu que a Microsoft não tem controle efetivo sobre a OpenAI, mas ainda assim, o desenvolvimento da parceria continua a ser monitorado de perto pelas autoridades.