Redator
Publicado em 7 de setembro de 2025 às 08h27.
Chocolates, relógios, bancos e agora a oferta de um modelo de inteligência artificial de código totalmente aberto: é dessa forma que a Suíça se posiciona globalmente também como uma referência em tecnologia de ponta.
Nesta terça-feira, 2, universidades suíças anunciaram o lançamento do Apertus (“aberto”, em latim), um grande modelo de linguagem (LLM) que, como o próprio nome diz, tem código aberto. Segundo os desenvolvedores, o desempenho é comparável ao Llama 3, modelo da Meta lançado no primeiro semestre do ano passado.
Apesar disso, a equipe suíça destaca que não busca competir com os orçamentos bilionários das empresas dos EUA ou da China, muito menos ser uma alternativa direta para o ChatGPT (OpenAI), o Gemini (Google) ou o Claude (Anthropic). O objetivo é criar um sistema de IA mais seguro e acessível para pesquisadores e empresas, do setor público ou privado, com foco no continente europeu.
Para isso, os suíços aceitam sacrificar recursos voltados ao público geral em favor de um modelo mais controlado e adequado às necessidades locais. “Nosso objetivo é fornecer um modelo de como desenvolver uma IA confiável, soberana e inclusiva”, afirmou Martin Jaggi, professor do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Lausanne (EPFL).
Desde o lançamento do ChatGPT em 2022, a inovação em IA tem sido frenética, com empresas apresentando novos modelos ou atualizações regularmente. Contudo, também são frequentes problemas como “alucinações” e viés nas respostas geradas pela IA, além de processos por violação de direitos autorais no uso de dados para treinamento dos modelos.
Assim, modelos como o Apertus se apresentam como uma alternativa, permitindo que os usuários verifiquem como a IA funciona, sem a opacidade das versões proprietárias. Diferentemente da chinesa DeepSeek, que não revela a forma como foi construída, o modelo suíço oferece total transparência, com manual de design e fórmula de treinamento acessíveis ao público.
Desse modo, pesquisadores, programadores, startups e empresas podem baixar o modelo e implementá-lo em seus próprios servidores, garantindo controle sobre os dados utilizados. Já estão sendo exploradas aplicações nas áreas de saúde, educação e clima.
Embora a iniciativa tenha sido bem recebida, especialmente pela Swiss Bankers Association, que vê potencial a longo prazo no setor financeiro, a competição de grandes rivais internacionais é um grande desafio. Bancos suíços como o UBS já utilizam soluções de IA de empresas como OpenAI e Microsoft.
A Swissmem, que representa as indústrias de engenharia elétrica e de máquinas da Suíça, acredita que o Apertus pode ser uma alternativa interessante para empresas locais, por respeitar as regulamentações europeias de dados. No entanto, a adesão em massa ainda é incerta.
Por isso, o desafio para as empresas – e a prova de fogo para o sucesso da empreitada suíça – será equilibrar a transparência e a segurança dos dados oferecidas pelo Apertus com a velocidade, precisão e profundidade das respostas.