Inteligência Artificial

Para o autor de Sapiens, IAs são concorrentes diretas da espécie humana

Harari diz que IAs disputarão espaço com humanos em todos os domínios da sociedade

 Yuval Harari: autor do livro "Sapiens" alertou que o primeiro setor afetado pela IA será o mercado financeiro. (Jakubaszek/Getty Images)

Yuval Harari: autor do livro "Sapiens" alertou que o primeiro setor afetado pela IA será o mercado financeiro. (Jakubaszek/Getty Images)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 30 de junho de 2025 às 08h57.

O avanço das inteligências artificiais pode gerar um entusiasmo, mas também causar a maior mudança social da história, ao criar o que o historiador Yuval Noah Harari chama de uma “classe inútil”: milhões de pessoas que perderão relevância no mercado de trabalho diante de computadores capazes de tomar decisões sozinhas.

O autor de “Sapiens” alertou sobre as prováveis mudanças que ocorrerão em uma 'revolução da IA', em conversa com a jornalista Poppy Harlow, durante o CEO Council Summit, promovido pelo Wall Street Journal.

Para Harari, a diferença fundamental da IA em relação a qualquer tecnologia anterior é que ela não é apenas uma ferramenta, mas um agente autônomo, capaz de aprender, criar novas ideias e agir sem intervenção humana. “Pela primeira vez em dezenas de milhares de anos, temos concorrência no planeta. Todas as invenções anteriores, como a prensa ou a bomba atômica, precisavam de nós. A IA não”, afirmou.

Segundo ele, tentar programar IAs para agirem em benefício da humanidade não é garantia de segurança, levando em conta que sistemas autônomos aprendem com o comportamento humano - inclusive os negativos, como mentiras, corrupção e abusos. “Se dizemos às IAs para não mentirem, mas elas veem os humanos mais poderosos do mundo mentindo, elas vão copiar o comportamento, não as instruções”, afirmou ao WSJ.

Substituição de setores de informação

Um dos impactos mais imediatos, segundo Harari, será no mercado financeiro, por ser um setor completamente informacional. “Você ainda não vê dezenas de milhares de veículos autônomos nas ruas porque há obstáculos físicos. Mas, nas finanças, é só informação entrando e saindo. A IA vai dominar isso rapidamente”, disse. Ele prevê o surgimento de instrumentos financeiros tão complexos que o cérebro humano não conseguirá entender.

Mesmo para setores onde o impacto parece menor hoje, Harari alerta que é só questão de tempo até a revolução chegar. Ele comparou o momento atual à Inglaterra de 1835, quando havia quem duvidasse do impacto dos trens. “Diziam: ‘Já temos ferrovias há cinco anos, nada mudou’. Mas sabemos hoje que a Revolução Industrial transformou tudo. Vai acontecer o mesmo com a IA.”

Impactos políticos e sociais

Outro risco é a corrida armamentista entre países e empresas, que temem ficar para trás se reduzirem o ritmo de desenvolvimento para priorizar segurança. “Mesmo que soubessem que seria melhor desacelerar, têm medo de que quem não parar conquiste o mundo.”

Além disso, Harari comparou a chegada da IA a uma imigração digital em massa, formada por milhões de novos agentes inteligentes que disputarão empregos, imporão novos valores culturais e poderão até buscar poder político. “Eles não precisam de vistos nem atravessam o mar em botes precários. Eles chegam à velocidade da luz.”

Para o autor, o futuro da IA não está predeterminado, mas dependerá de escolhas políticas e empresariais. “A mesma tecnologia pode criar sociedades totalmente diferentes. Tivemos o mesmo no século XX, quando usamos as mesmas tecnologias para construir democracias liberais ou regimes totalitários", disse. 

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