Repórter
Publicado em 6 de maio de 2025 às 13h52.
Última atualização em 6 de maio de 2025 às 14h34.
*BOSTON | Um bilhão de novos aplicativos com inteligência artificial devem ser criados nos próximos três anos, segundo projeções da IBM. O problema: a maioria das empresas ainda não está pronta para integrar e manter tudo isso funcionando com segurança, escala e eficiência. O cenário indica para o caos.
Mas há forma de impedir a previsão. A receita, ao menos no papel, parece simples: sistemas que se conectam, processos automatizados e plataformas padronizadas que evitem que cada equipe crie suas próprias soluções isoladas — difíceis de manter, testar e proteger.
“Estamos vendo empresas que correram para a nuvem, mas fizeram isso de forma improvisada”, disse Armon Dadgar, cofundador da HashiCorp, comprada pela IBM em 2024. “Chegaram, mas chegaram fragmentadas.”
O resultado dessa pressa é visível: aplicações lentas para evoluir, altos custos operacionais e risco ampliado. “Se você tem 500 times desenvolvendo de 500 jeitos, você não tem eficiência — você tem um passivo operacional”, afirmou Dadgar.
Para resolver esse cenário, a IBM anunciou no Think 2025 o WebMethods Hybrid Integration, uma nova plataforma de integração que conecta APIs, dados e eventos de sistemas diferentes — incluindo servidores locais e até mainframes.
A ferramenta inclui o Hybrid Control Plane, um painel central de comando que dá às equipes de TI visibilidade em tempo real sobre falhas e gargalos. “Imagine um varejista de luxo recebendo uma ligação urgente: a entrega de fim de ano não chegou à loja principal. Encontrar o problema entre sistemas desconectados pode levar horas”, disse Madhu Kochar, vice-presidente da IBM. “Com esse painel, você localiza o erro e age imediatamente.”
Segundo a empresa, companhias que já adotaram o modelo conseguiram reduzir em até 40% o tempo de inatividade dos sistemas.
Outro recurso do WebMethods são os agentes inteligentes de integração. Com eles, tarefas como conectar sistemas internos, configurar APIs, testar e monitorar o funcionamento das integrações podem ser automatizadas.
“Você tem uma ideia de aplicação na segunda-feira e consegue ter APIs prontas para produção na terça”, afirmou Madhu. Em um caso interno citado pela empresa, o tempo de construção de uma integração caiu de 200 horas para apenas uma hora.
Ela citou ainda o exemplo de uma equipe de marketing que precisa lançar uma campanha de primavera. Aparentemente simples, o projeto exige a conexão de nove sistemas diferentes. “Hoje isso leva semanas. Com os agentes, é possível automatizar quase tudo, com envolvimento humano apenas nos pontos críticos.”
A IBM também demonstrou um novo recurso da plataforma Concert, batizado de Resilience Posture. A proposta é oferecer uma visão unificada da saúde das aplicações — como um eletrocardiograma para o ecossistema digital das empresas.
“Você começa o dia com o painel do Concert, vê o que está verde, amarelo ou vermelho. Se algo apresenta risco de disponibilidade, o sistema detecta automaticamente com WatsonX, sugere ações baseadas nas práticas do nosso time de confiabilidade e executa o fluxo em minutos”, explicou Rob Thomas.
Com um clique, é possível gerar tickets, aprovar mudanças e até criar scripts de correção — algo que, segundo Thomas, antes levava semanas e agora pode ser resolvido em questão de horas. “É como se a TI finalmente tivesse um batimento cardíaco visível. Um ritmo confiável para guiar decisões em tempo real”.
Um dos pontos mais críticos — e menos visíveis — da automação está na segurança. Empresas gastam boa parte do tempo técnico em tarefas como atualização de servidores e correção de vulnerabilidades, o chamado patching. Sem isso, a operação pode parar.
“Chega um ponto em que as equipes só fazem patch. Correm para ficar no mesmo lugar. E não conseguem entregar valor ao negócio”, disse Peter Leukert, da Deutsche Telekom IT. Preocupado com o avanço das vulnerabilidades, ele procurou a IBM para buscar uma solução.
A resposta veio em forma de uma ferramenta interna da própria IBM, adaptada e aplicada na operadora. “Com ela, conseguimos fazer quatro vezes mais patching em 20% do tempo”, relatou. A empresa está em processo de automatizar 100% das atualizações de seus sistemas — de bancos de dados a middleware — e pretende usar a plataforma como fonte oficial de auditoria.
“Não é a parte sexy da tecnologia, mas é o nosso dever básico: proteger os dados dos clientes. A única maneira de fazer isso em escala é com automação total”, afirmou Leukert.
A tese defendida pela IBM é que a IA, para funcionar de verdade, precisa ser sustentada por uma infraestrutura confiável, padronizada e quase invisível. Não se trata mais de experimentar novas ferramentas, mas de integrar tecnologias com maturidade operacional.
“Você não pode mais depender de integrações rígidas e ferramentas que não escalam. Elas não vão funcionar no mundo com mais de um bilhão de apps interagindo”, disse Madhu Kochar.
Para a IBM, quem conseguir automatizar esses bastidores agora vai operar com mais velocidade, menor custo e maior segurança nos próximos anos — uma vantagem difícil de recuperar depois.
*O jornalista viajou a convite da IBM.