Patrocínio:
Luís Gonzaga Trabasso, pesquisador-chefe do Insituto SENAI de Inovação, em Joinville. (André Kopsch/Divulgação)
Editor da Região Sul
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 18h13.
Última atualização em 16 de outubro de 2025 às 18h22.
Pela janela da sua sala, no segundo andar, o pesquisador-chefe do Instituto SENAI de Inovação, Luís Gonzaga Trabasso, monitora, literalmente, em tempo real, as obras dos três novos centros tecnológicos que prometem transformar Joinville, no Norte de SC, em um polo de excelência em desenvolvimento de equipamentos de grande porte para o setores de óleo e gás. O investimento total será de R$ 380 milhões, viabilizado por meio de uma parceria entre o SENAI/SC e a Petrobras.
A EXAME teve acesso aos novos projetos com exclusividade. Gonzaga foi professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), por 35 anos, na área da engenharia mecânica. Fez douturado em Londes e pós-doutorado na Suécia.
Apesar da extensa titulação acadêmica e publicação de artigos científicos reconhecidos globalmente, seu olho brilha mesmo quando está mexendo nas máquinas ou desenvolvendo novas ideias. Bem humorado, admite que os cientistas brasileiros de excelência são mais reconhecidos no exterior do que no próprio país.
Mas quando cogitava trocar o jaleco pelo pijama, após aposentar-se no ITA, foi convencido a assumir o novo desafio no SENAI catarinense. Sem abandonar o tom professoral, Gonzaga fala de maneira simples e didática sobre a missão técnica de cada um dos novos laboratórios. Uma verdadeira aula sobre a pesquisa científica verde-amarela de ponta em energia e combustíveis.
A maior estrutura será a do Centro Tecnológico de Equipamentos Mecânicos para Operações de Óleo e Gás (Cetemo). O projeto, apresentado pelo SENAI de Santa Catarina, foi selecionado em chamada pública da Petrobras, em nome do Consórcio Libra - parceria entre a estatal, a Shell Brasil, TotalEnergies E&P, CNOOC Petroleum Brasil e CNODC Brasil.
O Cetemo, orçado em R$ 280 milhões, se une aos Centros de Tecnologia Robótica e a Laser, que também são resultado de parceria entre os Institutos SENAI de Inovação em Joinville e a Petrobras. Os acordos foram firmados em 2023 e os dois centros estão em fase de implantação, com mais de R$ 100 milhões em investimentos.
Essas duas estruturas estarão focadas na evolução tecnológica em manutenção aditiva a laser e robótica para o setor de óleo e gás. Entretanto, outros segmentos industriais, como o automotivo, aeroespacial, energia, naval, mineração e de transporte, também serão beneficiados.
O presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), Gilberto Seleme, afirma que a nova estrutura traz uma série de oportunidades para a ampliação da competitividade nacional no setor de óleo e gás e para o desenvolvimento da cadeia metalmecânica da região. “O Brasil passa a incorporar uma tecnologia que ainda não domina e, de imediato, Santa Catarina se beneficiará de parcerias internacionais”, explica.
“Além disso, o novo centro promoverá o desenvolvimento de uma cadeia nacional e regional de suprimentos”, acrescenta Seleme, ao lembrar que, em um raio de 100 quilômetros de Joinville, existem pelo menos uma dezena de indústrias de fundição que podem absorver o fornecimento de peças de elevado valor agregado à Petrobras e outras empresas do setor, " diz.
O Cetemo inclui edificação física de 3,3 mil metros quadrados e aquisição de equipamentos inéditos no Brasil. A nova estrutura deverá entrar em operação em aproximadamente 36 meses. Ao todo serão 15 mil metros quadrados de área construída destinada aos três centros e deverão estar totalmente concluidas em 36 meses.
Fabrízio Pereira, diretor regional do SENAI/SC (Filipe Scotti)
“O modelo de negócios a ser adotado prevê o uso das máquinas por empresas parceiras para a fabricação de componentes, mas sua ênfase continuará nas atividades-fim do SENAI: desenvolvimento de novas tecnologias, que é o foco dos institutos de inovação, além da educação profissional”, informa o diretor regional do SENAI/SC, Fabrízio Pereira.
Nos últimos anos, os Institutos de Inovação do SENAI em Joinville e em Florianópolis desenvolveram uma série de equipamentos, dentre os quais, estão os robôs de pintura de plataformas marítimas (que aumenta a segurança do trabalho e reduz custos) e de limpeza de dutos do pré-sal (também visando à redução de custos).
“Os centros tecnológicos que estamos estruturando são plataformas estratégicas que fortalecem a capacidade da indústria brasileira de desenvolver soluções de alto valor agregado e impulsionam a formação de talentos”, elenca Pereira, que também não esconde o entusiasmo ao falar sobre a revolução silenciosa em curso por conta da rede de centros de inovação.
Cézar Siqueira, gerente geral de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o desenvolvimento da produção do Centro de Pesquisas CENPES da Petrobras, explica que o investimento em tecnologia nacional e o fortalecimento da cadeia de fornecedores brasileiros são compromissos da entidade. “Os centros tecnológicos que estão sendo desenvolvidos são fundamentais para acelerar a inovação em áreas estratégicas e ampliar a competitividade da indústria nacional”, frisa.
Segundo o gerente de Tecnologias Aplicadas da Petrobras, Vinicius de França Machado, os resultados esperados são “a pesquisa e desenvolvimento de novas soluções mecânicas, a construção e testagem de protótipos de novas tecnologias e a realização de engenharia reversa e análise de falha de equipamentos danificados em busca de melhorias”.
Exemplo do que pode ser fabricado em Joinville são os conectores para dutos do pré-sal. "Estes dispositivos têm peso e dimensão da ordem de 10 toneladas e mais de 40 polegadas de diâmetro. São produzidos com as ligas de aço duplex e superduplex. Quando são conectados aos dutos, é necessário que seja garantido vazamento zero, ou seja, nenhuma gota de petróleo pode cair no oceano”, explica o pesquisador-chefe do SENAI de Joinville
Já o Centro de Tecnologia Robótica será composto por uma nova estrutura física e equipamentos para o desenvolvimento de robôs para o setor industrial. "Especialmente para testes e simulados de tecnologias off-shore e on-shore”, explica Gonzaga. Entre seus laboratórios, o CT Rob terá uma piscina para testes de resistência de itens submersos.
O Centro de Tecnologia a Laser, por sua vez, prevê a aquisição, entre outros equipamentos, de um tomógrafo da alemã Zeiss, e a certificação com o instituto Norueguês DNV (Det Norske Veritas), referência mundial em seguridade de estruturas marítimas.