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Redação Exame
Publicado em 24 de agosto de 2025 às 11h00.
O Banco Central redesenhou o Drex antes mesmo de sua estreia plena. A moeda digital brasileira, que no piloto operava sobre blockchain permissionada, será lançada em 2026 sem registro distribuído e sem tokenização nativa. No lugar, adotará uma arquitetura centralizada, integrada ao Pix, com foco inicial na conciliação de gravames e na circulação mais ágil e segura de ativos usados como garantia.
Uma escolha pragmática, pois opta por entregar valor imediato para depois sofisticar. É a mesma lógica que fez o Pix conquistar 160 milhões de usuários, começando pelo que resolve um problema e escala rápido.
O piloto do Drex usava Hyperledger Besu, permitindo transações e contratos inteligentes entre participantes autorizados. O novo desenho prioriza três pontos: desempenho (com potencial para mais de 100 mil transações por segundo), segurança (menor superfície de ataque cibernético) e governança (integração total ao sistema de liquidação do Pix).
Outros países seguiram caminhos semelhantes. O Project Hamilton (Fed de Boston + MIT) descartou a blockchain ao alcançar alta performance com privacidade preservada. O e-CNY chinês nasceu centralizado, e o Sand Dollar das Bahamas adotou a mesma rota para acelerar a inclusão financeira.
Enquanto a camada pública de tokenização fica para depois, o setor privado acelera. A Vert Capital tokenizou R$ 130 milhões em CRAs, com meta de chegar a R$ 500 milhões. O BTG Pactual mantém o Reitz, token imobiliário pioneiro no mundo. Vórtx QR e Bee4 já movimentam centenas de milhões em ativos digitais. No campo ESG, a Ekonavi criou o EkoToken para financiar projetos de agrofloresta, premiado no G20 TechSprint 2024, e a moeda social Recifes Digitais busca a inclusão de nanoempreendedores.
Vale destacar ainda que a ANBIMA lidera um grupo de trabalho com CVM e BC para criar padrões técnicos e regulatórios, preparando o terreno para integração futura.
A nova arquitetura abre janelas estratégicas:
• Bancos podem oferecer crédito mais competitivo, com liquidação quase imediata e risco operacional menor.
• Seguradoras podem criar seguros paramétricos com pagamentos automáticos, integrados a eventos e dados confiáveis.
• Financeiras podem explorar nichos com crédito lastreado em ativos tokenizados privados, integrando-se à liquidação central.
No médio prazo, interoperabilidade com plataformas privadas permitiria a bancos criar marketplaces de ativos tokenizados, seguradoras ampliar a precificação dinâmica de risco e financeiras distribuir crédito garantido em tempo real.
Mas há um ponto de atenção: o risco de fragmentação tecnológica não está mais no Drex, e sim nos bancos, plataformas e emissores que precisam se conectar a mercados tokenizados fora do alcance do BC. Sem padrões claros de ponte, cresce o custo de integração, a duplicidade de processos e a perda potencial de liquidez.
Alguns antídotos já são possíveis:
• Bancos: criar produtos com camada de adaptação separando lógica de negócios da liquidação e exigir APIs abertas e compatibilidade.
• Plataformas e emissores: adotar padrões de token taxonomy e mapping entre redes para facilitar wrapping/mirroring no futuro, além de participar ativamente de fóruns regulatórios.
O Brasil opera hoje com três forças transformadoras: Pix, Drex e tokenização privada. Separadas, já mudam o jogo. Juntas, podem redefinir a base de liquidação e circulação de valor.
Minha leitura: a convergência é inevitável e o que está em jogo agora são prazos, regras e padrões. Nesse cenário, é imperativo que entidades privadas como ANBIMA, Febraban, ABBC, ABCripto, ABFintechs e outras atuem de forma coordenada para estabelecer protocolos que garantam interoperabilidade entre o ecossistema de tokenização e a infraestrutura do Drex.
A capacidade de alinhar interesses e criar essas pontes, mesmo em um ambiente competitivo, será determinante para definir um ciclo ainda mais robusto do sistema financeiro brasileiro.
*Marcelo Oliveira é Diretor de Estratégia da Verity.
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