Oncoclínicas: Com alavancagem pressionada, companhia propôs aumento de capital de até R$ 2 bilhões (Oncoclínicas/Divulgação)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 16h00.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 16h12.
A pressão financeira na Oncoclínicas já está se traduzindo em desafios competitivos e deve abrir uma boa janela de oportunidade para a Rede D’Or crescer no mercado de oncologia, aponta o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
“De acordo com nossas checagens de canal, alguns médicos da Oncoclínicas estão procurando oportunidades com concorrentes. Acreditamos que essa tendência pode se acelerar”, disse a equipe liderada por Samuel Alves em relatório.
Pelas contas do banco, de 2019 a 2024, a companhia fundada por Bruno Ferrari saiu de um market share de 6% para 15% do mercado de oncologia, enquanto a Rede D’Or viu sua fatia subir num ritmo bem menor, de 3% para 7%.
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Os cálculos consideram o mercado de infusões de quimioterápicos e afins, sem incluir cirurgias e outros tipos de tratamento. Trata-se de um mercado que representa cerca de 15% dos gastos totais com saúde do país e vem crescendo a uma taxa anual de mais de 10% entre 2021 e 2024.
“Se a Rede D’Or conseguir capturar metade dos ganhos de market share da Oncoclínicas desde 2021, isso implicaria uma receita incremental de 30% no segmento ao longo dos próximos três anos”, calcula o BTG. Seria um ganho de um dígito baixo a médio na receita total dos hospitais. A oncologia representa 11% da receita dos hospitais do grupo.
A sobreposição geográfica entre as duas empresas reforça a percepção. A Oncoclínicas tem operações em 35 cidades de 18 estados, com a maior parte concentrada em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Distrito Federal. A Rede D’Or é forte em todas essas localidades, com exceção de Minas Gerais.
Os ganhos de market share seriam graduais, principalmente por conta da forma como o setor se organiza. Um dos principais diferenciais competitivos da Oncoclínicas é sua rede de médicos especialistas, por onde chegam os pacientes. Nas contas do BTG, a companhia tem cerca de 18% dos 6,6 mil oncologistas do Brasil.
Para reter os talentos, a empresa opera com um programa de direitos de exclusividade, pelo qual os médicos assinam contratos de não competição, tipicamente pagos ao longo de quatro anos. É justamente aqui que novas pressões estão surgindo, diz o banco.
“Os contratos de exclusividade não previnem uma migração gradual de volumes ao longo do tempo”, escrevem os analistas.
A Oncoclínicas revolucionou o ambiente competitivo de oncologia nos últimos anos, principalmente por conta de sua estratégia de crescimento inorgânico. De 2019 a 2024, foram mais de 50 M&As focados em diversificação geográfica e recrutamento de oncologistas.
Mas a expansão não se traduziu em geração de caixa. Mesmo após um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão feito no ano passado, o balanço segue pressionado, com alavancagem de 4,4 vezes dívida líquida/Ebitda, acima dos covenants de 3,5 vezes. O aporte foi liderado por Daniel Vorcaro, do Banco Master, que também enfrenta dificuldades.
Recentemente, a gestora Starboard, especializada em ativos estressados, fez uma proposta de injeção de equity e aquisição de dívidas conversíveis, condicionada a mudanças no conselho e na diretoria.
O conselho da Oncoclínicas rejeitou a oferta e propôs um aumento de capital privado de até R$ 2 bilhões, que deve contar com conversão de dívida. Isso ajudaria a aliviar a pressão de curto prazo, pondera o BTG, mas ainda deixaria a companhia vulnerável.
“A incerteza de governança, combinada com a pressão sobre o balanço, aumenta o risco de contratempos operacionais adicionais, criando uma oportunidade para competidores, em especial a Rede D’Or”, afirmou a equipe.