Exame IN

Nos genéricos do Ozempic, uma injeção de margem para o varejo farmacêutico

Queda da patente do carro-chefe da Nova Nordisk pode ter efeito significativo sobre os lucros de redes como a RD Saúde, aponta Itaú BBA

Olire e Lirux, da EMS: Genéricos da liraglutida, princípio ativo do Saxenda, acabam de chegar ao mercado (Leandro Fonseca/Exame)

Olire e Lirux, da EMS: Genéricos da liraglutida, princípio ativo do Saxenda, acabam de chegar ao mercado (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 4 de agosto de 2025 às 17h16.

Última atualização em 4 de agosto de 2025 às 18h38.

A chegada dos genéricos de análogos de GLP-1 no Brasil promete derrubar os preços das canetas para tratamento de obesidade– e, ao mesmo tempo, deve engordar as margens e as vendas das redes de farmácias no país, aponta o Itaú BBA em relatório.

“Por um lado, devemos esperar preços mais baixos. Por outro lado, margens mais altas e uma potencial expansão do mercado”, afirma a equipe liderada por Rodrigo Gastim.

O movimento começou tímido esta semana, com a chegada às prateleiras do Olire, da EMS, um genérico da liraglutida, uma espécie de prima menos potente, mas mais acessível que o Ozempic. O divisor de águas deve vir no segundo semestre do próximo ano, quando cai a patente do Ozempic do país. Nas contas do BBA, medicamentos como ele e o WeGovy, ambos baseados em semaglutida, representam cerca de 5% das vendas da RD Saúde.

SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT no seu Whatsapp 

Uma análise de sensibilidade feita pelo banco mostra que o lucro estimado para dona da Raia e da Drogasil pode aumentar entre 6% e 11%, mesmo em cenários considerados conservadores com as vendas dos genéricos desses produtos.

Medicamentos genéricos, de maneira mais ampla costumam ter uma margem bruta bem maior para as varejistas que os de marca, girando entre 50% e 55%, explicam os analistas. Como a semaglutida, princípio ativo do Ozempic, é uma molécula complexa –  e, portanto, mais cara – eles usaram premissas menos agressivas.

No primeiro cenário, consideraram uma margem bruta de 25%, em cima de um preço 35% menor que o praticado hoje pelo medicamento de marca, sem considerar na conta um aumento das vendas. Nesse cenário, o lucro estimado para a RD Saúde já subiria 6%.

Assumindo a mesma queda de preço, mas uma margem bruta maior, de 30%, junto com 20% de aumento de volume, o efeito seria de um aumento de 11% no resultado da rede de drogarias.

É difícil cravar qual vai ser o desconto praticado e onde as margens vão ficar – por isso importa menos o número e mais a tendência. “Essas análises de sensibilidade ajudam a ilustrar como a queda de patente do Ozempic pode ser um vento de cauda significativo para as farmácias em 2026”, resume Gastim.

EMS, Cimed, Biomm e Hypera já estão se preparando para lançar suas versões genéricas da semaglutida no próximo ano. A questão ainda pende de decisão judicial: a Novo Nordisk está tentando estender sua patente no Brasil, alegando que o prazo de aprovação de 13 anos reduziu seu período de exclusividade.

Por enquanto, as cortes rejeitaram o argumento, e uma decisão final deve vir do STF, mas o mercado atualmente antecipa a entrada dos genéricos no próximo ano.

O Olire, lançado pela EMS, tem o mesmo princípio ativo do Saxenda, também da Novo Nordisk, cuja patente expirou no fim do ano passado no Brasil. O medicamento é menos eficaz para emagrecimento e menos conveniente, pois requer doses diárias, em vez das semanais do Ozempic. Por isso, representa uma fatia menor do mercado.

“Mas a performance do Olire pode dar uma leitura antecipada do que esperar quando os genéricos do Ozempic chegarem ao mercado no próximo ano”, ponderam os analistas do BBA

O preço joga a favor da liraglutida. Um pacote de Saxenda com três canetas custa cerca de R$ 725 (cerca de 60% mais barato que os R$ 1.699 do Wegovy). Se o Olire fir precificado cerca de 20% a 30% abaixo do Saxenda,  o custo de um ano de tratamento ficaria cerca de 30% abaixo do WeGovy, quando se considera a duração das canetas e a dose recomendada de progressão, calcula o banco.

“Enquanto esse gap de preço provavelmente não deve engatilhar uma migração entre os usuários de semaglutida, pode ajudar a expandir o mercado endereçável.”

Acompanhe tudo sobre:Indústria farmacêutica

Mais de Exame IN

Descoberta no pré-sal brasileiro pode mudar o jogo para a BP — e atrapalhar os planos da Shell

O timing das conversas entre iFood e Alelo

No BB, mais uma revisão negativa de lucros – e a sombra da Magnitsky

Para Temer, EUA exageraram ao aplicar lei Magnitsky: 'Preocupante'