Toque do sino é desfecho simbólico a uma saga de dois anos para listar empresa nos EUA
Editora do EXAME IN
Publicado em 25 de junho de 2025 às 17h57.
Última atualização em 25 de junho de 2025 às 20h09.
Nova York* — Na manhã desta quarta-feira, 25, o fundador da JBS, José Batista Sobrinho, de 91 anos, tocou o sino de abertura da Bolsa de Nova York, na companhia da esposa, Dona Flora, e dos seus filhos e acionistas controladores, Wesley e Joesley Batista, além de alguns executivos da empresa.
A imagem é talvez o maior símbolo do tamanho e da relevância da empresa que saiu de um pequeno açougue em Anápolis (GO) para se tornar uma das maiores empresas de alimentos do mundo, com faturamento que ultrapassou os US$ 78 bilhões em 2024.
O evento era a comemoração da listagem na JBS na Nyse, que teve início no último dia 13 – encerrando uma saga de pelo menos dois anos desde que a companhia anunciou sua mais recente intenção de ser negociada no mercado americano.
Mais do que um símbolo da história da companhia, no entanto, a listagem reflete seus planos para o futuro.
“Vamos seguir buscando oportunidades de expandir nossos negócios”, afirmou Wesley Batista logo na abertura do Investor Day que se seguiu à cerimônia – uma mensagem reforçada insistentemente ao longo de todo o evento por todos os executivos.
A companhia não deu guidance formal, mas sinalizou um piso: investimentos de pelo menos US$ 10 bilhões entre crescimento orgânico e M&As até 2030.
O crescimento de 4% a 6% na receita nos últimos dez anos pode ser considerado uma proxy para os os próximos cinco, o que levaria o faturamento a mais de US$ 100 bi.
Analistas, no entanto, veem espaço para uma ambição ainda maior, com a volta ao ritmo de expansão anterior a 2017, quando aquisições transformacionais como as da Seara e da Pilgrim’s Pride aumentaram a musculatura da empresa por meio de processos muito bem sucedidos de turnaround.
A listagem na Nyse dá uma moeda de troca poderosa para a companhia perseguir novas aquisições, já que as ações negociadas em Nova York têm uma estrutura de super voto, o que garante o controle à família Batista, mesmo com menos de 50% do capital.
E o plano é que essa moeda de troca passe a valer mais. O acesso a um pool muito maior de investidores que o da B3 abre espaço para a ser avaliada aos múltiplos mais elevados das empresas americanas – e convencer os investidores a fechar esse desconto é agora o mantra da companhia.
Usando estimativas conservadoras, a empresa fez um exercício para mostrar o potencial de valorização que enxerga nos seus negócios.
Hoje, a JBS é negociada a um múltiplo de 4,8 vezes seu EBITDA, pouco mais da metade das 8,4 vezes pelas quais outras oito companhias – como Tyson, Pilgrim’s Pride (controlada pela própria JBS) e a Hormel Foods – são negociadas na bolsa americana.
Somente o re-rating para esse patamar teria potencial para fazer as ações se valorizarem entre 130% e 150%, aponta a empresa.
Nesse novo patamar de múltiplo, se o crescimento de 6% a 7% anual do EBITDA dos últimos dez anos se mantiver nos próximos cinco, o potencial de alta das ações chega a até 300%.
Parte do re-rating deve vir da inclusão em índices passivos, que respondem por mais de 50% do volume negociado na Bolsa de Nova York. O primeiro passo seria a inclusão no Russell 1000, que pode acontecer já neste mês.
“Não sabemos se já vamos entrar neste rebalanceamento, que acontece na próxima sexta-feira”, diz o CFO Guilherme Cavalcanti. “É improvável, dado que a listagem oficial foi confirmada apenas em maio, mas não é impossível. Se não, isso vai acontecer no rebalanceamento de junho de 2026.”
No S&P 500, que tem um fluxo de US$ 16 trilhões em fundos passivos, a entrada é prevista em até três anos.
A conquista de investidores de perfil mais ativo, contudo, envolve mostrar que a JBS vai além da commodities e dos ciclos que marcam as carnes bovina, suína e de frango para um poder de preço maior em produtos de maior valor agregado.
A maior questão do mercado hoje é o quanto da receita vem desses produtos considerados de maior valor agregado.
“Esse número pode variar de 15% a 50% da receita, dependendo do que se considera conta”, afirmou o CFO Guilherme Cavalcanti, citando projeções feitas por casas de análise.
O piso considera apenas produtos efetivamente processados – como embutidos, nuggets, snacks, empanados e categorias similares.
O teto leva em conta tudo que tem de alguma forma algum tratamento, incluindo cortes mais simples de frango vendidos em bandeja, ou iniciativas como o Friboi+, a iniciativa pela qual a JBS assume o treinamento de açougues de grandes varejistas.
Não à toa, é nos processados que a companhia vê sua maior avenida de crescimento, seja no Brasil ou nos Estados Unidos. Nesse sentido, Wesley Batista Filho, CEO da operação americana (que representa 52% do faturamento da companhia) destacou a capacidade da companhia de construir marcas.
No Brasil, o exemplo foi a Seara, que saiu de uma empresa considerada de menor qualidade para um novo posicionamento, com uma marca com presença em mais de 93% das casas brasileiras e com um portfólio mais completo de produtos.
Nos Estados Unidos, o maior exemplo é a Just Bare, marca de frango sem aditivos e antibióticos que foi criada do zero pela companhia e já tem 11% de market share na categoria de produtos empanados. “O mesmo turnaround operacional que fazemos na operação das empresas nós fazemos nas marcas”, apontou o executivo.
Outras oportunidades de crescimento mais óbvias estão na operação de salmão, ainda pequena, apenas na Tasmânia, e também em ovos – a partir da aquisição da Mantiqueira no Brasil. “Queremos estar em todas as proteínas, sempre que houver potencial de escala e competitividade”.
Em ovos, nos Estados Unidos, o plano passa mais por expansão greenfield num primeiro momento, alavancando a experiência do parceiro nacional, do que necessariamente por aquisição.
Os M&As devem vir mais oportunisticamente. “M&A não é algo que você escolhe, tem que ter a oportunidade certa para criar valor. Estamos investindo mais em crescimento em orgânico porque não estamos vendo oportunidades que gerem valor para os acionistas. De tempos em tempos, as oportunidades aparecem”, afirmou Wesley Batista.
Questionado sobre quais seriam os alvos principais, Tomazoni desconversou sobre setores em específico, mas deixou claro o perfil de negócios, bem a la JBS: “Tem que ter um tamanho do mercado grande e a oportunidade de melhorar o negócio. Se pudermos operar bem e melhorar os resultados, é uma boa aquisição”, afirmou.
Bala na agulha não falta.
*A EXAME viajou à Nova York a convite da JBS