Mesmo com o crescimento, o Brasil caiu para a 7ª posição global em receitas recorrentes do futebol (Fernando Torres/CBF/Agência Brasil)
Repórter
Publicado em 17 de maio de 2025 às 06h00.
O futebol brasileiro viveu um ano histórico em 2024. Segundo o relatório da Sports Value, os 20 clubes com maiores receitas no país somaram R$ 10,9 bilhões, um crescimento de 21% em relação a 2023. O principal motor desse avanço foi o aumento expressivo nas transferências de jogadores, que geraram R$ 2,9 bilhões — alta de 53%.
Outras fontes de receita também cresceram:
Apesar da bonança nas receitas, os clubes enfrentaram déficit consolidado de R$ 1 bilhão em 2024. Os custos com futebol subiram para R$ 8,7 bilhões, crescimento de 26% em relação ao ano anterior. A dívida total dos 20 clubes chegou a R$ 12,2 bilhões, com destaque negativo para Corinthians (R$ 1,9 bi), Atlético-MG (R$ 1,4 bi) e Cruzeiro (R$ 981 mi).
Apesar da alta nas receitas, os custos com futebol também dispararam, atingindo R$ 8,7 bilhões — um aumento de 26% em relação a 2023. Isso significa que 80% da receita dos clubes foi consumida apenas com o futebol profissional.
Entre os clubes com maiores gastos estão:
Clube | Custo com Futebol (R$ mi) | % da Receita |
---|---|---|
Flamengo | 982 | 74% |
Palmeiras | 868 | 68% |
Corinthians | 760 | 68% |
São Paulo | 656 | 90% |
Fluminense | 547 | 80% |
Além disso, muitos clubes gastaram mais do que arrecadaram, como Bahia (149% da receita), Fortaleza (107%) e Cruzeiro (106%), todos administrados por SAFs.
Os principais clubes brasileiros tiveram um recorde histórico de receitas em 2024, R$ 10,9 bilhões. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelas transferências de jogadores, que representaram R$ 2,9 bilhões, além do crescimento em marketing (+36%), bilheteria (+22%) e sócio-torcedor (+17%), de acordo com a Sports Value.
No topo do ranking de receitas estão:
Flamengo: R$ 1,334 bilhão
Palmeiras: R$ 1,274 bilhão
Corinthians: R$ 1,115 bilhão
São Paulo: R$ 732 milhões
Fluminense: R$ 684 milhões
Atlético-MG: R$ 657 milhões
Athletico-PR: R$ 573 milhões
Internacional: R$ 517 milhões
Grêmio: R$ 509 milhões
Vasco: R$ 474 milhões
Os demais clubes do top 20 apresentam receitas que vão de aproximadamente R$ 459 milhões (Santos) até R$ 105 milhões (Ceará)
O modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que prometia profissionalização e equilíbrio financeiro, ainda não entregou resultados consistentes, segundo o relatório da Sports Value. Cruzeiro, Bahia, Vasco e Botafogo SAF apresentaram déficits elevados. Clubes associativos como São Paulo e Corinthians também registraram prejuízos expressivos.
Apesar do crescimento das receitas, a saúde financeira dos clubes ainda é preocupante devido ao alto endividamento. As dívidas dos 20 principais clubes ultrapassaram R$ 12 bilhões em 2024, um aumento de 22% em relação a 2023, quando o total era próximo a R$ 10 bilhões.
O ranking das maiores dívidas é liderado por:
Clube | Dívida (R$ bilhões) | Receita (R$ bilhões) | Relação Dívida/Receita |
---|---|---|---|
Corinthians | 1,9 | 1,115 | 1,7 |
Atlético-MG | 1,4 | 0,657 | 2,13 |
Cruzeiro | 0,98 | 0,372 | 2,63 |
Vasco | 0,93 | 0,474 | 1,96 |
São Paulo | 0,85 | 0,732 | 1,16 |
Internacional | 0,83 | 0,517 | 1,6 |
Palmeiras | 0,83 | 1,274 | 0,65 |
Bahia | 0,82 | 0,298 | 2,75 |
Santos | 0,65 | 0,460 | 1,41 |
Fluminense | 0,63 | 0,684 | 0,92 |
Grêmio | 0,56 | 0,509 | 1,1 |
Red Bull Bragantino | 0,41 | 0,425 | 0,96 |
Flamengo | 0,35 | 1,334 | 0,26 |
Esses números mostram que, mesmo clubes com receitas elevadas, como Atlético-MG e Cruzeiro, têm dívidas que superam em muito suas receitas anuais, refletindo desequilíbrios financeiros importantes.
Entre os clubes brasileiros, o Flamengo é o único a figurar entre os 30 clubes que mais geraram receita no mundo na temporada 2023/2024, com uma receita estimada em 198,2 milhões de euros (cerca de R$ 1,2 bilhão), segundo o estudo “Football Money League” da Deloitte. Essa é a primeira aparição do Flamengo no top 30 desde 1996/1997, destacando a evolução do clube no cenário internacional.
Para efeito de comparação, o líder global, Real Madrid, alcançou receitas superiores a 1 bilhão de euros (aproximadamente R$ 6,4 bilhões), seguido pelo Manchester City e Paris Saint-Germain, que também ultrapassam a casa dos 800 milhões de euros em receitas. O top 10 mundial é dominado por clubes europeus, especialmente da Premier League inglesa, que conta com seis representantes.
No Brasil, os três clubes com maiores receitas em 2024 foram Flamengo (R$ 1,334 bilhão), Palmeiras (R$ 1,274 bilhão) e Corinthians (R$ 1,115 bilhão). Essas receitas incluem direitos de transmissão, premiações, sócio-torcedor, transferências, marketing, bilheteria e outras explorações. O crescimento das receitas de marketing, especialmente com novos contratos de patrocínio, como casas de apostas, foi um dos principais motores do aumento das receitas brasileiras em 2024.
O relatório destaca o crescimento das receitas de marketing, impulsionadas por contratos com casas de apostas. No entanto, a poluição visual nos uniformes e a falta de ativações digitais inteligentes limitam o retorno para patrocinadores.
O ambiente digital também mostra potencial inexplorado. Clubes como Flamengo, Corinthians e Palmeiras lideram em seguidores e interações, mas ainda monetizam pouco suas audiências nas redes sociais. Ou seja, há espaço para crescer e ganhar dinheiro.
Mesmo com o crescimento, o Brasil caiu para a 7ª posição global em receitas recorrentes do futebol, atrás da MLS dos EUA, segundo a Sports Value. A Série A do Brasileirão é superada por Premier League, La Liga, Bundesliga, Seria A (Calcio), Ligue 1. Para se ter uma noção, a Premier League teve receitas de US$ 7,8 bilhões no ano passado, contra US$ 1,4 bilhão do Brasileirão.
A falta de receitas em moeda forte e a baixa presença internacional dos clubes brasileiros são apontadas pela Sports Value como entraves para a competitividade global.