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Pesquisa avaliou cenários econômicos a partir da taxação e os efeitos para energias limpas, como solar, eólica, bateria e veículos elétricos (Brendan Smialowski/AFP)
Repórter de ESG
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 11h56.
A guerra comercial imposta pelas tarifas do presidente americano Donald Trump podem comprometer a transição energética a nível global. A informação é de um estudo da consultoria McKinsey, realizada em parceria com a Oxford Economics, que avalia que o cenário de taxações altas pode estagnar a adoção de energias renováveis nos Estados Unidos e reduzir a utilização das fontes eólica e solar na União Europeia nos próximos dez anos.
A pesquisa formulou cenários sobre a cadeia de suprimentos de tecnologias para energia limpa em meio ao tarifaço. O primeiro, da “aceleração da produtividade”, assume taxações de 25% para baterias, 50% em painéis solares e 100% em carros elétricos da China. O segundo cenário, chamado de “Nenhuma disrupção real” prevê tarifas de 20% para produtos chineses, 25% para bens do México e Canadá e 52% para módulos solares do Sudeste Asiático.
O terceiro visualiza a “escalada das tensões globais”, partindo de tarifas de 60% para todos os bens da China e 20% para o restante dos parceiros comerciais. Esse cenário ainda assume que a União Europeia aplica taxas de 47% para painéis solares e baterias e 140% ao importar turbinas eólicas chinesas.
Hoje, a cadeia de suprimentos da energia solar está concentrada em países do sudeste asiático, especialmente na China. O motivo é presença de matérias-primas de baixo custo, como o silício. Dessa forma, o cenário de tensões globais poderia reduzir a capacidade solar em 2035 em 9% nos Estados Unidos e cerca de 7% na União Europeia.
A comparação é feita com o cenário de maior desempenho, o de produtividade, que estabelece que os Estados Unidos contarão com 553 GW instalados e a UE, 750 GW.
A energia eólica, por sua vez, tem a fabricação dividida entre nações como China, União Europeia, México e Estados Unidos. Quase 20% dos equipamentos eólicos que chegam aos Estados Unidos derivam da China. Dessa forma, nenhum dos cenários prevê uma alteração na capacidade eólica dos Estados Unidos. Já na União Europeia, que importa até 36% dos seus materiais, o efeito do cenário de tarifas altas pode gerar até 6% de queda na produtividade em 2035.
A pesquisa ainda avalia que nesse cenário, a energia eólica offshore deve enfrentar uma estabilidade que pode durar até o final dessa década nos Estados Unidos e um aumento de até três vezes na União Europeia.
'Brasil perde oportunidades em biocombustíveis por fatores geopolíticos', diz especialistaCom o domínio chinês no segmento de baterias e armazenamento energético, o levantamento avalia que o cenário de maior produtividade pode apresentar uma alta de 70% até 2035. Na comparação com essa taxa, o cenário de escalada das tensões globais pode gerar uma baixa de 4% na produtividade da energia nos Estados Unidos.
Já na União Europeia, com potencial de geração até seis vezes maior do que as taxas atuais, a queda com maiores tarifas seria de 10%.
Nos EUA, o tarifaço pode atrasar ainda mais a penetração dos veículos elétricos até 2035. No cenário de produtividade, a adoção deve ser de 14%. Na União Europeia, os EVs podem representar aproximadamente 50% das vendas na produtividade, enquanto na visualização de tensões globais pode influenciar o abandono de veículos com motor de combustão.
Apesar das pressões comerciais, os Estados Unidos devem manter o ritmo da transição energética pelo menos até 2035. A análise da McKinsey projeta que o país alcançará 69% de energia limpa em sua matriz no cenário de produtividade acelerada, comparado aos atuais 49%. Mesmo sob os cenários com tarifas, essa proporção permanecerá em 68%.
O gás natural, contudo, continuará expandindo sua participação na matriz americana. Em 2035, a fonte deve representar 29% da capacidade no cenário otimista e entre 30% e 31% nos cenários com tarifas maiores. A diferença sugere que as barreiras comerciais podem tornar o gás uma alternativa mais competitiva frente às renováveis importadas.
O verdadeiro impacto das tarifas, segundo o estudo, se manifestará após 2035. A manutenção de altas taxas de importação pode estagnar a expansão da participação de energias limpas na matriz americana no longo prazo, prejudicando as metas climáticas do país.
Na União Europeia, o cenário é mais otimista. A pesquisa indica que a velocidade da transição energética europeia provavelmente não será drasticamente alterada pela introdução de tarifas, devido à maior diversificação de fornecedores e às políticas internas de incentivo às renováveis.