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"Se devastarmos a Amazônia, arrebentamos o PIB brasileiro", diz diretor do IPAM

André Guimarães defende o "fim do desmatamento para ontem" e acredita na união entre o agronegócio e conservação, além de impulsionar a agenda como enviado climático da COP30

André Guimarães, diretor do IPAM: "O desmatamento precisa acabar e ponto e também precisamos parar de só restaurar milhões de florestas e começar de fato a plantar" (Divulgação)

André Guimarães, diretor do IPAM: "O desmatamento precisa acabar e ponto e também precisamos parar de só restaurar milhões de florestas e começar de fato a plantar" (Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 13 de junho de 2025 às 10h00.

A mudança climática não é um problema para ser romantizado e a solução está em aliar o agronegócio com a conservação ambiental. É o que defende André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento composto por mais de 400 organizações para promover o desenvolvimento sustentável. 

Escolhido pelo embaixador André Corrêa do Lago para ser um dos 30 enviados climáticos para a COP30 e com a missão de conectar a sociedade civil e outros setores na agenda, André ressalta a urgência da implementação de compromissos e é enfático: "O desmatamento precisa acabar e ponto e também precisamos parar de só restaurar milhões de florestas e começar de fato a plantar", destacou em entrevista exclusiva à EXAME.

Para o especialista, não é possível imaginar a agricultura no futuro sem vegetação nativa do lado. No Brasil, o setor é responsável pela maior parte das emissões, sendo fundamental adotar práticas regenerativas para a mitigação de carbono. 

"Se devastarmos a Amazônia, arrebentamos com a vegetação nativa, com o agro e com o PIB brasileiro. Também acaba com nossa perspectiva de futuro e gera instabilidade na segurança alimentar do planeta. Ou seja, é só maléfico", disse.

Atualmente, o setor representa 30% do PIB e um em cada quatro novos empregos. Apenas no Cerrado, a agricultura de baixo carbono poderia gerar US$ 100 bilhões, segundo um estudo recente do Boston Consulting Group (BCG)

Rumo à COP30 em Belém do Pará, André acredita que há uma enorme oportunidade do Brasil ser vitrine de soluções verdes e para mostrar o que já vem sendo feito. "É um equívoco dizer que essa é a COP da Amazônia, isto é reducionista. Na realidade, é a COP do mundo e para o mundo".

Para ele, o combate à mudança climática deve ser visto como um processo e não um ato, que começou há 30 anos e vai continuar. "O que nós temos que ter é tenacidade, não dá para recuar", enfatiza.

Combate ao desmatamento deve ser prioridade

À frente do IPAM desde 2015, André tem vasto conhecimento e engajamento em políticas públicas na Amazônia e faz uma distinção importante entre as estratégias necessárias para combater o desmatamento. Segundo ele, existem dois tipos que demandam abordagens diferentes: o ilegal e o legal ou legalizável.

"No caso do desmatamento ilegal, comando, controle, lei, cadeia, prisão, multa, é a punição, é a força do Estado. No caso do legal ou legalizável, o incentivo", explica. Para este último caso, o produtor rural "tem que ser compensado de alguma forma. Pode ser por pagamento de serviço ambiental, por mercado de carbono ou subsídio financeiro", complementou.

Agricultura e conservação 

Um dos principais focos da Coalizão Brasil é desfazer a falsa dicotomia entre produção agrícola e conservação ambiental. "Nossa missão é conciliar essa agenda de clima, florestas e agricultura. O que trabalhamos e preconizamos é exatamente o diálogo entre essas partes que aparentemente são opostas, mas que na realidade são interdependentes", argumenta.

Segundo André, em um Brasil em que 90% da agricultura não é irrigada e depende do ciclo natural da chuva, acabar com a vegetação significa colocar em risco a produção futura de alimentos. 

"É sobre aumentar a produção sem desmatar. Não é uma questão de ambientalista, e sim objetiva e pragmática", destacou.

Sobre a resistência de parte do setor produtivo às mudanças, o diretor do IPAM demonstra compreensão com o processo. "Nós estamos num momento de transição. Ainda em 2025, muitas pessoas têm uma visão do passado, enquanto outras instituições e empresas já têm uma visão mais atualizada e moderna", explicou.

Ele exemplifica: "É difícil quando você é um empresário. Seu pai fez de um jeito, seu avô fez do mesmo e todo mundo teve sucesso. E aí de repente alguém fala, temos que mudar a forma de fazer. Esse processo leva tempo".

Trump não pode "estragar a festa de todo mundo"

Sobre a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris anunciada no dia da posse por Donald Trump, André diz que não é mais possível recuar na agenda climática -- que é de todos nós. "Uma pessoa não pode ter o direito de estragar a festa de todo mundo. Então cabe a nós ignorar e fazer o que precisa ser feito", frisou.

O especialista também separa o governo americano e o Trump dos EUA. "No âmbito federal, os Estados Unidos tem essa diretriz negacionista e contra o clima. Mas lá, as empresas continuam trabalhando em prol da causa", concluiu.

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