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Quase metade das comunidades tradicionais da Amazônia já sofrem impactos das mudanças climáticas

Pesquisa pioneira com nove estados da região revela desigualdade climática: impacto é 10 pontos maior que na população geral e afeta especialmente na água, em alimentos e na saúde

Este é o primeiro estudo que relaciona saúde e mudanças climáticas sob um recorte específico de comunidades tradicionais (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Este é o primeiro estudo que relaciona saúde e mudanças climáticas sob um recorte específico de comunidades tradicionais (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 9 de outubro de 2025 às 12h00.

A crise climática deixou de ser uma ameaça futura e se tornou uma realidade preocupante na Amazônia Legal, reforçando a necessidade de um olhar pela lente da justiça climática. 

É o que revela uma pesquisa realizada pela Umane e Vital Strategies sobre a relação das mudanças climáticas com a saúde e pela primeira vez considerando DD

Às vésperas da COP30 sediada no coração do bioma, em Belém do Pará, os dados são um retrato da desigualdade climática: 42,2% dos povos e comunidades tradicionais — incluindo indígenas, quilombolas, ribeirinhos e seringueiros — já foram diretamente afetados pelas mudanças do clima e eventos extremos como chuvas, secas e ondas de calor. 

O número é relativamente maior do que os 32% registrados na população geral, evidenciando que os impactos atingem de forma desproporcional justamente quem mais preserva a floresta e quem menos contribui com as emissões de gases estufa. Ou seja: quem menos polui, "paga a conta".

"Enfrentar a crise climática na Amazônia é mais do que uma agenda ambiental, é saúde pública, proteção social e garantia de direitos", destacou Thais Junqueira, superintendente-geral da Umane.

Pedro de Paula, diretor executivo da Vital Strategies Brasil, complementou que os números revelam o tamanho do desafio, especialmente considerando que a maioria da população da região depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). 

O calor que pesa no bolso

Se o termômetro sobe, o orçamento familiar despenca. Entre os moradores da Amazônia Legal, 83,4% relataram aumento na conta de energia elétrica — o impacto mais citado da crise climática no dia a dia.

Em seguida do aumento da temperatura média mencionado por 82,4% dos entrevistados, vem a alta nos preços dos alimentos, que afeta 73% da população.

"Podem parecer porcentagens pequenas, mas, ao entendermos que representam em torno de 5 milhões de pessoas, fica evidente o grande impacto", pondera Luciana Vasconcelos Sardinha, responsável técnica da pesquisa.

Nos últimos dois anos, quase dois terços da população (64,7%) vivenciaram ondas de calor com temperaturas acima da média local. Um terço relatou secas persistentes (29,6%) e incêndios florestais com fumaça intensa que prejudicou atividades do cotidiano (29,2%).

Água suja, comida escassa

A desigualdade climática ficou ainda mais evidente quando se comparou os dados por grupos populacionais.

Enquanto 16,5% da população geral relatou piora na qualidade da água, entre as comunidades tradicionais esse número salta para 24,1%.

Na produção de alimentos, a diferença é igualmente alarmante: 21,4% das comunidades tradicionais enfrentaram problemas, contra 13,8% dos demais moradores.

"Os indicadores revelam a vulnerabilidade desses grupos, muitas vezes situados em áreas de risco climático e fortemente dependentes de recursos naturais para subsistência", explicou Luciana.

Quem mais preserva, mais se responsabiliza

Ao mesmo tempo, as comunidades tradicionais demonstram maior consciência ambiental e senso de responsabilidade frente à crise climática.

Sete em cada dez (70,1%) separam lixo para reciclagem, contra 59,2% da população geral. Mais da metade (55,7%) acredita que pode agir para ajudar a resolver o problema ambiental, enquanto entre os demais esse percentual cai para 39,8%.

O sentimento de culpa pelo desperdício de energia também é mais presente: 45,1% entre povos tradicionais, contra 33% na população geral.

Luciana destacou que por estarem mais expostos aos efeitos severos do clima, surge também uma maior consciência sobre suas consequências. "Isso acontece porque estes povos vivenciam transformações diretas em seus territórios e modos de vida", analisou.

Outro destaque é que nove em cada dez moradores da Amazônia Legal (88,4%) acreditam que as mudanças climáticas estão ocorrendo no Brasil e no mundo e 90,6% reconhecem que já estamos vivenciando um aquecimento global.

Além disso, quase quatro em cada dez (39,7%) conhecem alguém que já foi diretamente afetado,[grifar] percentual que sobe para 48,4% entre as comunidades tradicionais.

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