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Plano Clima não prevê afastamento de combustíveis fósseis e projeta redução da participação de fontes renováveis na matriz elétrica (Freepik)
Repórter de ESG
Publicado em 22 de outubro de 2025 às 18h00.
Última atualização em 22 de outubro de 2025 às 18h28.
Às vésperas da COP30, o Brasil chega com um Plano Clima robusto proposto pelo governo federal e com um roteiro para mitigação e adaptação das mudanças climáticas.
Mas será que estamos de fato no caminho da descarbonização? Um estudo inédito lançado pelo Instituto Talanoa nesta quarta-feira, 22, revelou que o conjunto de ações que tratam da produção e do consumo de energia vão nos levar a um aumento de até 14% das emissões de gases de efeito estufa até 2035.
A análise avaliou 41 áreas de políticas públicas relacionadas ao clima e identificou que o país avançou em 21 delas no ano passado, avançou pouco em 15, não avançou em 3 e retrocedeu em 2.
Além de não mencionar o afastamento dos combustíveis fósseis, os pesquisadores alertam que a expectativa é que as fontes renováveis como a solar e a eólica tenham participação menor do que a atual.
O acordo de transição energética firmado na declaração final da COP de Dubai, em 2023, segue sem cronograma definido nacionalmente, assim como nos demais países do mundo.
A matriz elétrica brasileira, hoje 88,2% limpa, deve recuar para 82,7% em 2030 e algo entre 82,7% e 86,1% em 2035, segundo as metas do Plano Clima. No Brasil, o petróleo ainda responde por 34% da oferta interna energética. Com o gás natural e o carvão mineral, as fontes poluentes representam 48,1%.
Entre os setores em que há maior pressão para continuidade ou aumento da queima de combustíveis fósseis estão a energia, indústria e transportes, que podem vir a aumentar suas emissões, respectivamente, em 44%, 34% e 16% até 2035.
Outra previsão é a de que a indústria brasileira passe a emitir mais e haja uma alta de 11% até 2030 e entre 13% e 34% até 2035, comparadas aos níveis de 2022.
Sem considerar o desmatamento, a agropecuária responde por mais de 30% das emissões brasileiras.
Apesar disso, o Talanoa destaca que o Plano Clima não inclui qualquer medida para enfrentar a maior fonte de emissões do setor: a fermentação entérica. Este processo digestivo do gado gera o metano, responsável por 65% dos gases de efeito estufa quase 20% do total emitido no Brasil.
No agronegócio, apenas 1,6% dos recursos totais do Plano Safra são destinados à produção mais alinhada aos compromissos assumidos pelo país na agenda climática.
O Programa RenovAgro, por exemplo, principal linha de investimento na chamada agricultura de baixa emissão de carbono, representou apenas 8% do total de recursos no período de 2025 a 2026.
A maior parte do esforço de mitigação previsto pelo Plano Clima está concentrada no combate ao desmatamento e na restauração florestal.
Entre as ações previstas, está a drástica redução da supressão de vegetação nativa em imóveis rurais, o que permitiria reduzir e capturar 1.084 Gt CO2e na meta mais ambiciosa para 2035.
Segundo o estudo, o custo de implementação dos compromissos climáticos dificilmente superará o valor que seria perdido pelo país caso não enfrente a crise climática.
O chamado "custo da inação" bate os R$ 17 trilhões no PIB brasileiro se o aumento da temperatura ultrapassar 4°C em relação aos níveis pré-industriais.
As estimativas mais recentes mostram que as mudanças climáticas já impactaram diretamente mais de 113 milhões de brasileiros na última década, em quase 5 mil municípios, causando danos a 1,7 milhão de moradias e prejuízos superiores a R$ 455 bilhões.
Pensando em driblar seus efeitos mais severos, a adaptação climática deve ser prioridade e os recursos do PAC são apontados como fonte importante no curto prazo.
"Percebemos que tanto para reduzir as emissões como para promover a adaptação, não é preciso apenas reforçar investimentos na transição, é urgente alinhar o gasto público ao desafio climático", destacou Marta Salomon, especialista sênior do Instituto Talanoa.
Por outro lado, a organização alerta que a maior fatia dentro do pilar de cidades sustentáveis do programa é destinada ao "Minha Casa Minha Vida", que não conta com critérios claros de análise de riscos climáticos e promoção de resiliência.
Outro destaque é que a prevenção de desastres, gestão de resíduos sólidos, esgotamento sanitário, mobilidade urbana e urbanização de favelas receberiam R$ 54,8 bilhões no total entre 2023 e 2026 – o equivalente a 18% dos investimentos previstos no mesmo período em petróleo e gás, que contribuem para o agravamento da crise do clima.