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Embora o investimento governamental ainda represente 97% dos recursos do setor, a velocidade de crescimento no setor privado chama atenção (Freepik)
Repórter de ESG
Publicado em 11 de junho de 2025 às 10h00.
Em meio à emergência climática, as soluções baseadas na natureza são alternativas eficientes para adaptar as cidades e mitigar os desastres cada vez mais frequentes e intensos.
Com foco em segurança hídrica, os investimentos nestas iniciativas duplicaram na última década e saltaram de US$ 22,4 bilhões em 2013 para US$ 49 bilhões em 2023.
Os dados fazem parte da análise mais abrangente já realizada sobre o tema, elaborada pela The Nature Conservancy (TNC) e Forest Trends, após examinar a destinação de recursos em 140 países ao longo de dez anos.
Estas soluções utilizam a natureza para resolver problemas relacionados à água, como a seca, inundações, poluição e gestão de recursos hídricos.
As intervenções incluem desde jardins de chuva, parques lineares, gestão de planícies aluviais até a restauração florestal e saneamento rural, medidas que funcionam como uma infraestrutura verde complementar aos sistemas tradicionais. O maior desafio atual é a adoção em escala.
O estudo analisou mais de 1.645 iniciativas individuais, identificando a mitigação do risco de inundações como o principal motivador para o financiamento no setor. A melhoria da qualidade da água aparece como segunda prioridade, impulsionando projetos de proteção e recuperação de florestas, pradarias, savanas e pantanais.
Uma das inovações é a proliferação de novos mecanismos de financiamento, incluindo fundos de água, conversões de dívidas e títulos verdes.
"Pela primeira vez em uma década, temos um conjunto de dados verdadeiramente global e abrangente que mostra como e onde os investimentos na natureza relacionados à água estão crescendo e por quê", disse Gena Gamie, diretora da iniciativa global de água da Forest Trends.
Outro dado mostra uma mudança profunda no perfil dos investidores. O setor privado apresentou crescimento explosivo de 30 vezes no período, enquanto os beneficiários diretos de serviços de bacias hidrográficas triplicaram seus recursos e as instituições multilaterais aumentaram participação em dez vezes.
Embora o investimento governamental ainda represente 97% dos recursos do setor, a velocidade de crescimento no setor privado chama atenção. Mesmo durante a pandemia de Covid-19, o interesse por essas soluções não retrocedeu. Segundo a TNC, isto demonstra a crescente confiança na capacidade da natureza de enfrentar desafios climáticos e hídricos.
Daniel Shemie, diretor global de resiliência da água doce da TNC, destacou a importância da tendência.
"À medida que a crise climática e da biodiversidade avança, é fantástico ver os gastos públicos e privados reconhecerem o poder natural para salvaguardar os suprimentos de água potável e reduzir o impacto dos desastres naturais", disse.
Apesar de China, União Europeia e Estados Unidos concentrarem 94% dos investimentos totais entre 2013 e 2023, a África emergiu como a região de crescimento mais acelerado. O continente passou de US$ 57 milhões em 2013 para US$ 288 milhões em 2023, com concentração na região ocidental.
A China lidera isoladamente o ranking, tendo destinado US$ 26 bilhões ao setor em 2023 –- mais que todo o resto do mundo somado. O estudo ressalta que o volume reflete décadas de evolução em políticas públicas após crises ambientais significativas nos anos 1990.
Na Europa, os investimentos mais que dobraram entre 2016 e 2023, saltando de US$ 4,7 bilhões para US$ 10,8 bilhões. O Fundo Europeu Agrícola (US$ 5,7 bilhões) e o Fundo de Desenvolvimento Regional (US$ 124 milhões) respondem por mais da metade dos recursos.
Já a América Latina e Caribe registraram crescimento de 2,6 vezes desde 2016, atingindo US$ 390 milhões no período. A região se destaca pela forte participação de financiamento multilateral e externo, que representaram 53% do total, incluindo US$ 160 milhões em apoio direto e US$ 42 milhões em empréstimos para programas de incentivos a proprietários de terras.
O Brasil possui potencial estratégico significativo no setor, especialmente em revitalização de bacias hidrográficas e saneamento básico, segundo o estudo.
A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) estima que ao menos R$ 500 bilhões serão investidos para universalizar o acesso à água potável no país nos próximos 15 anos.
Samuel Barrêto, da TNC Brasil, vê uma oportunidade clara: "Destinar uma pequena fração desse montante a estas soluções fortaleceria e complementaria a resiliência hídrica, garantindo abastecimento de água para a população, assim como os benefícios sociais e a manutenção das atividades produtivas decorrentes dos investimentos."
O Brasil já conta com iniciativas em curso. É o caso do Fundo de Água de São Paulo, que conservou e restaurou quase 23 mil hectares em três bacias hidrográficas. Com valores superiores a R$ 29 milhões, o projeto demonstra como a integração entre infraestrutura verde pode atender às necessidades hídricas de uma metrópole com mais de 20 milhões de habitantes.
O crescimento acelerado dos investimentos orientados pelos usuários – financiados por beneficiários diretos como serviços públicos, cidades e empresas – sinaliza uma mudança estrutural no setor. Para os pesquisadores, a tendência sugere maior sustentabilidade financeira das iniciativas, visto que os próprios beneficiários passam a custear as soluções.