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Mohamed Parrini Mutlaq, CEO do Hospital Moinhos de Vento: "Em 30 anos, não quero apenas que o Moinhos seja o maior hospital do Sul, mas um exemplo de como é possível crescer gerando impacto positivo"
Repórter de ESG
Publicado em 7 de maio de 2025 às 12h11.
Última atualização em 7 de maio de 2025 às 16h29.
"Quando você se torna um líder da sociedade, você precisa fazer a transformação e ter uma certa ousadia, seja você uma pessoa política, empresário ou formador de opinião", disse em entrevista exclusiva à EXAME, Mohamed Parrini Mutlaq, CEO do Hospital Moinhos de Vento, e eleito como um dos 100 mais influentes do setor de saúde na última década.
À frente da instituição filantrópica gaúcha desde 2016, o executivo aposta na liderança nacional e vem colhendo os frutos: o hospital quase centenário é hoje um dos 120 melhores do mundo e está entre os "Top 5" da América Latina, segundo a revista Newsweek.
No topo da lista brasileira, fica atrás apenas de três referências consagradas na capital paulista. "Eu vim para Porto Alegre e percebi o terreno que tínhamos para explorar e fazer algo relevante. Eu não gostava da ideia do setor estar concentrado em São Paulo", disse Mohamed, com a ousadia de não liderar apenas para ser uma referência em cuidados médicos, mas também um agente de mudança social e ambiental.
Em 2025, os investimentos devem superar R$ 300 milhões e a instituição planeja novas sedes físicas no Sul do Brasil -- ainda em fase de negociação, contou o CEO em primeira mão. Mas toda expansão, vem com um maior impacto ambiental.
E nessa jornada, o Moinhos de Vento também quer ser referência em transformação e propagação do seu legado positivo.
"Imagina só, nós quadriculamos de tamanho, são quase 530 leitos. Isso tudo gera mais elevadores, mais logística, mais relacionamento, mais resíduos", explicou Mohamed.
Nos últimos 8 anos, a instituição segue um projeto estratégico ambiental no qual não apenas levanta a bandeira da resiliência climática, como também estabelece uma série de ações estruturantes com investimentos para minimizar seus impactos. Até 2027, a meta é se tornar carbono neutro.
Segundo o CEO, há também uma enorme responsabilidade social: na geração de empregos, no desenvolvimento científico da cidade e empreendedorismo.
"O nosso papel mais lógico é ser sustentável financeiramente. Porque se você não sobreviver, não é possível vencer estrategicamente, economicamente e socialmente", destacou.
Como instituição filantrópica, há o reinvestimento dos lucros em projetos sociais. Atualmente, são cerca de R$ 100 milhões por ano, disse Mohamed. "O dinheiro que eu ganho, paga as contas e se sobrar alguma coisa, eu devolvo para a sociedade", afirmou o executivo.
Para Mohamed, a maior força do Moinhos é a influência com a sociedade civil e na cadeia de mais de 50 mil funcionários e fornecedores. Ao mesmo tempo, é o maior desafio.
"É mais difícil fazer dentro do que fora, mas você tem o poder de influenciar. Você força os competidores, os outros hospitais, a fazerem o mesmo e também gerar impacto positivo. Essa é a atividade fim de uma instituição", frisou.
Desde 2020, o Hospital Moinhos de Vento implementou ações concretas na redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Um dos marcos mais significativos foi zerar completamente as emissões do escopo 2, eliminando cerca de 2 mil toneladas de CO2 equivalente anualmente através da migração para energia 100% renovável no mercado livre.
Desde janeiro de 2016, 99,42% da energia consumida pela instituição vem de fonte eólica do Campo Largo na Bahia, enquanto 0,58%, utilizada nas áreas administrativas, é gerada por energia solar.
Esta transição energética já resultou em uma economia de R$ 30 milhões em contas de energia ao longo de oito anos.
O compromisso estende-se também a outras iniciativas. O Projeto Certidão da Vida, lançado em julho de 2023, promove o plantio de árvores nativas para cada recém-nascido no hospital.
"Estamos plantando 4 mil árvores por ano com nossos fornecedores parceiros adotando e apoiando", afirmou o CEO. Até agosto de 2024, já foram plantadas 6.800 árvores, neutralizando cerca de 30% das emissões anuais da instituição.
Em uma iniciativa pioneira, o Moinhos de Vento também foi o primeiro hospital do Brasil a construir, dentro de sua área, uma Central de Transformação de Resíduos. O "programa Reciclagem Transformadora", implementado em janeiro de 2017, garante que todo o lixo produzido seja reciclado ou reaproveitado.
Ao todo, são mais de 30 toneladas mensais de materiais incinerados, totalizando aproximadamente 3.240 toneladas desde sua implementação. Apostando na economia circular, os restos de alimentos são transformados em adubo para a estufa agrícola, o plástico e papel são convertidos em sacos de lixo e papel higiênico e o TNT dá vida a aventais e sacolas ecológicas.
Segundo Mohamed, não foram gastos nem cinco milhões com a usina e hoje há uma economia de mais de um milhão e meio por ano. Em vez de mandar para terceiros, é feita a incineração em casa e a economia financeira é significativa.
"Hoje não precisamos nem justificar que devemos avançar na pauta ambiental, porque isso é bom para os negócios", explicou.
O hospital também tem investido em soluções tecnológicas e inovações que ampliam o acesso à saúde. Entre as iniciativas mais recentes está o "Aplicativo Mais Moinhos", que centraliza agendamentos, resultados de exames e receituários digitais. A jornada digital permite que familiares acompanhem o status de pacientes internados em tempo real via aplicativo.
Outro destaque é o projeto Telenordeste, de telessaúde, que leva atendimento especializado a populações vulneráveis no Nordeste brasileiro, através de uma parceria com o Ministério da Saúde. O objetivo é combinar tecnologia, assistência qualificada e educação permanente para profissionais locais, ampliando o acesso em regiões remotas. Em telemedicina, o Moinhos é precursor no Brasil.
"Eu não quero estar preso nas paredes do hospital. Em 30 anos, quero ter 50% da minha receita fora. Os pacientes estarão sendo monitorados em outras instituições, de menor complexidade ou dentro da própria casa", destacou Mohamed.
Um projeto pioneiro do Moinhos ganha holofote neste ano, voltado para a formação de profissionais em saúde indígena.
Lançado em 2024, o foco é capacitar cerca de 2.500 Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN) e técnicos em saneamento nos 34 distritos sanitários especiais indígenas do Brasil.Com investimento de R$ 10,3 milhões via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), a iniciativa visa combater problemas que afetaram mais de 130 mil indígenas nos últimos seis anos devido ao saneamento inadequado.
"É inédito, tanto em temática quanto em abrangência. Nosso desafio é chegar ao máximo de aldeias possíveis, trabalhando de forma que a interculturalidade seja transversal a todo o curso, disse Ana Paula Tussi, supervisora do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade do hospital.
Para os próximos anos, o hospital prevê avanços no monitoramento de pegada de carbono, aprimoramento do inventário de emissões e novas estratégias de mitigação e adaptação climática.
Entre as ações planejadas estão a redução do uso de óxido nitroso nas cirurgias, melhoria na eficiência de equipamentos de refrigeração, redução do uso de óleo diesel para geradores e do consumo de gás natural nas caldeiras.
"O que deixamos para trás é o que importa. No final, vamos todos embora e nossos títulos não vão ficar. Em 30 anos, não quero apenas que o Moinhos seja o maior hospital do Sul, mas um exemplo de como é possível crescer gerando impacto positivo. Nosso compromisso é com o futuro", concluiu o CEO.